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quarta-feira, 26 de maio de 2021

Maior cheia da história do Rio Negro alaga cidades e afeta mais de 400 mil pessoas

Chuvas acima do normal levaram o rio a se aproximar do maior nível já medido em 120 anos;


números mostram que cheias extremas são cada vez mais frequentes e especialistas dizem que agressões ao ambiente vão piorar o quadro

 

O Rio Negro está prestes a alcançar a maior cheia já registrada na história. De acordo com projeções de especialistas, nos próximos dias o nível das águas baterá o recorde de 2012, ano da cheia mais extrema desde que o comportamento do rio começou a ser monitorado, há 119 anos. Chuvas de intensidade muito acima do normal atingiram toda a Bacia do Rio Negro nesta temporada, contribuindo para que as águas subissem mais rapidamente - e muito mais cedo, em comparação a outros anos. 

As consequências sociais e econômicas têm sido graves para as populações de diversas localidades do Amazonas, que ainda vêm sofrendo os impactos da pandemia de Covid-19 de forma especialmente severa. Na capital, Manaus, as inundações atingiram diversos bairros e áreas do centro, incluindo pontos históricos, como a Praça do Relógio e o prédio da Alfândega, e áreas comerciais como a Feira Manaus Moderna. 

Em 21 de maio, o nível do rio chegou a 29,84 metros - a segunda maior marca da História, a apenas 13 centímetros do recorde de 2012. Naquele dia, 58 dos 62 municípios amazonenses já estavam alagados e 20 estavam em situação de emergência – incluindo a capital. De acordo com dados da Defesa Civil, mais de 414 mil pessoas já haviam sido afetadas. 

Embora o aumento do nível das águas seja um processo natural nas bacias dos grandes rios, os números mostram que as cheias extremas estão ficando cada vez mais frequentes na Amazônia. Especialistas alertam que pressões ambientais, como o aquecimento global e o desmatamento em larga escala, tornarão ainda mais comuns esses eventos climáticos extremos. 

As cheias acima do esperado têm sido mais constantes na bacia Rio Negro, destaca o meteorologista Renato Senna, do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (Censipam). "Analisando toda a série histórica, vemos que o intervalo entre os eventos de cheia extrema são cada vez menores", frisa. 

Os registros de quase 120 anos do nível da água no porto de Manaus - onde o Instituto Geológico (CPRM) faz as medições -, mostram que, das dez maiores cheias, oito ocorreram nos últimos 45 anos, sendo seis delas a partir de 2009. Essas cheias extremas, segundo Senna, estão sempre associadas a chuvas mais fortes que o normal. "Fizemos um levantamento das maiores cheias de 1970 em diante e constatamos que elas coincidiam com grandes anomalias nas chuvas observadas na Bacia do Rio Negro. Nos últimos anos, temos visto um aumento de frequência desse processo como um todo", afirma. 

Senna explica que a subida anual do rio varia normalmente entre 16 e 29 metros no porto de Manaus.  "O grande problema é que as chuvas nessa época do ano - entre o fim de maio e começo de junho - caem em forma de pancadas fortes, muito concentradas. No caso de Manaus, como muitos igarapés foram transformados ou enterrados (devido à expansão urbana), essas águas se concentram nas partes baixas da cidade, provocando inundações." 

Senna afirma que a anomalia nas chuvas não abrange toda a Bacia Amazônica da mesma forma. Ela se concentra na parte da Amazônia ocidental e em parte da Colômbia, onde se formam os rios Negro e Solimões, que se juntam na região de Manaus, formando o rio Amazonas. "O Rio Madeira, que também faz parte da Bacia Amazônica, não está sendo tão afetado. Mesmo o Rio Solimões não foi tão afetado neste ano como o Rio Negro.  Os rios Juruá e Purus, da bacia do Solimões, porém, foram muito afetados. Já na Amazônia oriental, incluindo o Pará, parte do Tocantins e do Maranhão, estamos com chuvas abaixo do normal", afirma Senna.


Mudanças climáticas. De acordo com Senna, o que se pode afirmar com certeza é que o aumento das chuvas tem relação com o resfriamento das águas do Oceano Pacífico produzido neste ano pelo fenômeno La Ninã. "Tanto no Pacífico como no Atlântico, tivemos uma redução de meio grau centígrado na superfície do mar em relação ao ano anterior. Essa variação da temperatura sobre o oceano é um dos principais fatores que determinam as chuvas na Amazônia. Entretanto, La Niña é um fenômeno natural que já existia antes da revolução industrial - e por isso é temerário associar essas cheias diretamente à crise climática", diz. 

Mas Senna complementa: "É muito difícil afirmar que esses fenômenos são produzidos por mudanças climáticas causadas pelo homem, embora alguns pesquisadores digam isso categoricamente. Por outro lado, também não há provas que nos permitam negar essa relação.” 

O aumento da frequência das cheias anômalas na Amazônia ocidental, no entanto, é coerente com as previsões dos climatologistas de mais de 100 países que compõem o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, da sigla em inglês), que atribuem a maior frequência e intensidade dos fenômenos extremos ao aquecimento global. 

O físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), destaca que “há indícios suficientes para associar o fenômeno no Rio Negro às mudanças climáticas globais. A atual cheia recorde do Rio Negro é fruto do aumento dos eventos climáticos extremos que temos observado na Amazônia, causado pelo aquecimento global. O número de secas seguidas - em 2005, 2010 e 2015 - e o número de cheias extremas como essa de 2021 não param de aumentar", diz Artaxo, que também é membro do IPCC. 

As secas exacerbadas pelas mudanças climáticas têm favorecido o agravamento das queimadas na Amazônia. Por outro lado, o cientista salienta que as cheias cada vez mais frequentes são um exemplo dos fenômenos extremos na Amazônia que têm impactos alarmantes em diversas partes do país, afetando fortemente outros biomas e a economia. 

