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segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Segundo estudos, crianças com pets desenvolvem habilidades múltiplas

 

Crianças que convivem com animais aprendem a fazer leitura corporal, um elemento fundamental para a empatia

 

Conviver com animais traz importantes benefícios na vida das crianças, pois ajuda na formação de competências para a vida adulta. É uma forma de experimentar o mundo físico e social, estimulando habilidades motoras e cognitivas, e, ao mesmo tempo, diminuindo problemas emocionais por meio do vínculo afetivo com o animal. 

Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, preceptora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); o desenvolvimento infantil é dividido em crescimento biológico (aspecto físico) e o desenvolvimento das habilidades e das capacidades (cognitivo, emocional e social). 

“Apenas 30% do desenvolvimento infantil é genético, e 70% depende de estímulos externos (brincadeiras, atividades e exercícios), principalmente até os 3 anos de idade. Quanto mais estímulos ao cérebro, mais conexões neurológicas se formam, e a espontaneidade na relação da criança com os animais favorece essa evolução em diversas esferas”, afirma a psiquiatra. 

Estudos mostram que crianças com animais de estimação desenvolvem benefícios nas seguintes áreas:

 

Benefícios físicos

Um estudo publicado no American Journal of Public Health, realizado por pesquisadores da Universidade St. George, em Londres, no Reino Unido, mostrou que crianças que interagem com seu animal tendem a não desistir com facilidade de atividades que julgam ser difíceis. Junto com o animal, a criança tenta novamente, com persistência, até conseguir realizar seu objetivo, de maneira que nenhum programa de televisão, jogo, videogame ou brinquedo conseguiu estimular. 

“Além disso, crianças que interagem com animais possuem maior desenvolvimento motor, incentivando a realização de atividades de coordenação motora global (engatinhar, ficar em pé, andar, equilibrar-se, correr, subir e descer escadas) e atividades de coordenação motora fina (desenhar, pintar, segurar objetos pequenos)”, reforça a psiquiatra.

 

Benefícios psicológicos

Um estudo realizado pela Universidade de Oklahoma e publicado no site do Centers for Disease Control and Prevention (CDC), nos Estados Unidos, acompanhou 643 crianças de 4 a 10 anos por 18 meses e concluiu que as crianças que convivem com animais têm menos probabilidade de sofrer de ansiedade infantil. 

Já outra pesquisa, feita pelo The Human Animal Bond Research Institute (HABRI), nos Estados Unidos, mostrou que 74% das crianças com pets têm um maior bem-estar mental. 

“Cuidar de um bichinho (alimentar, educar, treinar) auxilia na distração da mente, tirando o foco de pensamentos negativos. Isso faz a criança se sentir mais segura, confiante, útil, valorizada e importante, ajudando na sua autoestima”, pontua Danielle Admoni. 

Além disso, o pet ajuda a criança a se sentir competente e responsável, de maneira muito mais eficaz do que realizar tarefas cotidianas. Os animais proporcionam experiências que envolvem paciência, autocontrole, respeito e autonomia.

 

Benefícios sociais

Segundo um estudo da Universidade de Cambridge, crianças que têm vínculo forte com os pets ajudam mais aos outros, aprendem a dividir e interagem mais. A pesquisa analisou o comportamento de crianças de 2 a 12 anos de idade. 

De acordo com a psiquiatra, quando uma criança convive com algum animal, ela aprende a fazer leitura corporal, um elemento fundamental para a empatia (capacidade de compreender o sentimento ou a reação do outro). Assim, ela passa a enxergar o próximo com mais facilidade, como alguém com características e sentimentos diferentes dos seus. 

“Isso estimula a criança a não ser egoísta, a não olhar apenas para si mesma, tornando-se um ser humano mais sociável, compreensivo e empático. O animal também favorece a aproximação entre pessoas. Crianças mais tímidas, diante de situações novas e com pessoas desconhecidas, tendem a se fechar. A presença do pet tira o foco de atenção à criança, fazendo-a se sentir mais relaxada e segura para se relacionar com os outros”.

 

Benefícios cognitivos

O processo de cognição envolve o desenvolvimento de linguagem, pensamento, raciocínio, memória, atenção, percepção e imaginação. É nessa área do desenvolvimento que a criança percebe o ambiente externo em que vive e que nos relacionamos. Este processo passa por fases, sendo que a passagem de uma para outra depende dos estímulos que a criança recebe e da reação própria sobre esse novo conhecimento. 

Pesquisas da Academia Americana de Neurologia mostram que as crianças que interagem constantemente com os animais apresentam maior desenvolvimento cognitivo, obtêm pontuação maior em testes de QI (Quociente de Inteligência), melhoram o rendimento na leitura e possuem mais criatividade. 

“Vale lembrar que também haverá situações em que a criança poderá sentir raiva ou frustração, caso o animal não a obedeça ou morda suas coisas. Provavelmente, a primeira reação dela será de querer bater ou gritar. É aí que os adultos devem interceder e explicar que o animal não sabe o que está fazendo e orientar a criança de forma a aprender a lidar com ele com respeito e dedicação”, finaliza Danielle Admoni.


O cuidado da saúde mental entre os brasileiros

Questões relacionadas ao cuidado com a saúde mental têm sido cada vez mais desmistificadas, em especial após a pandemia, quando boa parte da população passou a enfrentar distúrbios emocionais e falar abertamente sobre a importância do tratamento


Nunca foi tão importante cuidar da saúde mental, como tem sido nos últimos dois anos. A pandemia de COVID-19, entre suas consequências, trouxe um alerta para o cuidado com as pessoas. O isolamento social e o medo afetaram a sociedade, aumentando casos de doenças como ansiedade, depressão e insônia.

A Vigilantes do Sono, healthtech referência no combate à insônia e que recentemente expandiu suas linhas de cuidado para atuar também em outros aspectos relacionados à saúde mental e ao bem-estar, mapeou a saúde emocional dos brasileiros em um grupo de 42 mil colaboradores de empresas de diversos segmentos, e constatou: 53% se incomodavam com a qualidade do sono, 48% apresentavam sinais de ansiedade e 21% de depressão. Além disso, estudos de órgãos importantes, como da Organização Mundial de Saúde - OMS, mostram que o Brasil está entre os países mais ansiosos e depressivos do mundo.

