Estudo global revela também que mulheres na América Latina se destacam na separação de resíduos domésticos, influenciadas pelos papéis tradicionais na gestão familiar
O novo relatório "Um Mundo de Resíduos: riscos e oportunidades na gestão de resíduos
domésticos" apontou que os brasileiros com mais de 65 anos são
significativamente mais propensos a separar seus resíduos antes do descarte
(75%) – por exemplo, para fins de reciclagem – do que aqueles com idades entre
15 e 29 anos (41%). Essa diferença de 34 pontos percentuais é a maior
registrada no mundo. O relatório foi desenvolvido com dados da edição mais
recente do World Risk Poll, produzido pela Lloyd’s Register Foundation,
em consulta com especialistas em gestão de resíduos do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e Engineering X.
A pesquisa, conduzida pela empresa Gallup,
entrevistou 147 mil pessoas em 142 países e territórios, revelando diferenças
marcantes no comportamento em relação à separação de resíduos entre faixas
etárias e gêneros, especialmente no Brasil.
No cenário mundial, 47% dos jovens entre 15 e 29
anos afirmaram separar seus resíduos, enquanto 47% da mesma faixa etária
disseram que não o fazem. Outros 6% relataram realizar essa prática
ocasionalmente. Já entre os maiores de 65 anos, 60% separam os resíduos,
colocando o Brasil acima da média global para essa faixa etária.
As mulheres globalmente também apresentam uma
tendência maior a separar resíduos em comparação aos homens (56% contra 51%,
respectivamente). Essa disparidade se acentua em países de renda média-alta
(53% contra 47%) e de renda média-baixa (50% contra 45%). No Brasil, os
resíduos alimentares (60%) são os mais descartados pelas famílias, seguidos
pelos plásticos (30%).
A jornalista Neuza Nascimento, de 65 anos, afirma
que separa os resíduos desde a infância, quando sua família aproveitava latas,
potes e papéis para criar utensílios domésticos. Essa mentalidade de
reaproveitamento a acompanhou na vida adulta, e Neuza passou a separar
resíduos, pensando inicialmente nos catadores de materiais recicláveis. "Me
incomodava vê-los procurando produtos no meio do lixo, então comecei a deixar
garrafas pet e vidro separados para facilitar o trabalho deles", explica.
Para as gerações mais jovens, Neuza acredita que há
uma desconexão com a importância da reciclagem. "Os jovens não estão
engajados; vejo muito lixo jogado nos ônibus e nas ruas, como garrafas e copos
descartáveis", observa. Neuza acredita que a mudança cultural virá com
exemplos contínuos e campanhas educativas, tanto que hoje ela é uma das
responsáveis em desenvolver ações de sustentabilidade e conscientização na
agência em que trabalha no Rio de Janeiro.
Desafios e soluções
O relatório destaca que, embora a separação de
resíduos seja um passo crucial para o descarte seguro e sustentável, os
benefícios só serão plenamente alcançados se houver uma infraestrutura adequada
de coleta. No Brasil, 89% da população tem seus resíduos coletados, mas grande
parte não é separada ou manejada corretamente. Globalmente, 41% das pessoas
ainda descartam seus resíduos de maneira inadequada, como em lixões a céu
aberto, por queima ou despejo em áreas não apropriadas. Cerca de 14% das
famílias em todo o mundo relataram queimar seus resíduos.
Nancy Hey, Diretora de Evidências e Insights da
Lloyd’s Register Foundation, destaca: “O descarte seguro e sustentável de
resíduos é uma forma de infraestrutura crítica, seja para resíduos domésticos
ou para a desativação de grandes projetos de engenharia. No Brasil, a maioria
das famílias já tem seus resíduos coletados, o que significa que há uma
oportunidade para o governo e os habitantes trabalharem juntos para melhorar
ainda mais a sustentabilidade, separando os resíduos antes de jogar fora."
O relatório sugere que o desenvolvimento de uma melhor infraestrutura de coleta, que leve ao descarte controlado, é uma prioridade urgente. “Essas diferenças geracionais neste tipo de comportamento fornecem insights úteis, destacando áreas potenciais de ação – seja por meio da educação ou de incentivos. No entanto, essas medidas só podem funcionar se a infraestrutura certa para lidar com recicláveis após a coleta for implementada", completa Nancy.
Lloyd’s Register Foundation
World Risk Poll
Engineering X Para saber mais, visite engineeringx.raeng.org.uk.
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