Condição que
provoca dores incapacitantes e, em casos extremos, pode levar à amputação, pode
ser tratada com alternativas inovadoras, como a estimulação medular, segundo
neurocirurgião da Unicamp especialista em dor crônica
A conscientização sobre a prevenção e o diagnóstico
precoce do Diabetes Mellitus (DM) é fundamental para combater uma das condições
crônicas mais prevalentes no mundo. O controle adequado dos níveis de glicose é
essencial para evitar complicações graves, como as neuropatias diabéticas,
reforçando a necessidade de atenção contínua à saúde.
As neuropatias em decorrência da doença, que afeta
10,2% da população brasileira, de acordo com o último Vigitel¹ (sistema de
Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito
Telefônico, desenvolvido pelo Ministério da Saúde do Brasil), costumam ser
subdiagnosticadas e subtratadas. Elas se caracterizam pela disfunção nos
nervos, com danos a um único nervo periférico ou a um grupo deles, como mãos e
pés.
O neurocirurgião funcional especialista em dor
crônica e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Dr. Marcelo Valadares,
explica que a neuropatia periférica diabética é o tipo mais comum de
complicação nos nervos causado pelo diabetes. “A condição afeta os nervos de
forma ampla, simétrica (igual dos dois lados), principalmente nas extremidades
do corpo, e vai se agravando com o tempo. Em muitos casos, pode permanecer
assintomática por anos”, afirma.
A forma aguda ou crônica é conhecida como
neuropatia periférica diabética dolorosa, com dores na área afetada que piora
em repouso e durante o sono, mas melhora com a atividade física. “Pode se
tornar uma dor incapacitante e afetar negativamente a rotina, o sono e o humor
do indivíduo. O tratamento é individualizado e é comum que o paciente experimente
diversas opções que não produzem o efeito desejado enquanto convive com as
dores”, complementa.
Quando a sensação de dor e tato é afetada, ocorre
perda de sensibilidade nas extremidades, tornando-as mais vulneráveis a feridas
e úlceras. “A falta de sensibilidade faz com que pequenos ferimentos passem
despercebidos e evoluam para infecções graves, que podem exigir amputação nos
casos mais severos. Por isso, a conscientização é essencial para evitar esses
desfechos”, alerta o especialista.
No Brasil, o diabetes é o principal responsável por
amputações não traumáticas de pernas, pés e dedos dos pés, segundo a Sociedade
Brasileira de Diabetes (SBD).
Tratamentos podem gerenciar a
dor
Uma vez estabelecida, a complicação é irreversível.
Os tratamentos disponíveis² têm como objetivo retardar a progressão dos
sintomas e evitar a perda de qualidade de vida do indivíduo.
O controle do diabetes é um passo necessário para
frear os sintomas. Em alguns casos, é preciso adicionar um tratamento
restaurador, que inclui fisioterapia e vitaminas que fortalecem e protegem os
nervos.
Pacientes com dores neuropáticas severas
frequentemente necessitam de tratamentos com medicamentos controlados, cuja
eficácia no alívio da dor crônica é amplamente comprovada por estudos e ensaios
clínicos. Entre as opções recomendadas estão alguns tipos de antidepressivos,
como os tricíclicos e os duais, além de anticonvulsivantes e da pregabalina,
que atuam diretamente nos mecanismos nervosos envolvidos, ajudando a modular e
reduzir os sinais de dor.
De forma complementar ou quando os tratamentos
convencionais não proporcionam alívio satisfatório, a estimulação da medula
espinhal pode ser recomendada. A implantação de um pequeno dispositivo envia
impulsos elétricos para os nervos ao longo da medula espinhal, que interrompem
os sinais de dor entre a medula e o cérebro. “Há pacientes que voltam a ter uma
vida ativa e plena, e é fundamental continuar o tratamento para o diabetes
mellitus”, explica o Dr. Marcelo.
Dr. Marcelo Valadares - médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Neurocirurgia Funcional é a sua principal área de atuação. Seu enfoque de trabalho é voltado às cirurgias de neuromodulação cerebral em distúrbios do movimento, cirurgias menos invasivas de coluna (cirurgia endoscópica da coluna), além de procedimentos que envolvem dor na coluna, dor neurológica cerebral e outros tipos de dor. O especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos. No setor público, recriou a divisão de Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep Brain Stimulation – Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição. Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado à Neurologia.
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