Um detalhe importante é a relação entre problemas com o sono e as doenças destacadas. Os números sobem para 59% de ansiedade e 30% de depressão, e em casos de insônia clínica moderada a grave (11%), os números chegam a 79% e 52% dos casos, como pontua Laura Castro, fundadora e psicóloga da Vigilantes do Sono, em um artigo publicado sobre o tema.

“Durante a pandemia, esses números mostram como as pessoas passaram a sofrer com mais problemas de saúde mental. Há mais pessoas ansiosas e deprimidas, além do próprio Burnout, que atinge 30% dos trabalhadores brasileiros. É preciso que as empresas se atentem à saúde do seu colaborador”, complementa Laura.

O saldo positivo é que um estudo feito pela Pearson em abril de 2022, mostra que os trabalhadores brasileiros passaram a se importar mais com a saúde mental. Cerca de 61% concordam que as empresas precisam prover uma cobertura melhor dos planos de saúde contando com atendimentos psicológicos, e 71% acreditam que esses serviços deveriam ser gratuitos.

Pensando nisso, a Vigilantes do Sono conta com uma série de cuidados especializados, oferecendo terapia digital para quem tem ansiedade ou depressão, além de cuidar do sono durante a menopausa e para trabalhadores que não possuem horário tradicional de trabalho.

Com a nova frente de atuação, o aplicativo da Vigilantes do Sono foi  atualizado de forma a comportar múltiplas linhas de cuidado. Por meio da aplicação de um questionário, o sistema agora indica a linha de cuidado mais adequada e, ainda, a possibilidade de navegar entre as demais terapias como o método para insônia, explica o CEO da healthtech, Lucas Baraças.

A nova frente de atuação faz parte da estratégia de crescimento da Vigilantes, cujo objetivo é melhorar a experiência do app, uma vez que a insônia está muito relacionada a outras patologias. Segundo Lucas, a ideia é replicar o sucesso do programa da insônia, nas novas jornadas. 

“Em termos populacionais existe uma sobreposição entre pessoas que sofrem com insônia e que têm ansiedade e depressão. Porém na prática, existem poucas pessoas que buscam terapia para sono, enquanto que a busca por terapia por depressão e ansiedade é enorme. Nossa ideia é disponibilizar uma plataforma segura e eficiente, com sessões de interação curta com a Sônia, nossa inteligência artificial, que possa replicar o sucesso do tratamento da insônia, desta vez com outros aspectos relacionados à saúde mental e ao bem-estar”, destaca o executivo.

 

Vigilantes do Sono

https://www.vigilantesdosono.com/


Nutricionista fala sobre obesidade e explica as questões que fazem a geração atual ser a mais obesa do Ocidente

 

Dalila Leal comenta que a obesidade pode se tornar fator de risco para doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, entre outras


A Organização Mundial de Saúde afirma que a obesidade é um dos mais graves problemas de saúde que o mundo tem que enfrentar. Em 2025, a estimativa é de que 2,3 bilhões de adultos ao redor do mundo estejam acima do peso, sendo 700 milhões de indivíduos com obesidade, isto é, com um índice de massa corporal (IMC) acima de 30. 

Segundo Dalila Leal, nutricionista, a obesidade é uma doença crônica inflamatória multifatorial caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal. "Pessoas com esse quadro estão propensas a apresentar episódios de apneia do sono, dificuldade para se movimentar, cansaço frequente e distúrbios no ciclo menstrual das mulheres, entre outros", comenta.  

No Brasil, essa doença crônica aumentou 72% nos últimos treze anos, saindo de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019. Diante dessa prevalência, vale chamar a atenção que, de acordo com a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). A frequência de obesidade é semelhante em homens e mulheres. Nestas, a ela diminui com o aumento da escolaridade. 

Já em relação à obesidade infantil, o Ministério da Saúde e a Organização Panamericana da Saúde apontam que 12,9% das crianças brasileiras entre 5 e 9 anos têm obesidade, assim como 7% dos adolescentes na faixa etária de 12 a 17 anos. 

Dalila ressalta que obesidade pode ocasionar sérias consequências para a saúde da pessoa e pode se tornar fator de risco para diversas doenças, como, por exemplo, cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes tipos 2, ​​distúrbios musculoesqueléticos como a osteoartrite, alguns tipos de câncer, como do endométrio, de mama, de ovários, de próstata, de fígado, de bexiga e colorretal, entre outros.

 

Geração mais obesa do Ocidente 

Para a nutricionista, nas últimas décadas, a população aumentou o consumo de alimentos industrializados com elevada quantidade de sódio, açúcar, gordura. Estas características favorecem o aumento da ingestão alimentar com alta densidade calórica e, portanto, contribuem para o desequilíbrio energético.  

"Além disso, a rotina corrida no trabalho e estudos tem favorecido ao ganho de peso, muitas vezes devido à necessidade de realizar as refeições num curto espaço de tempo. Outro ponto são as escolhas de alimentos rápidos que nem sempre são saudáveis e, também a distração ao se alimentar, pois comem mexendo no celular, assistindo televisão e isso acaba atrapalhando o mecanismo de saciedade", explica Dalila.  

Pensando nas crianças, o acesso crescente à tecnologia está fazendo com que elas deixem de realizar brincadeiras presenciais, como, por exemplo, correr e pular corda.  

"A junção de menos atividade físicas, alimentação industrializada com um maior uso de telas tem levado as crianças, adolescentes e adultos a obesidade", comenta a nutricionista.

 

Tratamento 

O primeiro ponto que Dalila destaca, em sua consulta, é que a obesidade não é uma simples alteração estética e sim uma patologia. 

"Durante a consulta, de um paciente que apresenta obesidade, é de suma importância avaliar as causas que levaram ao excesso de peso, investigar possíveis morbidades associadas", comenta Dalila.  

A etiologia da obesidade é complexa e multifatorial, resultando da interação de genes, ambiente, estilo de vida e fatores emocionais, sendo preciso, os nutricionistas, entenderem de maneira minuciosa como a interligação de fatores impacta na vida do paciente.  

