Em meio à
violência generalizada, MSF precisou tomar a difícil decisão de deixar dois
hospitais em Porto Príncipe por pelo menos três meses
Médicos Sem Fronteiras (MSF)
tomou a difícil decisão de suspender suas atividades no Centro de Emergência de
Turgeau e no Hospital de Trauma Carrefour, em Porto Príncipe, no Haiti, por um
período mínimo de três meses, após um ataque a
um comboio da organização que viajava entre essas duas instalações, no dia 15
de março. Este período permitirá uma avaliação sobre as condições de segurança
necessárias para o retorno das equipes de MSF.
No dia do ataque, MSF já havia
evacuado o Centro de Emergência de Turgeau, pois os combates e a linha de
frente do conflito avançaram perigosamente para perto da unidade de saúde, com
balas perdidas caindo no complexo hospitalar todos os dias. Durante a evacuação das equipes de Turgeau para o Hospital de Trauma de
Carrefour, veículos de MSF identificados de forma evidente, usando a única estrada
de acesso que separa as duas instalações, foram deliberadamente alvejados por
pelo menos um homem encapuzado de uniforme. Os veículos de MSF foram atingidos
15 vezes. O incidente forçou a organização a parar de usar essa
rota.
“O Centro de Emergência de Turgeau e o Hospital de
Trauma de Carrefour estão muito ligados em suas operações. Sem a possibilidade
de usar esta estrada para transferir pacientes, transportar equipes ou entregar
suprimentos médicos, essas instalações de saúde não podem mais funcionar. É por
isso que também fomos forçados a nos retirar do Carrefour a partir de 9 de
abril de 2025. Esta é uma decisão extremamente dolorosa, em um momento em que
as necessidades médicas vitais da população continuam a crescer”, explica
Benoît Vasseur, coordenador-geral de MSF no Haiti.
Nessas duas estruturas
médicas, as equipes de MSF observaram um aumento alarmante no número de vítimas
de violência. Entre janeiro e março de 2025, a organização tratou mais de 550
pessoas por traumas violentos. Ao mesmo tempo, essas duas instalações
realizaram mais de 3.600 consultas médicas e atenderam mais de 3.600 casos de
emergência no mesmo período. Essas eram as
únicas unidades médicas na área para oferecer atendimento gratuito às vítimas
de acidentes rodoviários e acidentes domésticos, ou para encaminhar os
pacientes para instalações apropriadas.
MSF continua suas atividades
em outras instalações médicas em Porto Príncipe e na região sul do Haiti. O Centro de Referência de Trauma de Tabarre continua com os
atendimentos a vítimas de queimaduras graves, acidentes e violência. O Hospital
Drouillard, em Cité Soleil, mantém um serviço de emergência 24 horas, que
inclui tratamento de saúde física e mental para sobreviventes de violência
sexual e de gênero. A clínica Pran Men'e, em Delmas, continua a oferecer
cuidados para essas sobreviventes, fornecendo apoio médico e psicológico
adequado, ao mesmo tempo que apoia a maternidade Isaïe Jeanty.
Desde 2021, MSF também vem
implantando clínicas móveis em vários locais para pessoas deslocadas e em
bairros mais vulneráveis em Porto Príncipe. No entanto, o transporte médico foi suspenso para todas as equipes de
MSF em Porto Príncipe. Por fim, na região sul, principalmente em Port-à-Piment
e nos arredores, MSF continua prestando atendimento obstétrico e neonatal de
emergência, além de serviços de saúde materna.
Há mais de 30 anos, MSF responde às grandes crises
que atingiram o Haiti – terremotos, furacões, epidemias de cólera – e continua
apoiando a população diante da violência atual. No entanto, a equipe de MSF não
pode continuar arriscando suas vidas para fornecer esse serviço. Anteriormente,
em 22 de novembro de 2024, a organização teve que suspender todas as operações
por cerca de três semanas devido a repetidos ataques e ameaças contra seus
profissionais. Este é o segundo incidente crítico que a organização sofre nos
últimos quatro meses, e MSF ainda aguarda os resultados das investigações
realizadas pelas autoridades haitianas.
“O sofrimento extremo das
pessoas no Haiti torna essa decisão ainda mais dolorosa, mas um médico ou
enfermeiro morto ou ferido não pode fazer nada pelos pacientes. Reiteramos
nosso apelo a todas as partes envolvidas para que respeitem a missão médica e
garantam a proteção das instalações de saúde, ambulâncias, pacientes e
profissionais”, conclui Benoît Vasseur.
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