Após um mês da morte da influenciadora digital Aline Ferreira devido a complicações de um procedimento estético com PMMA, a dançarina Sheila Mello, do grupo É o Tchan, enfrenta problemas relacionados ao mesmo tipo de procedimento.
O Polimetilmetacrilato, popularmente conhecido como PMMA, é um
polímero plástico amplamente adotado em várias aplicações médicas, incluindo a
fabricação de lentes, cremes de uso tópico e procedimentos ortopédicos.
Posteriormente, essa substância também se expandiu para o campo da estética, e
ganhou popularidade devido a sua capacidade de proporcionar volume e definição
para diversas partes do corpo, como glúteos, coxas, rosto e outras áreas.
No entanto, nos últimos anos, a substância tem sido associada a
uma notoriedade negativa por suas complicações graves, envolvendo casos que
resultaram na morte de pacientes. Há ainda relatos recentes, ano após ano, de
infecções, reações inflamatórias crônicas e migração do material injetado, o
que pode causar deformidades e dificultar o tratamento adequado.
Essa semana a ex-dançarina do É o Tchan, Sheila Mello veio a
público falar que está em uma batalha judicial devido a um erro estético para
levantar os glúteos. Em junho deste ano, a influenciadora digital Aline
Ferreira, de 33 anos, também teve complicações e veio a óbito por conta do uso
de PMMA.
Quais são os riscos dessa substância ?
Segundo o biomédico Dr. Vitor Mello, especialista em estética,
embora o PMMA seja considerado seguro quando aplicado corretamente e em
quantidades adequadas, os riscos associados ao seu uso não devem ser
subestimados. "O PMMA é bastante popular por sua resistência à absorção
pelo corpo, mas pode resultar em reações imprevisíveis a longo prazo. Entre as
complicações mais graves estão reações inflamatórias crônicas, formação de
granulomas e a possibilidade de migração do material injetado, o que pode levar
a deformidades severas e dificuldades de tratamento”, alerta.
O especialista ainda destaca que a capacidade do PMMA de estimular
a formação de tecido fibroso ao seu redor pode complicar a remoção em casos de
complicações, como infecções ou necroses teciduais. Além disso, a aplicação
profunda e a quantidade utilizada podem aumentar os riscos de complicações
vasculares, como obstruções e embolias pulmonares.
Em contraste, o ácido hialurônico é preferido por muitos
profissionais devido à sua reversibilidade e ao menor risco de complicações a
longo prazo. Para o Dr. Vitor Mello, o ácido hialurônico também é a escolha
preferida em seu consultório. "Eu não faço uso do PMMA, principalmente
porque o ácido hialurônico é reversível. Qualquer complicação, como deformidade,
inflamação, infecção ou reação do corpo do paciente, pode ser revertida com um
antídoto. É possível fazer essa remoção sem cirurgia, apenas com uma enzima que
degrada o ácido hialurônico, proporcionando resultados mais naturais.”
E o PMMA, ele pode ser removido?
É possível remover a maior parte do produto, mas não é possível
remover todo o produto, é o que alerta Vitor Mello. Segundo o especialista, a
PMMA tem uma ação bioestimuladora, e os tecidos fibrosos acabam ficando
envolvidos junto do PMMA. A única forma de retirar é através de cirurgia, mas
ocorre o risco do paciente perder tecidos musculares. Caso o PMMA atinja os
vasos sanguíneos, pode resultar em embolia pulmonar.
Em quais casos, a substância é autorizada pela Anvisa
O uso do PMMA no Brasil é autorizado pela Anvisa, porém é classificado como classe IV (máximo risco). Mas existem situações que seu uso é permitido.
Inicialmente o PMMA foi desenvolvido para aplicações médicas específicas, como no tratamento de lipodistrofia associada ao HIV/AIDS e em casos de perda de gordura em pacientes com câncer, o PMMA foi adaptado para uso estético devido a sua capacidade de proporcionar volume e definição das áreas tratadas. E para a correção volumétrica facial e corporal, a aplicação é destinada a tratar irregularidades e depressões no corpo, como aquelas decorrentes de condições como a poliomielite, através de um procedimento conhecido como bioplastia.
Em 2018, a Anvisa publicou uma nota esclarecendo que o PMMA não é
contraindicado para aplicação nos glúteos para fins corretivos, mas não há
indicação para aumento de volume, seja corporal ou facial. A decisão sobre a
aplicação deve ser avaliada pelo profissional médico responsável.