Mais de 41% dos pacientes de NMO
tiveram um diagnóstico inicial incorreto de esclerose múltipla1. Sintomas
semelhantes dificultam o processo.
A neuromielite óptica
(NMO) é uma doença autoimune rara e debilitante
causada por ataques graves e recorrentes do sistema nervoso central (SNC),
que podem resultar em cegueira, paralisia e morte2. As consequências
da doença vão além do impacto clínico e incluem impactos físicos, funcionais e
psicológicos aos indivíduos, que normalmente apresentam também um quadro de
ansiedade e depressão3. Logo, é importante aumentar o conhecimento
sobre a NMO e seus sinais, o que pode reduzir tempo de diagnóstico e de início
do tratamento multidisciplinar, garantindo mais qualidade de vida para o
paciente.
Sintomas
semelhantes aos de outras doenças mais comuns
podem dificultar o diagnóstico da NMO. Pacientes indicam que
mais de 41% deles tiveram um diagnóstico inicial incorreto de esclerose
múltipla (EM). “Isto acontece porque os primeiros sinais e
sintomas são parecidos. Entre os principais, estão a perda temporária da visão,
com inchaço do disco óptico e a dor nos olhos, que geralmente piora com o
movimento. Além de sensações alteradas, com dormência e formigamento, membros
fracos e pesados, às vezes levando à paralisia total, e alterações nos padrões
de micção e de defecação”, explica o neurologista e neurofisiologista, Dr.
Jefferson Becker.
Vômitos e soluços intratáveis que duram
mais de 48h sem causa gástrica também podem ser sintomas de NMO. Quando não
detectada e tratada corretamente, a enfermidade pode causar
cegueira permanente. “Para o diagnóstico, podem ser solicitados exames de
sangue, com testes para o anticorpo anti aquaporina 4 -- IgG, antes conhecido
como teste NMO-IgG; punção lombar, não é estritamente recomendado, mas é
utilizada para diferenciar de EM e pode apresentar níveis elevados de glóbulos
brancos e a presença de proteínas específicas ligadas à doença e/ou ressonância
magnética, que mostrará alterações associadas à neurite óptica e/ou lesões
extensas da medula espinhal em três ou mais segmentos”, considera.
Embora a manifestação clínica da NMO
possa assemelhar-se à EM, o autoanticorpo sérico específico da neuromielite
óptica (AQP4-IgG) pode ser detectado em até 80% dos pacientes,
confirmando a condição como algo diferente, em termos clínicos, da esclerose
múltipla.4 Diagnósticos diferenciados dessas doenças são
importantes, pois os tratamentos para a esclerose múltipla podem ser ineficazes5
ou até agravar a condição do indivíduo com neuromielite óptica.
As duas são doenças inflamatórias,
desmielinizantes e autoimunes, predominantemente recorrentes com sintomas
agudos, com momentos de estabilidade depois dos surtos. Assim, é fundamental a
conscientização médica e de outros profissionais da saúde para que estejam
capacitados a diferenciar essas enfermidades e fazer os encaminhamentos
adequados para um tratamento com eficácia durável e seguro, que possam diminuir
a frequência dos ataques, retardar a progressão da incapacidade e melhorar a
qualidade de vida.
“Embora semelhantes, ambas patologias
têm também suas diferenças. As lesões da medula são distintas: as da esclerose
múltipla tendem a ser pequenas e em regiões menores, enquanto na NMO são lesões
longas e extensas, nada típicas de EM. Além disso, é mais comum ter
neuromielite óptica nos dois olhos ao mesmo tempo, diferentemente do que
acontece na outra doença”, explica Dr Becker.
Estar atento e procurar um neurologista
ou oftalmologista assim que os primeiros sintomas se manifestarem é essencial,
principalmente para evitar as recidivas dos surtos, que podem levar à perda da
visão ou à paraplegia.
Referências
[1] Beekman J, et al. Neuroyelitis optica spectrum disorder:
patient experience and quality of life. Neurol Neuroimmunol Neuroinflamm.
2019;6(4)
[2]Ajmera MR, et al. Evaluation of comorbidities and health
care resource use among patients with highly active neuromyelitis optica. J
Neurol Sci. 2018; 384: 96-103]
[3] Eaneff S, et al. Patient perspectives on neuromyelitis
optica spectrum disorders: data from the PatientsLikeMe online community. Mult
Scler Relat Disord. 2017;17:116-122
[4] Rogaczewska, M., Michalak, S. & Stopa, M.
Differentiation between multiple sclerosis and neuromyelitis optica spectrum
disorder using optical coherence tomography angiography. Sci Rep 11, 10697
(2021). DOI.
[5] Wingerchuk DM, et al. International consensus diagnostic
criteria for neuromyelitis optica spectrum disorders. Neurol.
2015;85(2):177-189
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