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terça-feira, 3 de maio de 2016

Feminismos, sororidades e empoderamento





Simone de Beauvoir disse a célebre frase: “Não se nasce mulher, torna-se”. Tornar-se, aqui, leia-se como o empoderamento de si e de suas capacidades individuais. Empoderar-se é o ato de transgredir e se superar. É não viver atrelada a padrões, normas e opressões. É mais do que um grito de liberdade, mas a ação de questionar e reivindicar. Não submeter-se a imposições e arbitrariedades. É a sensação de pertencimento de si. Tornar-se mulher é um ato político e um posicionamento social, que não se restringe ao enquadramento de papéis sociais ou funções específicas.

Acontece que, nesse processo de ser, esbarramos com resistências, bloqueios, censores e repressões que tendem a enquadrar tudo aquilo que não pode ser contido e que precisa expandir-se. Para isso, os mecanismos de contenção são opressores e lógico, violentos, porque, são as marcas desta violência que aos poucos calam, silenciam e tornam o ser invisível. Este é o retrato da vida de mulheres que tiverem e, infelizmente, têm seus direitos, lugares, valores e reconhecimento desmerecidos por causa do sistema patriarcal e do machismo.

Debater sobre gênero tem se tornado cada vez mais difícil, uma vez que as repressões sociais transferiram para a palavra toda a carga de distorções, deturpando não só o significado, como criando confusões nas pessoas para enfraquecer os diálogos, conhecimento e leituras sobre o tema. São os enquadramentos que fortalecem os discursos de ódio.

De fato, não se nasce mulher, porque, para tal, é necessária desconstruções, ou seja, a mulher precisa romper com inúmeros impedimentos, preconceitos e violências, seja ao seu corpo generificado, exotificado e “coisificado” ou ao seu direto de ser e fazer aquilo que quiser. 

Violência que remonta séculos de sofrimentos, sujeição, abusos. Séculos de indiferença e restrições. Anos de violações. E ao homem, o que fica? Repressões sociais e sexuais? Sim. Também. A grande diferença é que o homem, enquanto gênero masculino é sustentado por este patriarcado, muito embora os próprios homens sejam alvos deste sistema, também. Os discursos existentes de diferenciação atuam para reforçar as normas, desigualdades, ressentimentos e manter certos privilégios. O feminismo questiona: Afinal, qual o machismo que não nos atinge?

São nessas reflexões dissidentes de gênero que o feminismo surge, tal qual muitas outras correntes filosóficas e culturais, que questiona os padrões e coloca em xeque a heteronormatividade e uma heterossexualidade compulsória. E o feminismo é muito amplo para levantar-se como uma voz solitária. 

Reconhecer o feminismo é não compará-lo e muito menos, confundi-lo ao machismo. Feminismo é a oposição ao machismo. O machismo constitui-se em práticas de opressão e violência, em que a mulher é subalterna ao homem. O feminismo não prega a subalternidade, mas a equidade entre mulheres e homens. 

Prefiro sempre tratar o feminismo no plural, feminismos. Isso porque, existem perspectivas diferentes e diferentes mulheres. Realidades diferentes. Por exemplo, a realidade da mulher branca é muito diferente da negra, que é diferente da vivida pela indígena e que possui outro contexto das transexuais e que, por sua vez, estão numa vivência diferente das mulçumanas e assim por diante. Percebem?  O feminismo plurifica as mulheres, enquanto o machismo torna homens frutos do mesmo lugar. 

Os feminismos também ajudam homens a se libertarem desse patriarcado e de um sistema político que violenta todos. Entretanto, as heranças do machismo são tão enraizadas e disseminadas na sociedade, que devemos lutar para não sucumbirmos a elas.

A palavra sororidade tem origem no latim sororis (irmã) e idad, e diz respeito a um pacto entre mulheres que são reconhecidas entre si como “irmãs” e no qual essa irmandade une-se por questões éticas, morais, movimentos sociais e, sobretudo, posicionamentos políticos. Se, por um lado, a sororidade é um movimento de apoio e união entre as mulheres a fim de desnaturalizar as opressões vividas por elas e descolonizar-se do sistema patriarcal, não deve ser usado como ideologia de silenciamento ou igualar todas. Ter sororidade não coloca as mulheres num único lugar, pois existem divergências de opiniões e pluralidades que devem ser acolhidas. Sororidade não deve afastar ou silenciar vozes que emergem.

E, assim, cada um pegue seu machismo e reveja, reformule, repense o patriarcado e os as questões sociais que perpetuam o sexismo. Homens muitos reféns do patriarcado deveriam refutar o androcentrismo, até por que, através dele nos alienamos. Diante do feminismo e sua representatividade, as mulheres possuem o protagonismo, enquanto os homens deveriam aprender a desconstruir o machismo, sem interferir. 



Breno Rosostolato - psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina (FASM).

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