"Esses recordes de cheias cada vez mais frequentes mostram claramente os impactos das mudanças climáticas na Amazônia. Em uma floresta que depende, para seu funcionamento básico, de temperaturas e chuvas constantes, isso é muito preocupante. Esses extremos podem comprometer a saúde da floresta e os serviços ecossistêmicos que ela realiza para o nosso país, e em particular para a agricultura no Cerrado e no Brasil central", afirma.

 

Pode piorar. Os especialistas ouvidos pela reportagem concordam que esses fenômenos vão se tornar mais frequentes e severos se a floresta continuar sendo desmatada e queimada e se os processos de mudança do uso do solo, como a transformação de áreas naturais em pastos, avançar por regiões ainda preservadas da Amazônia. 

"No caso dos rios Negro e Solimões, a floresta na região de suas cabeceiras está bastante preservada e não podemos relacionar essas cheias com o desmatamento. Mas não há dúvida de que um aumento do desmatamento em larga escala iria agravar ainda mais esses eventos", diz o pesquisador Jochen Schöngart, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). 

Segundo Schöngart, diversos estudos mostram que o desmatamento em larga escala pode modificar os regimes hidrológicos, especialmente em bacias menores. No rio Tocantins, por exemplo, cientistas compararam as cheias de dois períodos: quando o desmatamento era limitado e após o desmatamento em larga escala. Os resultados mostraram que, embora a quantidade de chuvas fosse semelhante nos dois períodos, após o desmatamento o nível máximo de cheias foi 28% maior e o pico das cheias foi antecipado. 

"Isso acontece porque, após o desmatamento em larga escala, a água não é mais absorvida pelo solo, nem volta para a atmosfera pela respiração da floresta. Assim, temos uma quantidade maior de água voltando ao leito do rio", explica Schöngart. 

Com um grupo de cientistas brasileiros, chilenos e britânicos, Schöngart publicou em 2018, na revista Science Advances, um estudo que procurou desvendar os mecanismos por trás do aumento de cheias extremas. "A análise dos 119 anos de registros constatou, em primeiro lugar, que há um inequívoco aumento desses fenômenos. Nos primeiros 70 anos dos registros, esses eventos tinham, na média, o tempo de retorno de 20 anos. Nas últimas décadas, esse tempo médio de retorno é de apenas quatro anos - e, aparentemente, continua diminuindo", diz.

 

Mecanismo complexo. De acordo com Schöngart, o mecanismo por trás disso é extremamente complexo, com variações entre interanuais e interdecadais influenciando todo o regime de chuvas. E, por isso, é tão difícil descartar a hipótese de que se trate de um fenômeno natural. "Sabemos que o principal elemento no regime de chuvas sobre a Amazônia são as oscilações climáticas provenientes dos oceanos ao redor - do Pacífico equatorial, na forma de eventos como El Niño e La Niña, mas também do Atlântico tropical", afirma. 

Segundo o estudo de 2018, no período entre 1990 e 2015, o Atlântico tropical teve um forte aquecimento de suas águas superficiais, produzindo muita evaporação. Os ventos alísios levam essa massa úmida para dentro da Amazônia, especialmente na época de chuvas, o que resulta no aumento das cheias. 

"Como o Atlântico tropical estava aquecido e o Pacífico equatorial esfriou, por causa de diferenças na pressão atmosférica sobre os dois oceanos, essas alterações levaram a uma maior convecção (processo de formação de nuvens por meio da transferência de calor da superfície para a atmosfera) na Amazônia. Podemos, no entanto, associar essa dinâmica a uma variabilidade natural, porque a cada três ou quatro décadas temos uma combinação com essa oscilação decadal, que é mais frequente no Pacífico e mais prolongada no Atlântico", explica Schöngart. 

Por outro lado, pelo menos um componente desse processo pode ser associado aos impactos causados pelo ser humano no clima, conforme o pesquisador. "O cinturão de ventos do Hemisfério Sul entrou mais em direção à Antártica nas últimas décadas, o que provavelmente está relacionado ao buraco na camada de ozônio naquele continente. Com essa mudança, o ar quente do Oceano Índico acaba passando por cima da África e aquecendo ainda mais o Oceano Atlântico”. 

Segundo o professor, as anomalias observadas na bacia do rio Negro são resultado de complexas interações climáticas entre a floresta e os oceanos - e a modificação nos ventos do Hemisfério Sul mostram que há pelo menos um componente ligado à atividade humana. “Temos os três grandes oceanos contribuindo para essa modificação no ciclo hidrológico. Essas mudanças dos ventos no Hemisfério Sul estão fortemente associadas ao buraco na camada de ozônio e ao efeito estufa", diz.

 

Consequências concretas. Apesar da enorme complexidade dos fenômenos climáticos que afetam as cheias dos rios amazônicos, suas consequências são bem concretas para as populações da região. Schöngart pontua que esses impactos são diferentes nas zonas urbanas e nas áreas rurais.

"Nas regiões rurais, em geral, as pessoas têm moradias adaptadas a esses fenômenos, como casas flutuantes. O grande impacto para elas é econômico. Essa população vive em várzeas e, durante a seca, com os peixes concentrados nos lagos, dedicam-se à pesca. Nas cheias, quando começa a vazante dos rios, preparam a terra para a agricultura. O problema é que, quando vem uma cheia muito grande, as águas invadem muito cedo as roças e pastos e o ciclo de pesca, plantio e a colheita são dramaticamente afetados", afirma. 

