As doenças só podem ser diagnosticadas por profissionais da saúde mental, mas gestores e líderes têm papel fundamental de identificar sinais e oferecer apoio ao colaborador
Ansiedade e depressão são duas doenças que têm chamado atenção
por sua crescente presença na população do Brasil e do mundo. Dados da Guia da
Alma, startup com solução de saúde mental para empresas e pessoas, mostram que
62,6% da população brasileira sofre com algum nível de ansiedade. Um estudo da
Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) mostrou que a falta
de saúde mental entre os colaboradores nas empresas provoca um prejuízo de R$
397,2 bilhões por ano na economia brasileira. Nesse cenário, as empresas também
se deparam com o aumento de colaboradores com adoecimento psicológico,
necessitando de um olhar mais atento para essa questão. As lideranças podem ter
um papel essencial, se estiverem preparadas para identificarem sinais de
transtornos como depressão e ansiedade e direcionadas para auxiliar seus
liderados nesses casos.
O diagnóstico das doenças mentais deve, sempre, ficar à cargo de
um profissional da saúde, como psiquiatras e psicólogos. De qualquer forma, os
especialistas da Guia da Alma acreditam que há sinais comuns que indicam, no
dia a dia de trabalho, se um ou mais colaboradores precisam de apoio
psicológico. Desempenho, isolamento do resto da equipe, comentários que indicam
desespero ou pessimismo em excesso são alguns exemplos. Confira os indicativos
mais comuns:
Comportamento: mudanças no comportamento podem ser
sinal de que algo está acontecendo na vida do colaborador. No caso da
depressão, pode incluir sintomas como apatia, desinteresse por atividades que
costumavam ser agradáveis, choro frequente ou explosões emocionais;
Baixa produtividade: uma das consequências do adoecimento
mental é a redução da capacidade de concentração e produtividade. Os
funcionários podem ter dificuldade em cumprir tarefas, prazos e cometer erros
frequentes quando sua saúde mental não está em dia;
Isolamento social: pessoas com depressão ou ansiedade
algumas vezes se isolam dos colegas de trabalho e amigos. Isso pode resultar em
faltas no trabalho ou isolamento em situações sociais;
Crises no trabalho: algumas pessoas também podem
experimentar crises no ambiente de trabalho, o que pode incluir sintomas como
palpitações, tremores, desespero e choro;
Comentários ou indicações de
desespero:
alguns funcionários podem expressar sentimentos de desespero ou até mesmo
mencionar pensamentos suicidas. Tenha atenção a frases como “eu sou inútil” ou
“minha vida não tem sentido.”
Carlos Mayke, psicólogo do Guia da Alma, aconselha as lideranças
que se depararem com esses sintomas. “Existem diferentes tipos de ansiedade e
depressão e os sinais variam de pessoa para pessoa. Ao reparar em um padrão
onde diferentes sintomas se repetem e prolongam, é hora da liderança conversar
com o funcionário. De forma cuidadosa, o ideal é fazer perguntas, entender se o
colaborador gostaria de compartilhar o que está sentindo e oferecer apoio. O
gestor deve se colocar apenas como ouvinte e pode indicar formas da pessoa
buscar ajuda profissional através de benefícios que a própria empresa oferece,
ou então de meios que o colaborador possa acessar (como o CVV, por exemplo).
Um olhar para a cultura organizacional
Em novembro de 2023, o Ministério da Saúde atualizou a lista de doenças ligadas ao trabalho e adicionou no documento 165 novas doenças. “A percepção sensível das lideranças sobre os sinais e possíveis sintomas não é uma benfeitoria. Está além disso e aparece como uma necessidade na gestão de pessoas para reter e atrair talentos, ter uma atmosfera saudável no trabalho e nas equipes, além de trazer rendimento por causa do melhor desempenho em um ambiente que priorize a empatia e o cuidado”, diz Liana Chiaradia, CMO da Guia da Alma. Para ela, a saúde mental dos colaboradores deve ser prioridade na cultura organizacional.
“Quando a gente fala em cultura organizacional precisamos
considerar também que ambiente corporativo desejamos criar, pois ele também vai
influenciar na visão da marca empregadora”, explica Rodrigo Roncaglio, CEO da
Guia da Alma. “Criar ambientes colaborativos, com boas práticas de ESG,
colocando o bem-estar como uma prioridade, podem evitar que casos de doenças de
saúde mental no trabalho se tornem problemas gigantes”, finaliza Chiaradia.
Principais sinais de ansiedade e depressão
Para identificar os sinais de que a saúde mental de um colaborador não vai tão bem, é necessário conhecer os conceitos e principais sintomas. A ansiedade, por exemplo, é uma reação natural do ser humano, mas, quando é excessiva pode se tornar patológica, desencadeando preocupação excessiva, intensa e persistente, que pode levar ao medo de situações cotidianas, como: sair de casa, conversar com o gestor ou elaborar demandas do trabalho ou vida pessoal. Sintomas físicos também ocorrem, como: alta frequência cardíaca, dificuldade para respirar e formigamento.
Já a depressão é uma doença mental que apresenta um estado de desencorajamento e perda de interesse duradouro nos atos cotidianos. Alguns sintomas são perda de interesse, fadiga, distúrbio do sono, mudanças no apetite, dificuldade de concentração, culpa excessiva, sentimento de inutilidade e, até mesmo, pensamento suicida.
“Pessoas que lidam com depressão tendem a apresentar uma
diminuição significativa de energia, sintoma que pode ser erroneamente
percebido como ‘falta de vontade’. Quando conhecemos melhor sobre a depressão e
seus sintomas, somos capazes de oferecer o apoio necessário aos nossos
colaboradores e pessoas próximas. Esses sintomas são universais, mas podem se
apresentar de formas específicas no contexto do trabalho, como desinteresse
pelas tarefas, faltas frequentes, isolamento social e outros”, diz Carlos Mayke,
psicólogo do Guia da Alma.
Liana Chiaradia ressalta ainda que depressão e ansiedade podem
andar juntas. E, além delas, existem uma série de outras questões mentais, como
o burnout e estresse. Por isso, apenas um profissional de saúde pode fazer um diagnóstico.
Mas o líder e a empresa podem prestar apoio aos colaboradores e oferecer
benefícios em terapias, além de ambientes acolhedores.