"Com a análise do caso completa de paciente, eu traço estratégias para melhorar o quadro da saúde da pessoa. Além disso, deixo claro que eu e o paciente somos um time e precisaremos agir juntos para alcançar o objetivo que é a perda de peso e a melhora na saúde", finaliza Dalila.


Câncer de mama: inovações nos tratamentos contra a doença

Especialista da Rede de Hospitais São Camilo de SP destaca benefícios da ciência, como medicamento que pode potencializar o tratamento a partir de anticorpos conjugados



Com as novas tecnologias e o avanço da ciência, surgem também novas formas de combate doenças, como o câncer de mama. Este tipo de tumor é mais comum entre as mulheres no Brasil e no mundo e tem sido um dos principais objetos de estudo na busca incessante pela cura da doença.
 
Para o ano de 2022, conforme o Instituto Nacional de Câncer (Inca), foram estimados 66.280 novos casos de câncer de mama no país, ou seja, uma incidência de 43,74 ocorrências para cada 100 mil mulheres.

Normalmente, os tratamentos disponíveis são cirúrgicos, radioterápicos e sistêmicos, e podem ser injetáveis e oral. “A cirurgia ainda é o tratamento padrão curativo para câncer de mama localizado. A quimioterapia também faz parte deste tratamento e pode ser feita antes e depois da cirurgia. Já a radioterapia é um tratamento complementar, para pacientes que retiraram uma parte da mama ou tem uma axila positiva (com doença linfonodal)”, afirma Haila Bockis Mutti, oncologista da Rede de Hospitais São Camilo de SP.

Tratamentos como hormonioterapia, para pacientes que expressam receptores hormonais; terapia-alvo, que trata pacientes HER2 positivos; e anticorpo-droga conjugado são opções válidas, a depender do tipo e do estadiamento do câncer de mama.

Estudos recentes apontam um medicamento que pode potencializar o tratamento a partir de anticorpos conjugados. Uma pesquisa publicada no The New England Journal of Medicine mostra que um remédio chamado trastuzumab deruxtecan colaborou com uma redução significativa da doença.

“Essa é uma medicação usada para pacientes com câncer de mama que expressam a proteína HER2 e estão num cenário de doença metastática, que já foram submetidas a um tratamento com bloqueadores de HER. É um estudo positivo, porque mostrou uma taxa de resposta alta no controle da doença e redução de tumor. Também aponta uma diminuição no risco de morte em 45%”, destaca a médica.

O remédio já é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, para ser utilizado especificamente nestes casos. Os impactos da medicação mostram-se positivos para as pacientes, quando se trata de sobrevida global, livre de progressão e em taxa de resposta para o controle da doença.

Outra novidade que visa ajudar pessoas com câncer de mama é a introdução da imunoterapia no tratamento de quimioterapia pré-cirúrgica. “Agora foi introduzida a imunoterapia junto com a quimioterapia, para pacientes com câncer de mama triplo negativo. Então, para pacientes com doença localizada e indicação de quimioterapia prévia, é possível associar a imunoterapia junto com o tratamento”, complementa a oncologista.

Estudos desenvolvidos pelo Hospital Johns Hopkins, nos Estados Unidos, também indicam inovações nos tratamentos. Pesquisadores constataram a possibilidade de analisar um DNA “oculto”, através da avaliação do sangue do paciente com câncer.

A pesquisa implica não só no tratamento do câncer de mama, mas também em tratamento de tumores em geral. No Brasil, esse método ainda não é utilizado, mas segue em estudos clínicos.

“Imagina que o paciente fez uma sessão de quimioterapia e, em seguida, o sangue dele será analisado, para saber se tem o DNA da célula tumoral. Isso é muito interessante para avaliar a eficácia do tratamento e se há doença residual. Para pacientes que fizeram cirurgia, será possível avaliar se elas devem receber quimioterapia adjuvante, por exemplo”, explica Haila.

Tanto a evolução das técnicas para o cuidado dos pacientes como a inovação dos remédios possibilitam a busca por melhor qualidade de vida, além de reduzir riscos de óbito entre a população.

Até o momento, o aparecimento do câncer de mama não tem exatamente uma causa aparente. Mas sabe-se que fatores como idade, genética, hábitos e até mesmo causas ambientais podem comprometer a saúde. De acordo com o Inca, entre 80% e 90% dos casos de câncer estão associados a causas externas.

Com isso, cuidados com o estilo de vida são indicados na prevenção da doença. O acompanhamento médico e a realização de exames periódicos, principalmente para mulheres a partir dos 40 anos, também são de extrema importância. Já a questão do diagnóstico precoce faz toda a diferença, visto que o câncer de mama pode ser curado em mais de 90% dos casos, quando diagnosticado em fase inicial.


Hospital São Camilo

@hospitalsaocamilosp


Resistência bacteriana: estudos mostram que a pandemia agravou o problema

O uso indiscriminado de antibióticos para o tratamento de infecções como a bacteriúria assintomática, por exemplo, também vem impulsionando o desenvolvimento de superbactérias


O uso incorreto e excessivo de antibióticos contribui para a formação de bactérias cada vez mais fortes e letais. Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde (OMS), a resistência bacteriana vai provocar, até 2050, a perda de 10 milhões de vidas em todo o mundo, o que significa uma morte a cada três segundos1,2. Em 2019, a OMS indicou a resistência de bactérias a antimicrobianos como um dos principais problemas de saúde pública do século XXI e uma das 10 principais ameaças à saúde pública global3.

Estudos no Brasil e no exterior mostram que a prescrição exagerada de antibióticos durante a pandemia do coronavírus agravou o problema: mais de 70% dos pacientes internados por Covid-19 receberam antibióticos4,5. Outro fator que vem contribuindo para o aumento da resistência bacteriana na população é o uso indiscriminado de antimicrobianos de amplo espectro para o tratamento de infecções leves, como as do trato urinário baixo, como as cistites, por exemplo, o que leva à seleção de cepas de bactérias cada vez mais resistentes.