Já nas áreas urbanas, o maior impacto é na moradia e nas condições sanitárias das populações que vivem ao longo dos igarapés. "Com o rio muito cheio, os igarapés não têm para onde escoar sua água ao serem atingidos pela chuva. Essa água fica represada e se mistura ao esgoto e ao lixo doméstico e industrial, invadindo as casas. O acúmulo de água também afeta os poços artesianos e não se consegue obter água limpa para consumo. Além de perder seus bens e ficar exposta a problemas de saúde, os moradores dessas áreas também podem ter suas casas alagadas invadidas por animais perigosos", diz. 

Muitas vezes é preciso abandonar as casas, o que é preocupante, para o pesquisador, em período de pandemia de Covid-19. "Há risco de que as pessoas se desloquem, saindo das áreas afetadas e se mudando para casas de parentes que moram em outros locais. Isso pode levar a um aumento do número de infectados", afirma.

 

Impacto precoce. Luna Gripp Simões Alves, pesquisadora em Geociências da CPRM que é responsável pelo Sistema de Alerta Hidrológico do Amazonas (Sipam), explica que muito antes do nível do Rio Negro chegar próximo ao recorde histórico, os impactos sobre a população amazonense já eram altos. 

"Analisar as medidas dos níveis dos rios, registrar suas cotas máximas e a magnitude das cheias é algo extremamente importante para traçar políticas públicas voltadas para as populações impactadas. Porém, bem antes de chegarmos a esse recorde histórico os impactos já eram sentidos. Em alguns bairros de Manaus, por exemplo, quando a água passa de 27,5 metros, já há casas inundadas", afirma Luna. 

De acordo com ela, a prefeitura de Manaus tem um plano de contingência, que inclui um cadastro de famílias afetadas para que elas possam obter os recursos do Aluguel Social. Porém, na difícil situação em que a cidade se encontra por causa da Covid-19, essa medida está sendo prejudicada. "Mesmo o pessoal que ia de casa em casa passou a ser deslocado para atender as vítimas da pandemia", disse. 

Há outras medidas que são postas em prática, como a construção de pontes de madeira, as chamadas marombas. Em algumas regiões, a população só consegue transitar em canoas. No Centro de Manaus, a área onde acontece a principal feira da cidade foi inundada e foi preciso transferir os feirantes para uma balsa. 

"Existe uma certa resiliência por parte da população ribeirinha, que inclui subir o nível das casas em certos bairros que são afetados muito intensamente. Mas tudo tem um limite. Dependendo da velocidade da subida da água não dá tempo de construir essas adaptações. A demanda por madeira fica muito alta e os moradores, em geral, não têm condições de comprar."

 

Efeitos locais. Luna afirma ainda que os impactos ambientais da ocupação humana na região de Manaus agravam localmente os efeitos negativos das cheias. 

"Essas cheias que chegam a Manaus são resultado das chuvas nas cabeceiras do rio, na região da Cabeça do Cachorro e na Colômbia. Temos grandes áreas impermeabilizadas na cidade e o problema do lixo nos igarapés. Tudo isso piora a situação, porque no momento da cheia extrema, a água se acumula", diz Luna. 

"Na região onde o aumento das chuvas está produzindo as cheias, não temos estradas e o deslocamento é feito por rios. Ainda não há efeitos antrópicos significativos. No entanto, esses eventos sem dúvida podem ser agravados se aquelas regiões forem desmatadas. É o que ocorre no rio Xingu, onde os efeitos do desmatamento são muito nítidos", acrescenta. 

Segundo Luna, ainda não é possível saber se as alterações hidrológicas na bacia do Rio Negro têm relação com algum efeito da ação humana, mas é certo que há uma relação com os fenômenos climáticos. "A temperatura global realmente está aumentando nos últimos anos e, quanto maior a temperatura sobre o oceano, maiores são os níveis de vapor d'água e, consequentemente, de chuvas", explica ela.


O impacto dos dispositivos móveis na saúde

É evidente que a pandemia impactou vários segmentos da sociedade. Observamos na saúde , uma das áreas mais afetadas, diversas transformações. A lei que regulariza a telemedicina, por exemplo, foi sancionada em abril de 2020, e possibilitou o atendimento médico por meio das teleconsultas. Nesse contexto, os dispositivos móveis tornaram-se ainda mais relevantes para estreitar as barreiras entre os serviços e a população, oferecendo mais proximidade entre médico e paciente. Atualmente, os smartphones representam uma das ferramentas que mais auxiliam a prática telemedicina, uma vez que 58% dos brasileiros acessam a internet exclusivamente pelo celular, de acordo com pesquisa da TIC Domicílios.

A tecnologia móvel proporciona aos médicos acesso às informações de saúde dos pacientes para realizar o acompanhamento em tempo real dos sinais vitais e dos resultados laboratoriais. Com relação às operadoras de saúde, existem hoje aplicativos integrados aos sistemas de gestão que possibilitam que as instituições de saúde ampliem a integração com os pacientes, proporcionando uma experiência de ponta a ponta. Essas tecnologias permitem consultar toda a rede credenciada, realizar check-in, agendamento de consultas e exames, telemedicina e até mesmo alertas para o médico, oferecendo aos pacientes mais comodidade e proximidade com as operadoras de saúde.

Do lado do paciente, por meio dos dispositivos móveis, ele ganha agilidade no tratamento e na troca de comunicação com o médico. Além disso, o mobile permite acesso a vários aplicativos de saúde, não necessariamente medicamentosos. Para pacientes com diabetes, por exemplo, aplicativos de controle de glicemia facilitaram a rotina. Mas, com tantos aplicativos de saúde disponíveis no mercado, como fica a questão da segurança de dados?

