Que a nova geração está
mudando a forma como nos relacionamos com o mundo, nós já sabemos, mas essa
“safra” de jovens está transformando, também, o mercado de trabalho. E, não
apenas no sentido de buscar ambientes mais informais e flexíveis, ela está
redefinindo o que sabíamos sobre carreira.
São pessoas que cresceram na era da Internet e
que se encantam cada vez mais com os mantras “quero ser meu próprio patrão” ou
“crie uma startup de sucesso”. A inspiração, é claro, vem dos tempos atuais, em
que empresas como o Facebook, que é comandada por um jovem de 33 anos, Google,
o Uber, Netflix, Airbnb e Spotify são exemplo de negócios empreendedores que
deram certo.
As profissões tradicionais até podem seguir em
pauta - mesmo porque muita gente ainda quer ser engenheiro, por exemplo, mas,
aos poucos, o empreendedorismo começa a ganhar mais e mais espaço. Agora,
surgem algumas perguntas: o ato de empreender pode ser considerado uma
carreira? Como estar preparado para seguir essa opção? Terei que responder em
etapas – Sim! Claro que é um caminho profissional, porém, que exigirá conhecimentos
específicos para fazer isso dar certo - não só para abrir o negócio, mas para
mantê-lo funcionando!
A cultura empreendedora é algo mais recente por
aqui, no Brasil, e foi impulsionada, principalmente, pela crise econômica, que
deixou milhares de pessoas sem um emprego formal e “obrigou” muitos a se
aventurarem por conta própria. Entretanto, quem quer seguir uma carreira
autônoma, dificilmente encontra em uma faculdade tradicional, a instituição que
vai prepará-lo para isso.
Se analisarmos o conteúdo do que é lecionado em
uma dúzia de universidades, vamos nos surpreender ao perceber que a maioria dos
cursos de graduação brasileiros forma estudantes para seguirem trajetórias em
empresas ou investir na carreira acadêmica. O tema empreendedorismo, quando muito,
é tratando em atividades extracurriculares.
O problema da falta de preparo é que muita gente
abre um negócio sem ter nenhuma noção de gestão e, aí, a chance de uma parcela
grande terminar dentro da estatística do Sebrae - que diz que a taxa de
mortalidade nas microempresas é de 45% nos dois primeiros anos de existência
- é gigante.
Hoje, pouquíssimas instituições consideram a
possibilidade dos seus alunos partirem para a carreira de empreendedorismo
quando terminarem os seus cursos. A grande deficiência do ensino superior é
justamente essa defasagem no conteúdo programático diante de novos tempos.
Por exemplo, no curso de odontologia, ter aulas
sobre noções básicas de administração e fluxo de caixa, poderia ajudar muito o
futuro dentista que vai abrir o seu consultório. Mas, infelizmente, ele só vai
aprender tudo isso na prática, errando e, quem sabe, até falindo.
Se o empreendedorismo fosse considerado realmente
uma alternativa profissional, aulas que tratem de assuntos essenciais para a
sobrevivência de uma empresa seriam parte do grade curricular de todos cursos.
Disciplinas que preparam para lidar com gestão de pessoas, contabilidade,
obrigações fiscais e por aí vai, seriam no mínimo, parte opcional do currículo.
Com tanta gente empreendendo, é necessário
mostrar para a nova geração que esse caminho é uma opção de carreira sim, mas
que sem os conhecimentos essenciais, ela não vai decolar.
Eros
Jantsch - vice-presidente de Micro e Pequenos Negócios da TOTVS.
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