“A medicina é muito dinâmica e antibióticos que eram prescritos há cinco anos hoje não são mais recomendados da mesma maneira. Isso porque as bactérias têm se tornado mais resistentes, sem falar que alguns desses medicamentos podem provocar graves problemas musculares e do sistema nervoso”, ressalta a ginecologista e obstetra do Conjunto Hospitalar do Mandaqui, Dra. Patrícia de Rossi.

Professora de Medicina na capital paulista, Dra. Patrícia explica que um conjunto de recomendações com as evidências brasileiras e mundiais mais atuais sobre o tratamento da infecção urinária estão no Consenso, publicado em 2020, por quatro importantes associações médicas: SBI (Sociedade Brasileira de Doenças Infecciosas), Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia), SBU (Sociedade Brasileira de Urologia) e SBPC/ML (Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial). O documento elenca os medicamentos que devem ser priorizadospara o tratamento das infecções do trato urinário (ITU), considerando-se o perfil de efeitos colaterais ou a maior chance de induzir resistência bacteriana, como as quinolonas6.

O uso empírico de antimicrobianos de amplo espectro para infecções leves contribui para a seleção de cepas cada vez mais resistentes, limitando as opções terapêuticas para casos graves com infecção sistêmica”, aponta o relatório, logo em sua introdução.



Infecção do trato urinário (ITU)

A infecção urinária afeta, anualmente, mais de 10% das mulheres adultas, sendo que mais da metade da população feminina terá ao menos um episódio sintomático durante a vida7. Após a primeira ocorrência, 24% das mulheres jovens serão novamente acometidas pelo problema no intervalo de seis meses8. “Mulheres têm fatores anatômicos que facilitam com que as bactérias saiam do canal intestinal e subam pela uretra (canal do xixi), se prendendo na bexiga e causando infecção. Isso sem falar no comprimento do canal da uretra feminina que é quatro vezes menor do que nos homens, muito mais fácil para a bactéria escalar”, explica o urologista Dr. João Antônio Pereira Correia, que assina o Consenso junto com a ginecologista Dra. Patrícia Rossi.

A infecção do trato urinário pode se manifestar de três maneiras diferentes: com a presença de bactérias no trato urinário, mas sem reação inflamatória, que é chamada de bacteriúria assintomática; na forma de cistite, a inflamação da bexiga, com manifestação de dor, desconforto abdominal e ardência ao urinar, bastante comum nas mulheres; e como pielonefrite, que é a infecção renal, forma mais grave da doença.

O Consenso das sociedades de especialistas defende que a bacteriúria assintomática não deve ser tratada, com exceção de gestantes, porque aumenta o risco de parto prematuro, e antes de algum tipo de cirurgia ou instrumentação do canal urinário. “Se insistirmos em tratar uma bactéria que está na bexiga, sem causar nenhum desconforto no paciente, ou apenas um cheiro forte na urina, prescrevendo antibióticos para bactérias cada vez mais incomuns, muitas vezes até por via endovenosa, podemos estar tratando desnecessariamente, gerando risco de danos e de resistência bacteriana, quando poderíamos optar pela indicação do aumento da ingestão de líquidos para solucionar o problema”, recomenda Patrícia de Rossi.

Já para o tratamento da cistite, seja aguda ou de repetição, o relatório das sociedades aponta a fosfomicina trometamol (em dose única) e a nitrofurantoína (100 mg, a cada 6 horas, durante cinco dias) como melhores opções terapêuticas.  “As duas medicações têm boa eficácia e, como são utilizadas somente para a infecção urinária, os índices de resistência bacteriana são muito baixos. A fosfomicina ainda tem a vantagem da dose única, em sachê para diluição em água, o que facilita porque muita gente tem dificuldade para engolir comprimidos, ainda mais em horários desconfortáveis, por vários dias”, ressalta o médico.

“A fosfomicina, além da praticidade da posologia, alcança concentrações urinárias altas muito rapidamente, livrando a paciente dos sintomas e das bactérias. Também não é usada na indústria veterinária, outro fator que evita a resistência bacteriana, já que não vai estar presente na carne que a gente come, e tem a vantagem de permanecer na urina por alguns dias, estendendo o tempo de atuação contra as bactérias”, acrescenta Dr. João Antônio.
O urologista diz que nos casos de cistite de repetição (ITU recorrente), além do antibiótico, é preciso observar algumas medidas comportamentais na mulher, como, por exemplo, a ingestão de líquidos, se tem o hábito de prender o xixi, se o intestino é preso, a forma de higienização após ida ao banheiro e se faz uso de espermicidas, o que pode colaborar com a contaminação local. “Quando você bebe mais água, em teoria, você está sempre lavando a bexiga. Com o aumento do fluxo urinário, você evita que essa bactéria tenha tempo de se fixar na bexiga, porque a infecção só ocorre quando a bactéria se prende na bexiga”, afirma.


Zambon

https://www.zambonpharma.com/br/pt/

 

 

Referências:

1.SBPC/ML. OMS alerta contra bactérias super-resistentes. Disponível em: http://www.sbpc.org.br/noticias-e-comunicacao/oms-alerta-contra-bacterias-superresistentes/. Acessado em 19/09/2022.

2. Kumarasamy KK, Toleman MA, Walsh TR, et al. Emergence of a new antibiotic resistance mechanism in India, Pakistan, and the UK: a molecular, biological, and epidemiological study. Lancet. 2010;10(9):597-602. Disponível em: https://www.thelancet.com/article/S1473-3099(10)70143-2/fulltext. Acessado em 19/09/2022.

3. OPAS. Dez ameaças à saúde que a OMS combaterá em 2019. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/17-1-2019-dez-ameacas-saude-que-oms-combatera-em-2019 Acessado em 19/09/2022.

4. Huttner B, Catho G, Pano-Pardo JR, et al. COVID-19: don’t neglect antimicrobial stewardship principles! Clin Microbiol Infection. 2020;26(7):808-810.

5. Fiocruz. Detecção de bactérias resistentes a antiióticos triplicou na pandemia. Disponível em: https://portal.fiocruz.br/noticia/deteccao-de-bacterias-resistentes-antibioticos-triplicou-na-pandemia. Acessado em 19/09/2022.

