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quarta-feira, 18 de maio de 2016

Mutirão carcerário revela que 84% das pessoas presas não puderam ler documentos assinados em delegacia




Publicação apresenta dados coletados em projeto realizado pelo IDDD no Centro de Detenção Provisória I de Guarulhos em 2015, com apoio do Fundo Brasil

Em levantamento realizado pelo Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD), mais de 84% das pessoas presas em flagrante na capital paulista e encaminhadas ao Centro de Detenção Provisória I de Guarulhos afirmam não ter podido ler os documentos que assinaram na delegacia, de modo que não tiveram acesso a seu conteúdo. 

Essa é uma das importantes informações apresentadas no relatório do projeto Liberdade em Foco do IDDD, realizado com apoio do Fundo Brasil de Direitos Humanos, por meio da linha especial Justiça Criminal promovida em parceria com a OAK Foundation. 

O relatório evidencia também a alarmante falta de informações no momento da lavratura do auto de prisão em flagrante: 80% disseram não ter sido informados sobre o direito a permanecer em silêncio, mais de 77% afirmaram não ter sido indicada a possibilidade de entrar em contato com familiares e cerca de 78% disseram não ter sido avisados sobre seu direito a um advogado. Os referidos dados geram ainda mais preocupação quando observado o fato de que em todos os boletins de ocorrência constava a informação de que os direitos assegurados às pessoas presas foram informados no momento da prisão. 

Além disso, 20% dos atendidos ainda afirmaram não saber por qual crime haviam sido presos e, dos 80% restantes que disseram ter conhecimento do delito pelo qual estavam sendo acusados, apenas 60% efetivamente sabiam de qual crime tratava a acusação. “O desconhecimento sobre os elementos que envolvem essas prisões evidencia o total descaso das autoridades policiais com os direitos assegurados pela Constituição Federal às pessoas presas. A aplicação da Lei 13.245/2016, sancionada em janeiro, que torna obrigatória a presença do advogado na fase de inquérito policial, pode começar a contribuir para solucionar parte desse problema”, comenta Fábio Tofic Simantob, Vice-Presidente do IDDD e Diretor responsável pelo projeto;

Perfil dos presos
A análise do perfil da população carcerária atendida apresentou resultados que reafirmam o caráter seletivo do sistema penal e condizem com outros levantamentos já realizados. O perfil socioeconômico observado mostra uma população composta majoritariamente por jovens (mais de 57% com idade entre 18 e 24 anos), negros (66%) e pobres (cerca de 42% com renda entre um e um salário mínimo e meio), com baixa escolaridade (46% cursaram até o ensino secundário), em sua maioria sem antecedentes criminais (58,3%).

Sobre o Liberdade em Foco 
De janeiro a julho de 2015, o projeto Liberdade em Foco promoveu um mutirão carcerário no Centro de Detenção Provisória I da cidade de Guarulhos, com o objetivo de elaborar pedidos de revogação da prisão preventiva ou, subsidiariamente, de aplicação de medidas cautelares alternativas ao cárcere para presos que não possuíam advogado particular. No total, 485 presos foram atendidos por 67 advogados voluntários associados ao IDDD, que impetraram mais de 250 habeas corpus em favor dos acusados, além de pleitearem outros tantos pedidos de liberdade provisória. 

Sobre o IDDD
O Instituto de Defesa do Direito de Defesa (IDDD) é uma organização da sociedade civil de interesse público, fundada em julho de 2000, que conta com cerca de 350 advogados associados que trabalham pelo fortalecimento do direito de defesa, difundindo a ideia de que todos têm direito a uma defesa de qualidade, à observância do princípio da presunção da inocência, ao pleno acesso à Justiça, a um processo justo e a cumprir sua pena de forma digna. Tudo isso independentemente da classe social, de ser culpado ou inocente, ou do crime pelo qual está sendo acusado. Por isso, os projetos do IDDD buscam destacar os riscos da violação do direito de defesa e a importância dessa garantia constitucional para a formação de uma sociedade mais fraterna, tolerante e menos violenta. 

Sobre o Fundo Brasil
O objetivo do Fundo Brasil de Direitos Humanos é promover os direitos humanos e sensibilizar a sociedade para que apoie iniciativas capazes de gerar novos caminhos e mudanças significativas para o país. 
A fundação disponibiliza recursos para o apoio institucional e para atividades de organizações da sociedade civil e de defensores de direitos humanos em todo o território nacional.
O Fundo Brasil completa dez anos de atuação em dezembro. Nesse período, já destinou R$ 11,7 milhões a cerca de 300 projetos em todas as regiões do país. 
Além da doação de recursos, os projetos selecionados são apoiados por meio de atividades de formação e visitas de monitoramento. 
As informações sobre como apresentar propostas e os critérios de seleção dos editais estão disponíveis no site do Fundo Brasil. 

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