Para garantir que o aplicativo é de fato seguro, é necessário verificar se o mesmo segue as diretrizes da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) e se todos os dados armazenados estão criptografados. Vale ressaltar que a área da saúde reúne muitos dados sensíveis, uma vez que, a partir do momento em que o paciente envia o resultado de um exame ao médico, torna-se um dado sensível. Neste sentido, as organizações de saúde devem investir em provedores tecnológicos que realmente se comprometam com o desenvolvimento de soluções inovadoras para proteger seus sistemas.

 

Desafios do mercado de dispositivos móveis na saúde

Apesar dos avanços no desenvolvimento de tecnologias e aplicativos de saúde, ainda existem entraves que impedem que esses serviços alcancem toda a população. O primeiro desafio, é a disponibilidade tecnológica, uma vez que algumas regiões do Brasil ainda enfrentam problemas com conectividade e baixa qualidade na conexão. Outro ponto crítico é o investimento por parte das instituições de saúde, que devem apostar na interoperabilidade com o objetivo de realizar toda a integração de dados entre médicos, laboratórios e as plataformas.

Os serviços de saúde via dispositivos móveis tendem a conquistar o mercado, uma vez que proporcionam mais agilidade e qualidade no atendimento hospitalar, especialmente em tempos de pandemia e distanciamento social. No entanto, não se exclui a necessidade de investir em um atendimento humanizado, atentar-se à LGPD e realizar investimentos para aprimorar e expandir cada vez mais esse serviço na área da saúde.

 


Daniel Camillo Rocha - Diretor Executivo de Saúde da Digisystem , empresa 100% brasileira com 30 anos de experiência em serviços especializados em TI.


Home Sweet...Home Office: o que aprendemos nos últimos meses?

A pandemia deflagrada em março de 2020 impôs para muitos o trabalho em home office. Segundo pesquisa Datafolha, encomendada pelo C6 Bank, em 2020, 52% dos trabalhadores das classes A e B adotaram o trabalho em home office. Já dos que estão caracterizados como classe C, apenas 26% adotaram a modalidade de trabalho a distância.

Ao desempenharem o trabalho convencional em home office os trabalhadores viram as fronteiras físicas entre o trabalho e o lar deixarem de existir, exigindo adequações do espaço físico, das relações familiares e profissionais, e, principalmente, das emoções provocadas pelas mudanças, potencializadas por um cenário de incertezas e inseguranças, o que refletiu na saúde mental de muitos trabalhadores. Atualmente, para muitas organizações, avaliar esta modalidade de trabalho tem sido a pauta de reuniões e o objetivo de pesquisas junto aos seus colaboradores.

No Brasil, a pesquisa realizada em março pela WorldwildeERC, em parceria com a consultoria Global Line, entrevistou funcionários de 145 empresas multinacionais com operações no Brasil e registrou que mais da metade (58%) dos profissionais está “muito confortável” com o home office. Além disso, apontou também os desafios de trabalhar remotamente, aparecendo a socialização em primeiro lugar (68%) e desenvolvimento de confiança em segundo lugar (33%). Os pesquisados indicaram ainda as melhorias necessárias para continuidade do trabalho remoto, as quatro mais citadas foram: segurança de dados (79%), comunicação efetiva (74%), maior foco em uma cultura humanizada e colaborativa (70%) e manter o engajamento dos trabalhadores (65%).

Não surpreende que a primeira indicação de melhoria seja a segurança de dados que, provavelmente, reflete as limitações de recursos com que as organizações tiveram que responder ao inusitado de uma pandemia. As demais melhorias sugeridas pelos pesquisados referem-se às temáticas de liderança e gestão de pessoas, reflexo de um cenário de crise que tende a evidenciar as forças e fraquezas da administração de cada uma. 

Algumas organizações já retornaram ou definiram o retorno para a modalidade presencial ou flexível/híbrida. No Vale do Silício, por exemplo, o Google retornará as atividades presenciais a partir de 1º de setembro; já a Amazon, quer retornar à cultura padrão centrada no escritório, pois acredita que trabalhar juntos contribui para a aprendizagem coletiva, a colaboração e a inovação.  Quando estas empresas, que são referências em tecnologia, decidem priorizar o trabalho presencial ao home office é importante dar atenção e procurar entender os motivos. 

A Amazon, ao justificar os motivos para o retorno ao trabalho presencial, expressa o valor que dá ao coletivo e as interações presenciais. Neste coletivo há a expressão dos afetos, medos, a confiança, a colaboração, a solidariedade, a competição, relações de poder, enfim, produtos da subjetividade e da intersubjetividade no trabalho. 

As interações de confiança são resultado de vínculos psicoafetivos construídos no coletivo e contribuirão para um ambiente solidário e cooperativo, que é fundamental para a promoção da saúde mental no trabalho na perspectiva da Psicodinâmica do Trabalho. Pois é por meio da mobilização subjetiva, da inteligência prática e da colaboração, que o trabalhador consegue transformar o seu sofrimento psíquico em sofrimento criativo, e obter o reconhecimento dos pares e superiores, contribuindo para sua autoestima e identidade, dando sentido e vivenciando o prazer no trabalho. 

Os desafios de gestão, de liderança, de relações socioprofisionais, de promoção da saúde mental no trabalho e outros, se apresentam tanto no trabalho presencial quanto no virtual. No entanto, o trabalho virtual apresenta limitações reais pela ausência da presença física e tudo o que ela promove na comunicação, na construção dos vínculos psicoafetivos, no engajamento entre outros aspectos. 

Portanto, as organizações que pretendem continuar em sistema de home office ou híbrido/flexível, principalmente quando “terminar a pandemia”, terão que planejar e promover ações que compensem ou minimizem as limitações do virtual. Esforçando para que todo o arsenal high tech não subestime o que há de mais rico e importante: o ser humano na sua inteireza!