6. Rossi P, Cimerman S, Truzzi JC, et al. Joint report of SBI (Brazilian Society of Infectious Diseases), FEBRASGO (Brazilian Federation of Gynecology and Obstetrics Associations), SBU (Brazilian Society of Urology) and SBPC/ML (Brazilian Society of Clinical Pathology/Laboratory Medicine): recommendations for the clinical management of lower urinary tract infections in pregnant and non-pregnant women. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1413867020300283?via%3Dihub#bib0370 Acessado em 19/09/2022.

7. Fihn SD. Prática clínica. Infecção aguda do trato urinário descomplicada em mulheres N Engl J Med. 2003;349:259-266.

8. Nicolle LE. Atualização em infecção do trato urinário adulto. Curr Infect Dis Rep. 2011;13:552-560.


Saúde 4.0 tem desenvolvimento barrado pela falta de dados estruturados e investimentos na digitalização na ponta

Cada vez mais essencial para todos os setores, o acesso à internet faz absoluta diferença na qualidade da Saúde praticada no País. A automação de uma série de serviços, desde recepção e histórico de atendimento, até o monitoramento individual de cada paciente durante uma internação ou bateria de exames. Os sistemas operacionais do hospital e a gestão das próprias equipes também podem, atualmente, ser facilmente administrados digitalmente. 

No entanto, a todo tempo, percebemos dois “Brasis”. O Brasil dos hospitais de ponta nos grandes centros urbanos e o Brasil dos postos de saúde sem eletricidade, equipamentos, insumos e profissionais. Que dirá internet e inteligência artificial. 

Outra adversidade é a falta de atuação na Saúde Primária, notória a ausência de investimentos até mesmo em saneamento básico. Em todas as cidades, incluindo as metrópoles mais ricas do país, existem bairros e comunidades, onde a população ainda não tem acesso a água tratada e esgoto, condição sanitária mínima. 

Sem contar a economia de recursos financeiros que poderia acontecer principalmente na Saúde Terciária, já que uma população mais saudável e atendida em primeira instância (UBSs e Usafas, por exemplo) evitaria ou diagnosticaria precocemente doenças graves. E teria maior possibilidade de sucesso em tratamentos no início dos sintomas, evitando custos ao sistema em procedimentos de alta complexidade, como internações e cirurgias. 

Essas dificuldades enfrentadas pelo setor podem ser divididas entre Básicas e Técnicas. 

As básicas incluem acesso à internet nas unidades de saúde e nas residências em locais mais distantes, o que facilitaria a ampliação da telemedicina no Brasil; além da falta de computadores e smartphones para coleta de dados e, para os profissionais, treinamento e entendimento do benefício da tecnologia na formação e atuação no mercado da Saúde. Este último aspecto, principalmente, de muita resistência em boa parte das implantações. 

Já no âmbito técnico, os principais impasses estão diretamente relacionados à falta de dados estruturados, sistemas para digitalização de tais dados e históricos clínicos, e falta de processamento adequado para todo esse conteúdo. Sem contar a falta de padronização nos sistemas, porque cada um “fala sua própria língua” e não conversam entre si. 

Esta digitalização superficial dos hospitais e clínicas limita-se quase exclusivamente às áreas administrativas e financeiras, não alcançando a ponta do serviço, no atendimento ao paciente por médicos e enfermeiros. 

Superados tais desafios, o Brasil em toda sua extensão territorial tem potencial para desenvolver amplamente soluções e tratamentos. É o que nós, com a missão de aplicar tecnologia a saúde, esperamos e trabalhamos para conseguir. 

 

Cristian Rocha - diretor executivo e cofundador da Laura, healthtech que oferece soluções de inteligência artificial para a democratização do acesso à saúde.


Ginecologista explica como o câncer de mama pode afetar a fertilidade da mulher

O câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, com aproximadamente 2,3 milhões de casos estimados em 2020, o que representa 24,5% dos casos novos por câncer em mulheres. É também a causa mais frequente de morte por câncer nessa população, com 684.996 óbitos estimados, segundo dados do IARC (Agência Internacional de Pesquisa em Câncer) de 2020. Já no Brasil, de acordo com dados de 2020 do INCA, ele é tipo de câncer mais incidente em mulheres de todas as regiões, após o câncer de pele não melanoma. As taxas são mais elevadas nas regiões mais desenvolvidas, como Sul e Sudeste e a menor é observada na região Norte. 

A Profª Dra. Marise Samama - Fundadora e presidente da AMCR: Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil, explica que mulheres que tiveram a primeira menstruação precoce, ou seja, antes dos 12 anos, aquelas que tiveram uma menopausa após os 55 anos, a não gestação de um feto, a primeira gestação após os 30 anos, portadoras de mutações dos genes BRCA 1 e BRCA 2, os mais conhecidos, entre outros genes, são as que mais tem risco de desenvolver o câncer de mama. 

"As mulheres também devem se preocupar se tiverem parente próximo com a alteração genética, parente de primeiro ou segundo grau com câncer de mama antes dos 45 anos, dois ou mais parentes de primeiro grau do mesmo lado da família com câncer de mama com mais de 50 anos, parente com câncer de ovário, câncer de mama em homem na família", comenta a Dra. 

Mas, afinal, será que o câncer de mama afeta a fertilidade da mulher? A Dra. Marise explica que a mutação dos genes BRCA 1 e BRCA 2 está associada à diminuição precoce da reserva ovariana. A observação acontece, principalmente, nas portadoras de mutação do gene BRCA 1, quando o hormônio antimulleriano, um dos hormônios marcadores de reserva ovariano, pode estar diminuído", comenta. 

A reserva ovariana é o estoque de óvulos que a mulher tem. A criopreservação de óvulos (congelamento de óvulos) pode ser indicada antes que ocorra a sua diminuição, no intuito de possibilitar uma gestação futura.

Nas mulheres diagnosticadas com câncer de mama que terão que se submeter à quimioterapia e não tem filhos, se estiver em boas condições clínicas, é recomendado congelar óvulos antes.

"A quimioterapia pode trazer danos importantes aos ovários, o que pode acarretar numa menopausa precoce ou até numa infertilidade, por isso, recomendamos àquelas mulheres diagnosticadas com câncer de mama, se estiverem em boas condições clínicas, realizarem o congelamento dos óvulos", finaliza a Profª Dra. Marise Samama - Fundadora e presidente da AMCR: Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil.

