A médica Georgia Zattar aponta que a prática da medicina integrativa fortalece a imunidade e apresenta resultados positivos no combate à Covid-19
Já se sabe que os hábitos saudáveis são
aliados para uma vida leve e longeva. Contudo, estudos recentes mostram que
nossos costumes também impactam a forma como o organismo reage ao coronavírus.
A medicina integrativa, abordagem que leva em consideração seis pilares do
Estilo de Vida, neste caso, poderia ajudar na prevenção e no tratamento da
Covid-19.
A médica Georgia Zattar afirma que, ao
mesmo tempo que existem pesquisas voltadas para a produção de vacinas e
medicações contra o vírus, outros estudos visam explorar a variedade de
terapias naturais e estratégias de tratamento integrativas. Uma das principais
propostas está relacionada ao aumento da imunidade, que impediria a infecção e
o agravamento de sintomas de quem contraiu a doença.
“O fortalecimento da imunidade é
fundamental, principalmente nos dias de hoje, no contexto da pandemia. Contudo,
esse fortalecimento não acontece do dia para a noite. Nossos hábitos diários como
boa alimentação, controle de tóxicos e estresse, atividade física regular, sono
e bons relacionamentos são pilares que determinam o nosso estado de saúde”,
explica.
Um tema que está sendo bastante
pesquisado, segundo a especialista, é o papel da vitamina D na proteção do
organismo contra a síndrome respiratória aguda grave que caracteriza a
Covid-19.
Pacientes que apresentam uma quantidade
adequada de vitamina D, caso sejam infectadas com o coronavírus, teriam um
sistema de defesa mais eficaz. Com um organismo protegido, a chance de ocorrer
lesões e disfunções de células diminui, assim como a possibilidade de se
desenvolver um caso grave da doença.
“A vitamina D não é uma simples
vitamina. Ela é considerada um hormônio diretamente relacionado à modulação da
nossa imunidade inata e adaptativa, uma vez que reduz a expressão de citocinas
pró-inflamatórias e aumenta a expressão de citocinas anti-inflamatórias. Com
uma boa reserva da vitamina, temos uma maior proteção imunológica”, aponta
Georgia.
Enquanto sua abundância indica uma
reação mais ágil contra diversas infecções, a hipovitaminose – ou seja, a
baixa de vitamina –, está ligada a um maior risco de lesão pulmonar, um dos
efeitos típicos do coronavírus.
“Por ter o potencial de adaptar a
resposta imune do hospedeiro, a vitamina D poderia ajudar a reduzir a
tempestade de citocinas, principalmente na Covid-19. Por este motivo, o uso de
suplementação vem sendo cogitada. De acordo com um artigo da publicação
Nutrients, há evidências de que essa suplementação poderia reduzir o risco de
Influenza, além de infecções e mortes por coronavírus”, descreve a
especialista.
A preocupação com a alimentação
balanceada também ganha destaque na medicina integrativa. A tendência é optar
por alimentos ricos em vitamina D para potencializar ainda mais a imunidade.
Além da exposição ao sol, conhecida fonte natural da vitamina pela absorção da
pele, alimentos como peixes e frutos do mar também oferecem boas dosagens do
nutriente. Estudos recentes também destacam as vitaminas presentes nas frutas e
vegetais.
“Um estudo publicado na Frontiers in
Immunology reforça que a Covid-19 causa uma tempestade de citocinas
inflamatórias no corpo, levando consequentemente a uma desregulação imune. A
alimentação se destaca como uma possível estratégia para prevenção e
tratamento das formas leves da infecção”, indica.
“A relação entre os alimentos e o
sistema imunológico já vem sendo amplamente discutida, e vários estudos têm
mostrado alimentos vegetais com potencial imunomodulador, por serem ricos em
diferentes vitaminas e minerais, além de polifenóis. Estes últimos são
moléculas com ação anti-inflamatória antioxidante. No geral, uma alimentação
equilibrada melhora o sistema imune do indivíduo como um todo.”
Outro hábito que pode elevar os efeitos
imunológicos e melhorar a saúde pulmonar é a prática da meditação e yoga.
Diversos autores discutem a capacidade de certas posturas (asanas) e técnicas
de respiração, como a pranayama, de melhorar o panorama de infecções
respiratórias.
“Essas práticas complementares regulam
uma série de funções inflamatórias importantes que o SARS-CoV-2 interrompe.
Alguns dos efeitos observados nas pesquisas estão associados à redução nos
níveis de adrenalina e noradrenalina no sangue. Também é documentada a
influência da yoga e meditação nos efeitos antiestresse e no nível de atividade
da melatonina. Este hormônio realiza ações diversas no organismo, inclusive com
impacto anti-inflamatório, antioxidante e fortalecedor do sistema imunológico”,
acrescenta Zattar.
O exercício físico de forma geral,
mesmo sem estar relacionado às modalidades de yoga, é altamente recomendado
para a prevenção e tratamento da Covid-19. Os pesquisadores sugerem que a
prática regular de atividade física, por exemplo, não só ajuda a controlar o
peso corporal, mas também favorece as funções cardiorrespiratórias e
metabolismo da glicose, lipídeos e insulina.
“As pesquisas defendem que os
benefícios anti-inflamatórios, antioxidantes e a inibição da ativação
endotelial, isto é, a camada celular que reveste o interior dos vasos
sanguíneos, proporcionados pela atividade física, está ligada à redução de
formação de coágulos de sangue, fenômeno chamado de hipercoagulabilidade. Esses
benefícios podem variar, dependendo da regularidade, intensidade, tipo e
duração do esforço aplicado no exercício ao longo do tempo”, pontua.
É importante ressaltar que, devido ao
lockdown e o fechamento de parques, clubes, ginásios e academias, a prática de
atividade física ficou prejudicada. Esse cenário pode contribuir para o aumento
das doenças metabólicas, como obesidade, sobrepeso e diabetes, transtornos
psicológicos como ansiedade, depressão e alimentação compulsiva, além do
aumento de tabagismo e alcoolismo. Todos esses fatores prejudicam a recuperação
de quem se infecta com o coronavírus.
“Hábitos ruins prejudicam nosso sistema
imunológico e trazem consequências negativas para a população em geral, com
possíveis problemas para a Saúde Pública a longo prazo. Um estudo feito na cidade
de Wuhan, onde foram identificados os primeiros casos da doença, mostra que 88%
das mortes por Covid-19 são de pessoas obesas ou com sobrepeso, por exemplo.”
A médica reforça que a atividade física
é essencial e deve ser mantida nessa fase de confinamento. “A Organização
Mundial da Saúde (OMS) recomenda que indivíduos adultos assintomáticos e
saudáveis pratiquem exercícios físicos de intensidade moderada, por no mínimo,
150 minutos por semana. Já as crianças e adolescentes podem fazer 300 minutos,
distribuídos em três ou quatro dias durante a semana”, completa.