Momentos em
família são o pontapé para criar o hábito desde pequenos; mas projetos em
bibliotecas escolares podem reforçar e dar suporte para o desenvolvimento da
leitura
Está procurando diversão em família? Que tal curtir
um bom livro com as crianças? Uma viagem pelas páginas de uma bela história tem
o poder de estimular o hábito da leitura desde cedo e cria conexão entre pais e
filhos. A leitura ainda permite que os pequenos explorem a imaginação, se
familiarizem com as letras e adotem a prática para o resto da vida.
“A leitura possibilita o desenvolvimento de uma
série de habilidades muito importantes, por exemplo, o raciocínio lógico, a
criatividade, o pensamento crítico. Possibilita a aquisição de novas
referências, então amplia o vocabulário. Possibilita ainda uma melhoria da
escrita. Quem lê mais, escreve melhor”, explica a pedagoga e diretora geral da
Escola Lumiar, Graziela Lopes.
Com tantos pontos positivos, estimular a leitura é
tarefa fundamental, principalmente em um país no qual os dados não são
favoráveis aos livros. Para se ter uma ideia, segundo o último levantamento
feito pela Retratos da Leitura no Brasil, o brasileiro não chega a ler cinco
livros por ano. Em nações como França e Suécia, este número quase triplica.
“É importante que a família possibilite, às
crianças, o acesso a livros que sejam interessantes para ela. Ter momentos de
leitura em conjunto, frequentar bibliotecas ou livrarias, também servem como
incentivo”, diz Graziela.
Não adianta apenas falar, os exemplos são mais
eficazes. Por isso, é importante apresentar o mundo dos livros às crianças cedo
para que tenham referência de que ler é gostoso.
“O contato com livros ou alguém contar uma história
e mostrar que vem de um livro, faz a diferença no interesse. Também é preciso
deixar a criança ler do jeito dela, interpretando as figuras, tendo contato com
as letras. Assim ela percebe que esses símbolos que estão no papel representam
algo e vai entendendo e aumentando a possibilidade de criar hipóteses de
escrita desenvolvendo habilidades fundamentais para a alfabetização e
letramento”.
A escola também tem papel primordial nessa
trajetória. Incentivá-los no ambiente escolar pode ajudar a transformar o
Brasil em um país com mais leitores. Além de trabalhos em sala de aula,
apresentá-los a um universo de obras literárias em uma biblioteca pode abrir
portas para reforçar o novo hábito. Mas esse ambiente precisa ser pensado para
atrair a atenção e ser convidativo.
Criando conceito
Na Escola Lumiar, a estrutura da biblioteca foi
planejada para transformar o espaço em um local que desperte o interesse dos
alunos. Há ambientes para interação, iluminação especial e uma arquitetura que
possibilita a utilização inovadora da área. O corpo docente também se dedica à
escolha de um acervo com gêneros literários e temas que sejam indicados para
cada faixa etária e perfil dos estudantes.
“Cabe à escola entender quais são os conteúdos
adequados para cada faixa etária e trazer temas que sejam atuais e relevantes
para cada etapa. Entender as preferências de cada turma e de cada criança e
sugerir opções interessantes, principalmente quando os estudantes estão
começando a ler, é fundamental para gerar prazer na leitura”.
Compreender o interesse dos alunos e auxiliá-los a
também fazerem as próprias escolhas é outro método utilizado para incentivar as
turmas. “Apresentar uma diversidade de possibilidades e gêneros para ampliar
repertório, mas deixá-los escolher aquela temática que vai ser mais envolvente
para eles, é uma possibilidade muito bacana de engajamento”, diz a
especialista.
Outro ponto importante para a Escola Lumiar é
respeitar o momento e o ritmo de cada criança. O caminho tem sido equilibrar o
tipo de leitura para atender as necessidades dos alunos, assim eles ganham
confiança para prosseguir sua jornada.
“Temos crianças menores que, às vezes, dão conta de
ler livros mais densos. Há outras que demoram um pouco mais para desenvolver
esse tipo de habilidade. Então, diversificar o tipo de leitura numa mesma turma
é uma possibilidade muito interessante para deixar o nível adequado para cada
um. Nem muito fácil, nem muito dificil. Assim garantimos melhores oportunidades
para que aprendam mais vocabulário e desenvolvam fluência”.
Foco também na adolescência
Projetos diferenciados para garantir a atenção dos
adolescentes são desenvolvidos. Na Lumiar, as bibliotecas são olhadas como um
espaço também de troca de ideias. A escola apresenta uma diversidade de
estilos, de escritas e de gêneros textuais.
“Se a gente não toma cuidado com o engajamento,
fica mais complicado na adolescência. A biblioteca pode ser utilizada para
diferentes tipos de atividade. Pode ser um local onde se contam histórias, onde
se fala sobre literatura, onde descobrimos gêneros novos ou mesmo assuntos que
nem sabíamos que existiam e que passam a fazer parte da lista de coisas que
queremos conhecer mais”.
Outra maneira de envolvê-los ocorre com as comissões.