 

Ana Silvia Alves Borgo - psicóloga (CRP 08/03162) e professora do ISAE Escola de Negócios (www.isaebrasil.com.br)

 

Qual a importância do Fit Cultural?

Primeiro, você sabe o que é Fit Cultural? Fit Cultural é o quando uma pessoa compartilha dos mesmos valores e crenças da empresa, ou seja, qual é a capacidade que essa pessoa tem de se encaixar na empresa para que suas habilidades sejam aproveitadas ao máximo. Alguns dizem também que o Fit Cultural é uma forma ou metodologia de avaliar se o candidato tem o perfil da empresa.

Algumas empresas já realizam o teste de Fit Cultural principalmente nos programas de trainee e estágio no mercado. São testes que ajudará a empresa a escolher o candidato adequado não somente pelo perfil necessário para a vaga, como também entender se esse candidato se adequa as características ou cultura da empresa, evitando assim o turn over. Esses testes podem ser o teste de perfil, com inteligência artificial ou até mesmo perguntas feitas de forma estratégicas para identificar o perfil mais aderente. 

Pensando nisso, dizemos então, que para uma empresa é importante saber: Qual sua missão? Qual o seu propósito? Aonde quer chegar? As organizações no decorrer dos anos foram formando opiniões, comportamentos, maneiras de atuar, o que era mais esperado no mercado. Algumas empresas têm uma forma de trabalhar diferentes de outras, umas trabalham com inovação, outras são mais conservadoras, umas tem um processo de escolha de fornecedores diferentes como por exemplo: umas olham para custos, outras mais para a qualidade, ou um caráter disruptivo, o que mais pesa para a tomada de decisão? Algumas empresas trabalham com meritocracia, baseados em métricas, outras já utilizam bônus distribuídos pela área, ou seja, se a área bater todo mundo ganha ou todos não ganham, isso acontecem em empresas que entendem o desenvolvimento do grupo e não individual. Algumas empresas aderem/cultiva mais para resultados outras mais para pessoas. Tudo isso influenciam a cultura, baseado nos seus valores, naquilo que a empresa acredita. Nem sempre a missão, valores estão escritos...a cultura muitas vezes se baseia nos comportamentos das pessoas que ali atuam. Nesse momento é que você precisa refletir o que mais prevalece nessa empresa que você deseja trabalhar.

Quando você é candidato e está se candidatando a uma oportunidade, você já se perguntou se você tem o perfil da empresa? Sua cultura, seus valores estão de acordo com o da empresa? Me refiro ao alinhamento com a cultura da empresa, isso fará com que você permaneça na empresa, sinta-se pertencente a mesma, cada vez mais engajado. Algumas perguntas são chaves para que o recrutador identifique se o candidato está dentro da expectativa, são elas: Porque você deseja trabalhar nessa empresa? O que te motiva para você trabalhar em uma empresa? Você prefere trabalhar em equipe ou sozinho?  Como você trabalha sobre pressão, como você entrega seus resultados? Como você reage quando comete um erro? Então, esteja preparado para suas respostas, buscando autoconhecimento e buscando informações da empresa, quando mais preparado você estiver, mais você terá domínio sobre suas respostas sem nervosismo e transmitindo segurança.

Trabalhar só pelo salário, trabalhar só pelo cargo não rola mais, e não está sendo o suficiente para sustentar uma organização. A cultura organizacional, com a sua cultura, com os seus valores têm que estar alinhados... Então, você precisa ter muito claro quais são os seus valores e procurar informações da empresa quando você for para o mercado de trabalho. É importantíssimo você saber quem são as pessoas que trabalham na empresa, no que essa empresa acredita? Como funciona essa cia?

Uma reflexão importante é você listar todas as empresas que você trabalhou e conseguir estabelecer o que você gostou e o que você não gostou. Afinal, qual o perfil de organização você deseja para sua vida? Que cultura que você irá se identificar melhor? Qual a empresa você se sentirá mais à vontade? Que irá curtir mais? Isso será um norteador para sua vida.

Enfim, você precisa gostar da empresa e a empresa gostar de você. É um caminho de mão dupla, isso sim é Fit Cultural.

 


Simone Choin - Líder de Talentos da Conexão Talento. Especialista em Gestão de RH com experiência de 25 anos em empresas de grande porte, atuando como gestora regional nos subsistemas de R&S, T&D e Comunicação Interna.


Empregos perdidos na aviação comercial podem ser absorvidos pela aviação executiva

Aviação executiva cresceu no último ano
Divulgação

Ao passo que grandes companhias aéreas foram impactadas pela pandemia, serviços especializados em voos privados registraram crescimento e demandam mão de obra especializada


A aviação comercial, sem dúvida, está entre os setores mais impactados ao longo deste um ano de pandemia. Para se ter uma ideia, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA, na sigla em inglês) estima US$ 157 bilhões em perdas, entre 2020 e 2021. O prejuízo é cinco vezes maior do que o registrado durante a recessão de 2008-2009. Só no Brasil, as grandes empresas áreas acumularam um prejuízo de R$ 19,7 bilhões. E essa perda de receita se reflete, infelizmente, no fechamento de postos de trabalho. Segundo levantamento da consultoria Five Aero, cerca de 620 mil empregos foram eliminados desde o início da pandemia.

Mas, ao passo que a aviação comercial acumula prejuízos, a chamada aviação executiva (voltada para voos privados) cresce exponencialmente, e o setor pode absorver boa parte dessa mão de obra especializada, que há pouco tempo atuava na aviação comercial. É o que argumenta o piloto de linha aérea e gerente de produto do Antares Polo Aeronáutico, empreendimento em construção na cidade de Aparecida de Goiânia, Eumar Lopes.

