Em entrevista, especialista do CEJAM fala sobre o
procedimento, que pode ser realizado gratuitamente pelo SUS
No
Dia Nacional da Mamografia (05), torna-se fundamental reforçar a importância da
prevenção e detecção precoce do câncer de mama, uma das principais causas de
morte entre as mulheres.
Segundo o Ministério da Saúde, esse é o tipo que
mais acomete a classe em todo o mundo, tanto em países em desenvolvimento
quanto em países desenvolvidos. No Brasil, foram estimados mais de 73 mil casos
novos de câncer de mama apenas em 2023.
Nesse contexto, a realização do exame é essencial
para identificar possíveis alterações nas mamas. No entanto, ainda existem
questionamentos entre a população a respeito do procedimento.
Pensando
nisso, em entrevista, a Dra. Maria Eugenia Romanutti, médica de Estratégia da
Saúde da Família do AMA/UBS Parque Novo Santo Amaro, gerenciada pelo CEJAM -
Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria
Municipal da Saúde de São Paulo, esclarece as principais dúvidas sobre o tema.
Confira
abaixo:
1- O que é a mamografia?
R: A mamografia é um
exame de Raio-X do tecido mamário, realizado por meio de um aparelho chamado
mamógrafo. Trata-se de um procedimento não invasivo, no qual as mamas são
posicionadas entre duas placas, sendo que uma delas aplica pressão no órgão
para obter uma espessura mais uniforme.
Embora
a etapa de aplicação de pressão seja temida por muitas mulheres, devido ao
receio de dor ou desconforto, ela é crucial para permitir a detecção de lesões
suspeitas que poderiam estar "escondidas" no tecido mamário.
2- A mamografia é direcionada apenas para quem já demonstra sintomas de
câncer de mama?
R:
A mamografia pode sim ser considerada um exame diagnóstico, quando solicitada
devido à suspeita de alguma lesão ou alteração, que foi identificada durante o
exame físico. Porém, também pode ser empregada como um exame de rastreamento,
no qual mulheres assintomáticas e sem alterações no exame físico realizam o
procedimento para detectar possíveis lesões suspeitas de câncer de mama. Mas é
sempre importante lembrar, existe uma idade recomendada para a realização do
procedimento.
3- Qual a sua periodicidade?
R: Quanto à
periodicidade para fins de rastreamento, o Ministério da Saúde sugere que, em
mulheres sem fatores de risco, o exame seja realizado a cada dois anos, dentro
da faixa etária recomendada, que é de 50 a 69 anos.
4- Então mulheres só podem realizar o exame a partir dos 50 anos?
R: Essa é a
recomendação, no entanto, há algumas exceções que se aplicam a pacientes que já
apresentaram alguma alteração em mamografia prévia. Nesses casos, a
periodicidade também pode diminuir, variando para exames semestrais ou anuais,
dependendo de cada situação.
Outra
exceção abrange o grupo de mulheres consideradas de alto risco para câncer de
mama. Esse grupo inclui aquelas mulheres com histórico familiar em parentes de
primeiro grau, com mutação nos genes BRCA 1 ou BRCA 2 comprovados, ou
portadoras de síndromes que aumentam o risco desse tipo de câncer, como
Li-Fraumeni e Cowden.
Nesses
casos, a mamografia pode ser recomendada a partir dos 35 anos.
5- E mulheres mais jovens, com menos de 35 e 50 anos, como podem se
cuidar nesse sentido?
R:
Como mulheres mais jovens tendem a ter a mama mais densa, ou seja, com mais
tecido glandular do que tecido de gordura, isso acaba dificultando a visualização
de lesões pela mamografia. Nesses casos, é preferível a realização de outro
método para avaliação do tecido mamário, como a ultrassonografia.
6- Qual é a diferença entre a mamografia e a ultrassonografia da mama?
R: A mamografia é um
exame que captura uma imagem da mama por meio de radiação (Raio-X), enquanto a
ultrassonografia utiliza um transdutor para emitir e receber ondas sonoras,
refletidas pelos órgãos ou tecidos avaliados. Geralmente, a ultrassonografia é
usada como complemento à mamografia para rastreamento, exceto em casos como
pacientes menores de 35 anos, como mencionado anteriormente.
A
ultrassonografia mamária não é indicada para o rastreamento do câncer de mama e
não substitui a mamografia. No entanto, é um método eficaz para avaliar outras
condições da mama, como distinguir entre cisto e nódulo sólido, examinar
doenças inflamatórias da mama, realizar avaliações durante a gestação e
puerpério e investigar implantes mamários, entre outras aplicações.
7- No geral, como a paciente deve se preparar para realizar a
mamografia?
R: Não há um preparo
específico para o exame, apenas é solicitado que não se utilize produtos como
cremes, desodorante ou talco nas mamas e axilas, pois esses podem deixar
resíduos na pele que comprometem a qualidade do exame. Lembrando que o
procedimento é contraindicado em gestantes devido à exposição à radiação.
8-Quem tem silicone também pode fazer a mamografia?
R:
Sim! As mulheres que têm prótese de silicone podem fazer o exame
tranquilamente, mas, claro, é essencial avisar seu médico.
É
importante salientar que, mesmo que a ultrassonografia seja um exame adequado
para avaliar a integridade da prótese, se há rupturas ou degenerações, por
exemplo, ela não substitui a mamografia para rastreamento de câncer de mama. Ou
seja, essas pacientes também devem realizar mamografia, caso estejam na faixa
etária para rastreio.
9- Como a mulher pode realizar esse tipo de exame de forma gratuita?
A
paciente que deseja ser atendida pela rede pública deve procurar a UBS de referência
da sua região para realizar o seu cadastro, que pode ser feito com o Agente
Comunitário de Saúde, se o território contar com Equipe de Estratégia Saúde da
Família.
A
partir desse momento, essa paciente cria um vínculo com aquela unidade, e já
tem direito a ser atendida pelos profissionais e usufruir dos benefícios da
atenção primária à saúde, que visa a promoção e proteção à saúde e prevenção de
agravos.
As
Unidades Básicas de Saúde que não contam com Programa de Saúde da Família
também têm o mesmo acompanhamento, com diferencial no cadastro, que deverá ser
realizado pelo usuário na própria UBS de referência.
10- Existe algum programa específico para cuidar de mulheres nesse
sentido via SUS?
R:
Sim! Nas unidades gerenciadas pelo CEJAM, por exemplo, contamos com a Linha de
Cuidado da Saúde da Mulher, em que proporcionamos assistência integral a todas
as pacientes.
Nesse caso, o
processo inicia-se com a solicitação de exames, seguido de consultas com
enfermagem, onde as pacientes contam com escuta qualificada e, se necessário,
realizam o exame de mamografia. Caso alguma alteração seja identificada, a
paciente é encaminhada para consulta médica, que avalia a necessidade de exames
complementares ou encaminhamento a especialidades como mastologia ou
oncomastologia.
Em
situações de exames altamente sugestivos de câncer, a solicitação da biópsia já
pode ser realizada pelo médico da Estratégia Saúde da Família na unidade de
atendimento, agilizando, assim, o processo de diagnóstico. Mesmo quando
encaminhadas para serviços secundários, as pacientes continuam sendo
acompanhadas pela equipe da Linha de Cuidado.
Esse acompanhamento mensal pelos profissionais visa
garantir que a paciente esteja aderindo ao acompanhamento e tratamento proposto
pelo clínico ou especialista.
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
Cejamoficial