A atividade acontece com alunos dos dois aos 17 anos. O interesse de alguns
estudantes pela biblioteca é tão grande que decidem montar e fazer parte de
comissões relacionadas com o cuidado da biblioteca ou que utilizem esse espaço
para realizar suas ações. Um dos objetivos dos estudantes é aprimorar o espaço.
Refletindo sobre uma melhor maneira de organizá-lo, se aprofundam na descoberta
dos gêneros literários e têm ainda a oportunidade de desenvolver uma série de
habilidades relacionadas à gestão. Temos até comissões de estudantes do Ensino
Médio e do Fundamental 2, criada para ler histórias para estudantes do Infantil
e Fundamental 1. As comissões são, na prática, uma oportunidade fantástica para
engajá-los e envolvê-los na gestão participativa, um pilar importante da
metodologia Lumiar, conta a diretora geral.
Seguindo a sistemática da escola, que trabalha com
as metodologias ativas, os estudantes estão constantemente criando e
desenvolvendo projetos. Escrever um livro é um produto final bastante popular
entre as turmas. Muitas obras já foram redigidas pelos alunos e elas também
podem ser encontradas nas bibliotecas Lumiar. Esse espaço também é palco para
autores de livros infantis, infanto-juvenis e ilustradores, mestres de projetos
na Lumiar, conduzirem atividades com os estudantes, conectando suas paixões.
Existem ainda os bookclubs, que são clubes formados pelos alunos para leituras,
discussão e reflexão de obras literárias específicas.
Os educadores também estão preparados e atentos
para propor atividades que visem promover a leitura de forma prazerosa para que
o aluno fique entusiasmado com o processo e crie aptidões e gosto pelo universo
dos livros. Esta é a dica de ouro que vale, inclusive, para outras instituições
de ensino.
“É importante que o professor compreenda o
momento em que os estudantes estão, seus interesses e necessidades de
aprendizagem. A partir daí, pode propor um momento de leitura mais
independente, no qual cada um possa escolher o seu livro, auxiliando o aluno a
garantir que aquela obra é adequada para idade e etapa de desenvolvimento dele.
Ou pode trazer uma leitura com uma linguagem um pouco mais difícil para ampliar
o repertório e propor que seja feita em grupo, em voz alta, parando em momentos
estratégicos para ajudar a turma na compreensão, por exemplo”.
Além de incentivar a imaginação e outras
habilidades, a leitura tem também um outro poder, avalia Graziela. “Quando
lemos narrativas com boas tramas, isso traz a possibilidade de se viver
histórias que não são as nossas. Também estimula o desenvolvimento da empatia e
do pensamento crítico. Traz ainda bagagem para a pessoa perceber melhor a si
mesmo e o mundo. Eu diria que a leitura tem um papel bastante central no
desenvolvimento de cidadãos responsáveis, conscientes e autorais”, finaliza.
Dicas para criar o hábito da
leitura
>Apresente o mundo da leitura para seu filho.
Conte uma história e mostre de onde ela vem. Mostre as figuras, deixe que ele
manuseie as páginas e até conte a história do jeito dele.
>Deixe a criança ler do jeitinho dela,
interpretando as figuras, tendo contato com as letras e descubra que esses
símbolos que estão no papel representam algo. Assim, vão aumentando a
possibilidade de criar hipóteses de escritas para depois serem
alfabetizadas.
>Crie um momento de leitura em família. Ver que
os pais e irmãos se divertem em meio a livros vai criar mais estímulos. Afinal,
os pequenos também aprendem pelo exemplo.
>Respeite o momento da criança. Quando ela está
começando a fase da alfabetização, ainda tem dificuldade de ler num ritmo
rápido. Então, nada de críticas. Ao contrário, estimule ela a seguir no próprio
ritmo e valorize cada conquista.
>Apresente uma variedade de materiais para ler e
que trazem informações interessantes, revista, jornal, placa na rua, avisos.
Assim ela embarca no mundo da leitura e percebe a importância das palavras
escritas de uma forma diferenciadas Isso gera engajamento e estimula
positivamente a alfabetização.
Sugestão de livros
>A casa da árvores
Autora: Marije Tolman
Indicação: 3 a 7 anos
>O Cabelo de Lelê
Autora: Valéria Belém
Indicação: 3 a 8 anos
>Como vai o Planeta?
Autor: Quino
Indicação: 6 a 8 anos
>Flicts
Autor: Ziraldo
Indicação: 8 a 10 anos
>Contos africanos
Autor: Ernesto Rodriguês Abad
Indicação: acima de 10 anos
>A menina que roubava
livros
Autor: Markus Zusak
Indicação: acima de 13 anos
>O outro pé da sereia
Autora: Mia Couto
Indicação: acima de 15 anos
>Quarto de despejo
Autora: Maria Carolina de Jesus
Indicação: acima de 16 anos
Fonte: Rosangela Jacob, diretora-pedagógica da
Escola Lumiar Vila Olímpia
Fonte: Graziela Lopes - pedagoga e diretora-geral
da Escola Lumiar