Segundo ele, Goiás é um dos estados que absorverá boa parte dessa mão de obra especializada com a construção do polo aeronáutico na Região Metropolitana de Goiânia. “A chegada do Antares, que é um pólo da aviação geral, representará o surgimento de muitas e várias oportunidades para os vários profissionais que são demandados para as operações aeroportuárias, desde um gerente de aeroporto até os atendentes de pista. Há também profissões ligadas à manutenção, como mecânicos e auxiliares de mecânica de aeronaves. No Antares, inclusive, outros serviços surgirão ao redor do empreendimento, como hotelaria, aluguel de veículos e alimentação, o que irá demandar uma grande cadeia de empregos”, explica Eumar. Ele revela ainda, que quando estiver em pleno funcionamento, o Antares poderá  gerar cerca de 3 mil postos de trabalho. O Antares, só em sua fase de pré-lançamento, comercializou cerca de 30% dos 72 lotes ofertados.



Crescimento


Para se ter uma ideia do crescimento da aviação executiva no último ano, o Flapper, um dos principais aplicativos de reserva para voos executivos usados no Brasil, registrou um aumento de 194% na receita de dezembro de 2020 em relação ao mesmo mês do ano anterior. Já a plataforma Fly Adam, também especializada no agendamento de voos executivos, registrou uma alta de 300% nas buscas e fretamentos de aeronaves em dezembro, na comparação com mesmo mês em 2019. No começo deste ano, a procura continuou em alta e o Flapper apurou um aumento de 397% nos primeiros 20 dias do ano nos pedidos de cotação para voos executivos.

De acordo com o professor do curso de ciências aeronáuticas da Puc Goiás, Salmen Chaquip Bukzem, a tendência do cenário da aviação executiva no País era de aquecimento antes da pandemia e deve ser, certamente, de superaquecimento num momento pós-pandemia. “Não tenho nenhuma dúvida que o modal de transporte que mais irá crescer no país é o aéreo. Para os grandes empresários, mesmo com a maior difusão das reuniões online, não se exclui a necessidade de contato presencial em muitas ações.Temos na aviação agrícola, uma categoria importante  da aviação executiva e o aumento dos serviços de transporte aeromédico”, avalia Bukzem. 

O professor de ciências aeronáuticas explica que a aviação não movimenta só o pessoal diretamente ligado à manutenção e operação de aeronaves. Segundo o especialista, há também uma infinidade de atividades satélites que orbitam o setor, como fornecedores de peças e prestadores de serviços diversos.

De acordo com Bukzem, devido a necessidade de grande especialização, os vencimentos de profissionais que atuam no setor da aviação podem ser bem acima da média.  “No caso do pessoal ligado à área de manutenção, por exemplo, os salários variam conforme a complexidade dos equipamentos que eles operam. Mecânicos de monomotores a pistão, recebem uma média entre R$ 3.300 a R$ 3.500. À medida que esse profissional vai crescendo e vai tendo acesso a aeronaves mais complexas, temos outro nível que exige maior capacitação, chegando a ganhar em torno de R$ 5 mil. Quando se chega aos modernos jatos executivos esses ganhos são ainda maiores, já que são aeronaves mais sofisticadas e caras”, esclarece o especialista.



Antares 


Em dois anos, Cadastro Positivo permitiu melhores condições de acesso a crédito pelos pequenos negócios

 Instituições focadas no segmento podem acessar informações de qualidade para análises de risco


A iniciativa do Cadastro Positivo com adesão automática, adotada desde 2019, tem sido um importante instrumento para melhorar o ambiente de negócios para as micro e pequenas empresas. A promoção de um banco de dados com o histórico do comportamento financeiro dos bons pagadores tem ajudado tanto na ampliação do acesso ao mercado de crédito como em melhores condições com taxas de juros mais adequadas.

Dados divulgados pelo Banco Central apontam que nos últimos dois anos, o Cadastro Positivo conseguiu reduzir a taxa de juros praticada em operações de crédito, alcançando, em média, uma queda de 10,4% para o crédito pessoal não consignado para novos tomadores.

Na avaliação do analista de Capitalização e Serviços Financeiros do Sebrae, Giovanni Beviláqua, a maior transparência e a disponibilidade desse tipo de informação contribui para uma melhor avaliação de risco dos pequenos negócios. “Uma vez que as instituições financeiras tiveram acesso a um maior conjunto de informações de qualidade para fazerem análises de risco, observamos empresas que se beneficiaram com a queda da taxa de juros e um maior percentual de instituições focadas nas MPE que pretendem usar o Cadastro Positivo”, declarou.

De acordo com o relatório do Banco Central sobre efeitos do Cadastro Positivo, no segmento de crédito às MPE, 88% das instituições mostraram interesse no uso destas informações. “Esse é um percentual muito significativo, pois demonstra que as informações contidas no Cadastro Positivo são efetivamente utilizadas e trazem benefícios para as instituições financeiras, permitindo maior conhecimento do comportamento financeiro das empresas, mitigação de riscos, adequação de taxas de juros de acordo com o perfil das empresas, bem como maior abertura para o crédito”, explicou o analista.

Nos últimos dois anos, em torno de 100 milhões de consumidores e empresas foram incluídas no Cadastro Positivo com adesão automática, o que representa um aumento de 15 vezes no número de cadastros, segundo dados do Banco Central. Em termos de melhora na nota de crédito entre as empresas, 30% se beneficiaram com a migração para faixas de menor risco, possibilitando maior acesso ao crédito e menores taxas de juros.

O analista destaca ainda a importância de os donos de pequenos negócios ficarem atentos à gestão financeira das empresas com um bom controle das informações financeiras e contábeis. “Além de ajudar na hora de conseguir um financiamento melhor, esse conjunto de informações é muito relevante para que o próprio empresário conheça a fundo o seu negócio e avalie corretamente a necessidade de obtenção de crédito, alteração de processos produtivos internos, bem como o controle dos custos, entre outros”, recomendou.