 

AMCR - Associação Mulher, Ciência e Reprodução Humana do Brasil

https://amcrbrasil.org/#!/quem


10 fatos e boatos sobre perda e ganho de peso

11/10 é Dia Mundial da Obesidade e Dia Nacional de Prevenção da Obesidade

 

Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia (IBGE) mostram que 60% da população, acima dos 18 anos, estão acima do peso. O número corresponde a 96 milhões de brasileiros. Segundo dados da Associação Brasileira para Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (Abeso), a taxa de obesidade no Brasil teve um aumento de 72% nos últimos 13 anos. 

Além disso, de acordo com um estudo publicado pela World Obesity Federation, há uma previsão de 34% de pessoas com obesidade no Brasil em 2030, ou seja, cerca de 53 milhões de brasileiros serão acometidos pela doença em menos de uma década. A obesidade gera uma série de doenças como diabetes tipo 2, hipertensão, aumento do colesterol, problemas cardiovasculares, entre outros. 

No entanto, ainda que perder peso seja fundamental, é preciso ficar atento com as informações sobre emagrecimento, pois muitas não passam de falsas promessas e que podem comprometer ainda mais sua saúde. 

“Ouvimos muitas dicas de emagrecimento, mas quais realmente possuem fundamento e respaldo científico? Emagrecer com qualidade e resultados requer um trabalho complexo, geralmente, multidisciplinar, oferecendo um suporte para melhor adesão e resposta ao tratamento e tornando o processo eficaz e saudável”, afirma a endocrinologista Claudia Chang, pós-doutora em endocrinologia e metabologia pela USP e membro da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). 

Para evitar que você caia em algumas ciladas e acabe prejudicando sua saúde e seu tratamento, a especialista aponta os principais fatos e boatos sobre o tema:

 

Todo obeso come muito

Boato: Há diversos influenciadores mentais e físicos que causam impactos significativos na abordagem com a alimentação. Quem sofre de ansiedade ou está preocupado, por exemplo, provavelmente vai comer o que vier, sem se importar se é saudável ou não. A obesidade está ligada, em grande parte, à má qualidade da alimentação, e não na quantidade.

 

Dormir mal facilita o ganho de peso

Fato: Quando as noites são mal dormidas, o organismo produz hormônios que estão ligados diretamente ao sobrepeso: há aumento do hormônio que gera fome (grelina) e diminuição do hormônio que gera saciedade (leptina).

 

Comer carboidrato à noite engorda mais do que durante o dia

Boato: A diferença entre o horário está no simples fato de que o carboidrato que comemos durante o dia é utilizado como fonte de energia, enquanto no período noturno, ele é usado para estocar. Portanto, você pode ingerir carboidrato à noite, mas com moderação, assim como qualquer outro alimento.

 

Sopa é ideal para dietas de emagrecimento

Em termos: Creme de leite, torrada, croutouns ou queijo podem tornar uma sopa inofensiva em uma bomba calórica. Para que ela seja aliada da sua dieta, aposte em fibras, como aveia ou quinoa em flocos, que reduzem a absorção de gorduras e carboidratos, equilibrando as calorias ingeridas e auxiliando a regular o intestino.

 

Estresse e ansiedade contribuem com a obesidade

Fato: Segundo uma pesquisa publicada no Journal of Molecular Biochemistry, níveis elevados de estresse podem estar associados a uma maior secreção do hormônio cortisol, contribuindo para o aumento da gordura abdominal.

 

Musculação não emagrece

Boato: A musculação auxilia muito no processo de emagrecimento, pois à medida que se aumenta a massa muscular, ocorre a aceleração do metabolismo. “Para auxílio no processo de emagrecimento, optamos por treinos com carga menor e com número maior de repetições, ou treino em circuito que combina aeróbico junto, aumentando o gasto energético”, diz Claudia Chang.

 

Subir escadas ajuda a perder gordura localizada

Boato: A gordura localizada possui uma mobilização mais difícil. O que se consegue é apenas diminuir o tamanho da célula de gordura (adipócito). Ou seja, você pode perder calorias, mas não a gordura localizada.

 

Praticar exercícios em jejum emagrece mais

Boato: Fazer atividade física em jejum, na maioria das vezes, faz com que o corpo não consiga usar a gordura como combustível para queima, lançando mão do músculo/da massa magra. “Quando se perde essa massa, diminui muito a taxa de gasto calórico, tornando difícil o emagrecimento, já que o organismo fica ávido por reganho de peso. Ingerir um pouco de carboidrato antes do exercício, como uma fruta, é o ideal para auxiliar na queima de gordura”.

 

Suar muito emagrece

Boato: Existe um fator individual importante nesta questão. Pessoas com melhor condicionamento físico tendem a ter sudorese maior e mais precoce ao esforço, mas não representa emagrecimento. “Após a liberação de muito suor, a pessoa perde líquido, e não gordura. Por isso, é fundamental a ingestão de água para evitar desidratação, que se caracteriza não só pela baixa concentração de água no organismo, mas também de sais minerais e líquidos orgânicos no corpo”, pontua Claudia Chang.

 

Lipoaspiração emagrece

Boato: Segundo Luís Maatz, cirurgião plástico, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP); a lipoaspiração tem como objetivo a redefinição de contornos corporais, e não a perda de peso. Para isso, o cirurgião retira um pouco de gordura localizada, que não pode ultrapassar 7% do peso do paciente. 

“Importante ressaltar que qualquer iniciativa de emagrecimento deve ter um acompanhamento médico. Realizar dietas ou procedimentos por conta própria não só pode ter resultados negativos como também trazer prejuízos a sua saúde”, finaliza Claudia Chang.


