Uma visita da vigilância sanitária pode acontecer a qualquer momento. E não importa se o salão está cheio, se a equipe está reduzida ou se o gerente do dia está em outra unidade. Quando os fiscais batem à porta, não há espaço para improvisos — ou a multa e até a interdição podem ser inevitáveis.
No entanto, para quem trabalha com alimentos, viver sob essa
pressão não precisa ser regra. Segundo Paula Eloize, consultora de alimentos e
fundadora da FoodSmart, o segredo está em tratar a segurança sanitária como parte
da rotina e não como um esforço de última hora.
“A fiscalização não é o inimigo. Ela só se torna um problema
quando a empresa não está fazendo o básico. Quando a segurança dos alimentos
está incorporada no dia a dia da equipe, o fiscal passa a ser apenas mais uma
pessoa confirmando aquilo que já está funcionando”, explica.
Com base em sua experiência acompanhando restaurantes,
shoppings, redes de fast food e estabelecimentos de alto padrão em todo o
Brasil, Paula lista os pontos que mais causam autuações — e como evitá-los com
organização e planejamento.
Documentação básica: o começo de tudo
Entre os erros mais comuns está a ausência — ou o extravio —
de documentos fundamentais para o funcionamento do estabelecimento. E isso não
significa apenas burocracia: esses registros são exigências legais e a falta
deles pode motivar sanções severas.
Todo restaurante precisa manter atualizados e facilmente
acessíveis: o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica (CNPJ); o alvará de
funcionamento da Prefeitura; a licença da Vigilância Sanitária e atestado do
Corpo de Bombeiros.
“É básico, mas muitos lugares só percebem que estão com
documentos vencidos no momento da fiscalização. O ideal é manter uma pasta
organizada, física e digital, com tudo sempre à mão”, orienta Paula Eloize.
Registros operacionais: a prova do cuidado diário
Mais do que falar, é preciso registrar. E aqui entra um dos
pontos mais valorizados pelos fiscais: os controles operacionais que mostram
que a empresa acompanha sua rotina de forma ativa.
Alguns registros obrigatórios e recomendados incluem:
temperatura de geladeiras e freezers (atualizada diariamente); registro de
limpeza e manutenção de equipamentos; plano de higienização e controle de
pragas e Manual de Boas Práticas e Procedimentos Operacionais Padronizados
(POPs).
“Esses documentos não devem existir apenas para cumprir
exigência. Eles precisam refletir o que realmente acontece na operação”,
ressalta a especialista.
Limpeza: visível, padronizada e constante
A limpeza da cozinha e das áreas de manipulação não pode ser
feita “quando dá”. Precisa estar integrada à rotina com padrões claros: o que
deve ser limpo, por quem, com qual produto e em que momento.
A consultora orienta a adoção de cronogramas e checklists
com tarefas diárias, semanais e mensais. Além disso, o uso de produtos
registrados no Ministério da Saúde é essencial.
“Limpeza não é só visual. Uma cozinha pode parecer
organizada e ainda assim ter riscos invisíveis. Por isso é tão importante
treinar a equipe e revisar os procedimentos com frequência”, alerta.
Equipe treinada: o elo mais forte (ou o mais frágil)
A segurança dos alimentos começa pelas mãos que os
manipulam. Por isso, treinar a equipe com frequência é tão importante quanto
manter os equipamentos funcionando.
Os treinamentos devem cobrir temas como a higienização
correta das mãos e utensílios, riscos de contaminação cruzada, conservação e
validade de insumos e o uso de equipamentos de proteção individual.
Além disso, é importante registrar todas as capacitações,
com nome dos participantes e data.
Checklists: pequenos hábitos que evitam grandes problemas
Para manter o padrão exigido sem sobrecarregar a equipe,
Paula recomenda criar rotinas de verificação simples, com responsáveis
definidos para cada área (cozinha, salão, estoque, bar).
Exemplos de checklists eficazes envolvem temperaturas
registradas na primeira hora do expediente, validade dos produtos abertos
revisada diariamente, EPIs verificados no início de cada turno e, claro, as
condições do ambiente inspecionadas antes do serviço.
“Com esse tipo de controle distribuído, os problemas são
identificados antes de virarem autuações”, afirma.
Selos de qualidade: confiança para o cliente, respeito da fiscalização
Selos que comprovam a qualidade do restaurante também fazem
muita diferença.
“É preciso olhar para esses certificados não apenas como uma
chancela técnica. Mas como a certeza de que ali existe acompanhamento
profissional, rotina de controle e compromisso com a saúde pública. É um
diferencial para o cliente e um respaldo durante a fiscalização”, explica Paula
Eloize.
O preço de ignorar as normas
Ignorar a legislação sanitária pode custar muito mais do que uma multa. Além da penalização financeira e de uma possível interdição, há o risco de ação judicial por intoxicação alimentar, perda de reputação e queda nas vendas.
“Basta uma única visita de um cliente à cozinha ou um post nas redes sociais para comprometer anos de construção de marca. A segurança dos alimentos precisa ser tratada como valor — não como obrigação”, conclui.
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