 

Declaração do imposto de renda para condomínios

Condomínios não são considerados pessoas jurídicas. Mesmo que o condomínio possua um Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ), a personalidade jurídica do empreendimento não é reconhecida legalmente. Isso ocorre em razão de condomínios não serem entidades que produzem renda ou que prestam algum tipo de serviço. Assim, para a Receita Federal, condomínios são isentos do pagamento de imposto de renda, ou seja, não fazem qualquer declaração. Entretanto, como empregador (funcionários próprios, síndico profissional, autônomos etc), o condomínio deve declarar anualmente o Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) por apresentar a DIRF (Declaração do Imposto sobre a Renda Retido na Fonte.

 

A DIRF é uma declaração feita pelas fontes pagadoras, e não deve ser confundida com o Imposto de Renda (IR). O IR é um tributo cobrado anualmente pelo governo federal sobre os ganhos de pessoas e de empresas. Seu valor é pago de acordo com os rendimentos declarados, de forma que os cidadãos com renda maior pagam mais impostos, enquanto aqueles com renda menor pagam menos. Na prática, o IR trata-se de um valor anual descontado sobre os rendimentos dos trabalhadores e das empresas no Brasil. Na lista de rendimentos tributáveis, entram ganhos como salários, aluguéis, prêmios de loteria e investimentos. O IR se divide em duas categorias: o Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) e o Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ).

A DIRF é um informe que deve ser enviado à Receita Federal sobre os rendimentos pagos pelo empregador ao trabalhador. Nele devem ter todos os tributos e contribuições que foram retidos pela fonte pagadora, isso inclui os impostos sociais como o PIS e Cofins. Assim, o condomínio deve declarar seus pagamentos por meio de referências exigidas das notas fiscais, como CNPJ da empresa, número da nota, valor e código.

 

Realizar a declaração da DIRF é obrigatória para todas as fontes pagadoras. Ou seja, todas as instituições que realizaram algum tipo de pagamento ao longo do ano anterior têm obrigação de fazer essa declaração. Deste modo, condomínios que contratam prestadores de serviços com Nota Fiscal têm a obrigação de declarar a DIRF. Esses prestadores de serviços podem incluir:


·         Síndico (quando recebe remuneração)


·         Empresa terceirizada


·         Empresa auxiliar de administração


·         Funcionários CLT ou PJ


·         Prestadores de serviço em geral

 

Os síndicos profissionais, contratados pelos condomínios ou designados por uma administradora predial, continuam sendo obrigados a declarar e recolher o imposto. Esses estão sujeitos a cobrança ao receber durante o ano valor igual ou superior a 6 mil reais. os rendimentos auferidos são considerados "prestação de serviços" e estão sujeitos à apuração e recolhimento do imposto de renda mensal obrigatório (carnê-leão), com base na tabela progressiva (alíquotas de 0 a 27,5%).

 

O Superior Tribunal de Justiça decidiu que a atividade de síndico, quando retribuída por meio de isenção de quota condominial, não está sujeita ao imposto de renda. ( Recurso Especial 1.606.234 – RJ) Não obstante síndico que tem isenção da taxa condominial deve incluir esse benefício em sua declaração pessoal, considerando-o "outras receitas", já que a isenção seria proporcional a um pagamento pelos serviços prestados.


Aplica-se ao síndico morador que recebe um salário a mesma sistemática adotada para os síndicos profissionais: o síndico deve declarar o salário recebido caso seu valor supere R$ 6.000,00/ano, do mesmo modo que o condomínio deve declarar tal pagamento em sua DIPJ.

 

Quantias recebidas por pessoa física pela locação de espaço físico sujeitam-se ao recolhimento mensal obrigatório (carnê-leão) se recebidas de pessoa física ou de fonte no exterior, ou à retenção na fonte se pagas por pessoa jurídica, e ao ajuste na Declaração de Ajuste Anual. Ressalte-se que, diante da inexistência de personalidade jurídica do condomínio edilício, as receitas de locação por este auferidas, na realidade, constituem-se em rendimentos dos próprios condôminos, devendo ser tributados por cada condômino, na proporção do quinhão que lhe for atribuído, na forma acima descrita. Ainda que os condôminos não tenham recebido os pagamentos em espécie, são eles os beneficiários dessa quantia, observando-se isso, por exemplo, quando o valor recebido se incorpora ao fundo para o qual contribuem, ou quando diminui o montante do condomínio cobrado, ou, ainda, quando utilizado para qualquer outro fim.

 

No caso de condomínio edilício, o pagamento pela ocupação ou uso de partes comuns (salão de festas, piscinas, churrasqueiras etc.) pelos próprios condôminos não é considerado rendimento de aluguel. Ato Declaratório Interpretativo SRF nº 2, de 27 de março de 2007." fonte: www.receita.fazenda.gov.br


Com a entrada em vigor da Lei nº 12.973. de 14 de maio de 2014, art. 3º, "ficam isentos do Imposto de Renda das Pessoas Físicas os rendimentos recebidos pelos condomínios residenciais, limitado a R$ 24.000,00, por ano- calendário e desde que sejam revertidos em benefícios do condomínio para a cobertura de despesas de custeio e de despesas extraordinárias, estejam previstos e autorizados na convenção condominial, não sejam distribuídos aos condôminos e decorram:


I - de uso, aluguel ou locação de partes comuns do condomínio;


II - de multas e penalidades aplicadas em decorrência de inobservância das regras previstas na convenção condominial; ou


III - de alienação de ativos detidos pelo condomínio."