Problema na tireoide pode estar associado a doença rara dos olhos e confundir diagnóstico


Metade dos pacientes com doença de Graves, a causa mais comum de
hipertireoidismo, pode desenvolver doença ocular da tireoide


Rara, crônica e progressiva, com sinais e sintomas heterogêneos, a doença ocular da tireoide (DOT) é uma condição que pode ameaçar a visão dos pacientes. Também conhecida como orbitopatia de Graves ou oftalmopatia de Graves, a patologia, por ser autoimune, acontece quando o organismo começa a atacar as próprias células ao redor dos olhos, causando inflamação e inchaço do tecido adiposo e muscular na região. Dor, vermelhidão, sensibilidade à luz, proptose (saliência ocular), diplopia (visão dupla), completam a lista de sinais que, em alguns casos, podem levar à cegueira. [1],[2]

Dra. Stefânia Diniz, médica oftalmologista com especialização em Oculoplástica pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular (SBCPO), afirma que, ao contrário de muitas doenças, a DOT é extremamente heterogênea, ou seja, os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e evoluir de maneira leve, moderada ou severa. Na fase aguda, os sintomas inflamatórios predominam e, eventualmente, podem aparecer de repente e piorar rapidamente. “Neste estágio, as manifestações são muitas vezes diagnosticadas erroneamente como uma conjuntivite ou alergia. A fase ativa da DOT geralmente dura de 6 a 18 meses e requer acompanhamento cuidadoso por um oftalmologista, a fim de preservar a visão”, explica. “Já na fase crônica, que sucede a aguda, a inflamação atrás dos olhos cessa ou regride. Entretanto, isso não significa que a doença foi embora. Em se tratando de uma doença autoimune, o paciente pode ainda ter sintomas na fase crônica, geralmente associados a um processo cicatricial na órbita”, completa.
 
A DOT é comumente associada à doença de Graves, caracterizada pela produção desordenada de hormônios da tireoide. Aproximadamente um terço das pessoas com doença de Graves apresenta algum sinal e/ou sintoma nos olhos, o que explica o nome da enfermidade.[3],[4] “É muito importante reforçar que, apesar da relação, as doenças são distintas e precisam ser tratadas independentemente. Além disso, uma em cada 10 pessoas com DOT não possui doença de Graves no momento do diagnóstico”, alerta Dra. Stefânia.

A prevalência de pessoas com DOT não é conhecida, mas é estimada que a condição afete 16 a cada 100 mil mulheres na população mundial e 2,9 a cada 100 mil homens. Embora seja mais frequente em mulheres, a forma mais grave da doença é mais comum em homens e em pessoas tabagistas.[5] Assim como para todas as doenças raras, o diagnóstico precoce é fundamental para um cuidado adequado. Ele deve ser clínico, ou seja, feito por meio de um exame detalhado com médico oftalmologista especialista em cirurgia plástica ocular. É possível complementar a investigação com a realização de exames de sangue para avaliar a função tireoidiana e de imagem.[6] De acordo com Dra. Stefânia, o tratamento dependerá do estágio e dos tipos de sintomas que cada paciente apresenta.


 
Impacto

Por afetar a visão, a DOT impacta diretamente na qualidade de vida dos pacientes. Na avaliação de Bruna Rocha, vice-presidenta da CDD -- Crônicos do Dia a Dia, as pessoas acometidas pela doença podem experimentar uma sobrecarga funcional, psicológica e até mesmo financeira em longo prazo. “Dependendo do estágio, tratamento e sequelas da doença, são necessárias muitas adaptações. A dificuldade para realizar atividades cotidianas, o risco de cegueira, as adaptações para a atividade laboral são questões delicadas que orbitam a jornada dessas pessoas. Por isso, uma rede de apoio concreta é fundamental para reduzir os impactos da doença”, finaliza.


 

1] Bartalena L, et al. The 2016 European Thyroid Association/European Group on Graves’ Orbitopathy Guidelines for the Management of Graves ‘ Orbitopathy. Eur Thyroid J. 2016;5(1):9-26.
[2] McKeag D, et al. Clinical features of dysthyroid optic neuropathy: a European Group on Graves’ Orbitopathy (EUGOGO) survey. Br J Ophthalmol. 2007;91(4):455-458.
[3] Barrio-Barrio J, et al. Graves’ ophthalmolpathy: VISA versus EUGOGO classification, assessment, and management. J Ophthalmol. 2015;2015:249125.
[4] Weightman DR, et al. Autoantibodies to IGF-1 binding sites in thyroid associated ophthalmolpathy. Autoimmunity. 1993; 16(4):251--25
[5] (McAlinden C. An overview of thyroid eye disease. Eye Vis (Lond). 2014 Dec 10;1:9. doi: 10.1186/s40662-014-0009-8.)
[6] (Men CJ, Kossler AL, Wester ST. Updates on the understanding and management of thyroid eye disease. Ther Adv Ophthalmol. 2021 Jun 0;13:25158414211027760.)


Obstetra é o primeiro profissional a detectar sinais de depressão em gestantes e puérperas, reforça Febrasgo

A depressão pós-parto atinge 1 a cada 4 mulheres brasileiras e diversos fatores estão por trás dessa condição

 

Segundo um estudo realizado pela Fiocruz em 2016, mas recentemente divulgado, cerca de 25% das mães de recém-nascidos são diagnosticadas com depressão pós parto. A pesquisa também aponta que o grupo mais favorável a desenvolver depressão são mães de baixa condição socioeconômica, com histórico de doenças mentais e que não planejaram a gravidez. Neste Dia Mundial de Saúde Mental a Febrasgo chama a atenção dos diversos profissionais da saúde envolvidos no cuidado de gestantes e puérperas para quadros depressivos. 

O Professor Titular da disciplina de Obstetrícia da Faculdade de Jundiaí e membro da Comissão Nacional Especializada em Assistência ao Abortamento, Parto e Puerpério da Febrasgo, Dr. Ricardo Porto Tedesco, afirma que o obstetra é o primeiro profissional a ter contato com os sintomas depressivos de pacientes e portanto devem ter atenção e sensibilidade a lidar com esses casos. “O grande problema é você não diagnosticar oportunamente e a situação tomar uma proporção maior, o que fica mais difícil de tratar e deixa sequelas que se estabelecem na relação da mãe com o bebê” diz o professor. 