Portanto, quando o recebido pelo condomínio superar o limite de R$ 24.000,00 no ano, os condôminos deverão declarar no seu IR a quota parte correspondente à sua unidade, de acordo com a Convenção.

 

Como regra geral, os rendimentos recebidos pelo condomínio são repassados aos condôminos, na proporção da parcela que for atribuída a cada um, devendo ser tributados pelo Imposto de Renda Pessoa Física incidente sobre cada condômino, ainda que sejam utilizados na composição do fundo de receitas do condomínio, na redução da contribuição condominial ou para qualquer outro fim. O valor recebido pelo condômino deverá ser tributado pelo carnê-leão e estará sujeito à tabela progressiva no mês do recebimento.

 



 

Eduardo Martim do Nascimento - advogado do escritório Morad Advocacia Empresarial, especialista em Direito Tributário e atua na área empresarial há 21 anos.

 

www.morad.com.br


É válida a cláusula de permanência nos contratos de trabalho?

A cláusula de permanência inserida nos contratos de trabalho por empresas que investem na formação dos seus empregados através da sua definição, validade, limitações e orientação jurisprudencial

 

O que é a cláusula de permanência em contrato de trabalho? 

Muitas empresas se preocupam em investir na formação de seus empregados, através do pagamento de cursos de curta duração, pós-graduação, MBA, cursos de idiomas, intercâmbios, dentre outros.

Como contrapartida, as empresas têm estabelecido que o empregado deve permanecer vinculado à empresa por um período mínimo após a conclusão do curso. É justamente essa a chamada cláusula de permanência, sendo que o seu objetivo é, ao lado da capacitação do funcionário, garantir que a empresa também desfrute – ao menos por um período de tempo – os benefícios do aprendizado que custeou.


A clausula de permanência é válida?

Embora não haja na CLT regulamentação específica acerca do tema, a doutrina e a jurisprudência reconhecem a legalidade da inserção de tal cláusula nos contratos de trabalho. Vejamos:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO FINANCIAMENTOOBRIGAÇÃO DE PERMANECER NO EMPREGO. PERÍODO DE UM ANO. PROPORCIONALIDADE. BOA-FÉ OBJETIVA. DESCUMPRIMENTO PELO EMPREGADO. RESTITUIÇÃO DEVIDA. NÃO PROVIMENTO.

  1. No caso, a reclamada financiou a participação da reclamante em curso de pós-graduação, sob a condição de que, após a conclusão, a trabalhadora não poderia pedir demissão imotivadamente pelo período de um ano, sob pena de restituição dos valores investidos pela empregadora.
  2. Com efeito, o exercício da autonomia da vontade por parte do trabalhador trouxe vantagens proporcionais, senão superiores, à contrapartida a que se obrigou, pois lhe foi permitido alcançar o título de especialista em troca apenas da limitação do poder de denunciar o contrato por curto período, sem prejuízo dos salários e demais vantagens próprias da relação de emprego.
  3. Assim, referido ajuste não ofendeu qualquer norma protetiva e deve ser considerado válido e eficaz.
  4. Ademais, ofende a boa-fé objetiva a conduta do trabalhador que aceita os termos negociados, usufrui as vantagens que lhe proporcionou, mas recusa-se injustificadamente a cumprir sua obrigação e frustra a justa expectativa da parte contrária.
  5. Ilesos os artigos 9º, 444, 462 e 468 da CLT.
  6. Agravo de instrumento a que se nega provimento”. (destacamos)

(TST, 7ª T., AIRR – 1114866-82.2003.5.04.0900, j. 21/10/2009, Relator Min. Guilherme Augusto Caputo Bastos, DEJT 27/11/2009).

Os principais fundamentos utilizados para justificar a validade dessa cláusula contratual são as disposições dos artigos 444 da CLT e o 122 do Código Civil, além do princípio da boa-fé objetiva, que deve reger todos os vínculos contratuais.


Qual o prazo máximo de permanência que pode ser estabelecido nessa cláusula?

Diante da inexistência de uma regulamentação específica, as empresas têm pautado o estabelecimento dos prazos de acordo com o entendimento da doutrina e da jurisprudência, que é no sentido de que o prazo máximo de permanência é de 02 anos para que a cláusula seja considerada válida.

O referido entendimento foi construído com fundamento no art. 445 da CLT, o qual determina tal lapso temporal como o máximo para o contrato de trabalho por prazo determinado.


E se o empregado não cumprir a cláusula de permanência?

A maioria dos contratos estipula multa (“cláusula penal”) no caso de violação da cláusula de permanência por parte do empregado.

Nesse caso, deve ser observado o regramento previsto no Código Civil, em especial o art. 412, o qual determina que o valor da cominação imposta na cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal.

Significa dizer que o valor da multa (“cláusula penal”) não pode ultrapassar o valor dispendido pela empresa para custeio da formação do empregado.

Além disso, o valor da multa pode ser reduzido equitativamente se o descumprimento for parcial (art. 413, CC).

Merece ainda ser lembrado que, havendo a rescisão do contrato de trabalho, quando da apuração e do pagamento das verbas rescisórias, é vedada a compensação superior ao equivalente a um mês de remuneração do empregado, nos termos do art. 477, § 5º, da CLT.

É dizer, no caso da rescisão do contrato de trabalho com violação da cláusula de permanência, a empresa apenas poderá descontar do valor das verbas rescisórias a quantia correspondente ao valor de um salário mensal.

Eventual valor remanescente da multa, caso não seja quitado espontaneamente pelo ex-empregado, é passível de cobrança via ação judicial própria.

 


 
Juliana Callado Gonçales - sócia do Silveira Advogados e especialista em Direito Tributário e em Proteção de Dados (www.silveiralaw.com.br)

 

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