A depressão pós-parto pode estar relacionada a diversos fatores como físicos, hormonais, emocionais, ou o estilo de vida da mãe ou pode estar ligado a transtornos psiquiátricos anteriores, como depressão e ansiedade previamente diagnosticados. “A depressão é uma situação crônica, que tem altos e baixos, então na primeira consulta que o médico faz com a gestante é preciso ser feito esse questionamento se já houve um quadro depressivo anterior", comenta Dr. Ricardo, que também afirma que esse é um grande fator de risco para o desenvolvimento da doença durante a gravidez e principalmente no pós-parto. A falta de um grupo de apoio, seja familiar, do parceiro ou de amigos durante a gestação e após o parto pode colaborar para o desenvolvimento de um quadro depressivo. 

O doutor explica que dependendo do quadro a prevenção é feita com terapia e até mesmo com antidepressivos, e que algumas dessas medicações podem ser usadas com segurança durante a gestação. Ele também menciona a importância do obstetra acolher a gestante, que pode muitas vezes chegar às consultas fechada e receosa, “Se o médico der espaço, a paciente vai falar sobre seus medos e anseios” afirma Tedesco. 

Sinais depressivos que podem ser manifestações de cansaço, moleza e sonolência excessivos, vontade de se isolar, ou a queixa de que não está tão vibrante com a gestação como deveria estar são apontamentos de que a mulher não está bem no ponto de vista emocional e o papel do obstetra é identificar esses casos. 

O pós-parto é quando a situação se acentua, pois entra a privação do sono que afeta e agrava o quadro depressivo. “O obstetra precisa saber que existe um período entre duas ou três semanas após o parto em que sintomas depressivos são comuns e 80% das mulheres têm, que é o chamado blues puerperal” explica Dr. Ricardo. O blues puerperal não quer dizer que a mulher tem uma depressão pós-parto, mas caso se estenda por mais do que esse período de três semanas ou dependendo da intensidade dos sintomas, se a mulher está muito chorosa ou apresentando uma rejeição ao bebê também deve fazer o obstetra ter a percepção de que algo não está bem. 

“Apesar de ser uma complicação da gestação, o tratamento não é da ossada do obstetra, é um distúrbio psiquiátrico e tem que ser tratado por um psiquiatra, o obstetra tem que ter a sensibilidade para fazer o reconhecimento para depois encaminhar adequadamente” conclui o médico.


Quilos a mais: como eles podem complicar a nossa vida

Sobrepeso atinge mais da metade da população brasileira e é gatilho para doenças graves como artrose, alzheimer e até problemas neurológicos


O excesso de gordura corporal é um problema que ultrapassa a questão estética dos quilos a mais na balança. Dados da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS/2020) indicam que um quarto dos adultos brasileiros estão em um quadro de obesidade e 60% da população adulta do país está acima do peso. E o aumento da obesidade em crianças tem preocupado o mundo. Segundo a OMS, hoje temos 1 bilhão de pessoas obesas; 39 milhões são crianças que já começam a apresentar problemas sérios de saúde. 

Além de estar diretamente associada a doenças cardíacas como hipertensão e infarto, a obesidade pode levar a outros problemas graves de saúde. A endocrinologista do Hospital Marcelino Champagnat, Luiza Esteves, explica que a circunferência abdominal é um dos principais indicadores do excesso de gordura. “A maneira mais simples para confirmar é com a fita métrica. Homens com circunferência acima de 90 centímetros e mulheres com mais de 80 devem ficar atentos, já que isso é indicativo de que a gordura pode não estar apenas no subcutâneo, mas nos órgãos, o que traz consequências graves, como doenças cardiológicas, diabetes, demência e aumento do risco de alguns tipos de câncer”, esclarece. O excesso de peso nas articulações, desequilíbrio hormonal, disfunção em órgãos como o fígado, que é diretamente afetado pelo acúmulo de gordura, e até em áreas mais delicadas como no coração, são algumas das complicações que a doença pode causar.


Joelhos 

O sobrepeso é o que mais acelera a artrose, desgastando  rapidamente as cartilagens, demandando tratamento com fisioterapia e, muitas vezes, cirurgias. “A degeneração da cartilagem do joelho é progressiva e a principal causa é o envelhecimento. Quando associado ao excesso de peso, esse processo acaba transformando um joelho saudável em um potencialmente desgastado muito mais rápido. É como se o joelho envelhecesse de forma acelerada até chegar ao momento que a dor limita, inclusive, a realização das atividades do dia a dia, como curtas caminhadas", afirma o ortopedista Antônio Tomazini. 


Doenças Neurológicas

Demências como Alzheimer estão entre os problemas agravados pela obesidade, o que ocorre pela atividade e pelo fluxo sanguíneo cerebral que estão proporcionalmente ligados ao peso. “Quanto maior o índice de massa corporal (IMC) de uma pessoa, maiores são as chances dela ter não só o Alzheimer como demais doenças neurodegenerativas. Isso acontece porque problemas como hipertensão arterial e diabetes, que são agravadas pela obesidade, têm relação direta com a perda cognitiva”, destaca a neurologista Patrícia Coral. A recomendação é que portadores de doenças neurodegenerativas realizem regularmente estímulos físicos.


Combate à obesidade

Em casos graves, a cirurgia bariátrica é indicada para tratamento de pessoas com IMC superior a 40. "A bariátrica é uma ferramenta de tratamento para a obesidade mórbida, mas não é definitiva porque depende muito do paciente”, conta o cirurgião bariátrico do Hospital Marcelino Champagnat, Alcides Branco. “A cirurgia é eficaz se novos hábitos de vida forem adotados pelo paciente, especialmente os alimentares. O procedimento não pode ser usado só para emagrecer, mas também para manter as vitaminas em um padrão saudável e, principalmente, perder peso o suficiente para recuperar a saúde”, complementa Branco.


Atitudes urgentes

Medidas de prevenção devem ser constantes em todas as etapas da vida para evitar casos graves de obesidade. Para isso, além da atividade física regular, é preciso uma alimentação mais equilibrada, diminuindo a quantidade de açúcar refinado, bebidas com adição de açúcares (como refrigerantes e sucos artificiais) e de carboidratos simples na dieta, além do sono regulado. “Essas medidas são importantes para diminuir o acúmulo de gordura nos órgãos e promover mais saúde de maneira geral", ressalta a endocrinologista Luiza Esteves. 


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