Trabalho utilizou dados de 5.213 estudantes do 8.º ano de escolas públicas em três diferentes cidades brasileiras
Os adolescentes estão cada vez mais envolvidos na busca de padrões sociais,
associando a magreza ao sucesso. Em busca desse ideal, muitos usam estratégias
equivocadas para controlar o peso, o que resulta em danos à saúde, incluindo
diversos transtornos alimentares, como a anorexia nervosa, a bulimia nervosa e
a compulsão alimentar. Para aprofundar entendimento sobre fatores que podem
estar associados a esses males, o grupo Previna, do Departamento de Medicina
Preventiva da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
(EPM/Unifesp), em parceria com o Departamento de Psiquiatria e com
financiamento do Ministério da Saúde, realizou um estudo com mais de cinco mil
estudantes brasileiros. Entre as descobertas, os pesquisadores constataram que
há muitos sintomas comuns entre os transtornos e o uso de drogas, assim como
transtornos em adolescente vítimas de bullying.
"Entre esses sintomas comuns entre os transtornos alimentares e o uso de
drogas, inclui-se a perda de apetite e saciedade, a preocupação com comida, o
comportamento autodestrutivo, além da negação e graves consequências médicas,
sendo essa associação mais observada nas formas de transtornos alimentares que
apresentam compulsão alimentar e/ou comportamentos compensatórios",
explica Patrícia Galvão, nutricionista e doutoranda do estudo.
A pesquisadora destaca que, além disso, a insatisfação corporal costuma ser um
fator importante para os jovens que sofrem com o bullying no ambiente escolar.
"Alguns estudos relatam que crianças e adolescentes vítimas de bullying
apresentam risco aumentado de sintomas de anorexia nervosa e bulimia nervosa.
Assim, considerando que ambos os comportamentos, uso de drogas e bullying,
parecem estar associados aos transtornos alimentares, vimos a necessidade de
realizar uma avaliação integrada desses três comportamentos entre adolescentes
brasileiros, buscando entendimento de modo mais aprofundado".
"Os resultados apontaram que meninas com idade média de 13 anos têm mais
sintomas de transtornos alimentares do que meninos da mesma idade e que, para
ambos os sexos, ser vítima de bullying, praticar binge drinking e usar remédios
emagrecedores sem prescrição médica são fatores associados a maior quantidade
de sintomas desses transtornos", ressalta Patrícia. A pesquisadora também
revela que "para as meninas, ainda foi encontrada associação entre uso de
drogas ilícitas e os sintomas de transtornos alimentares".
De acordo com a pesquisadora, "o fator mais associado em ambos os sexos
foi o uso de medicamentos para emagrecer, sem prescrição médica. Já o sintoma
de transtorno alimentar mais prevalente tanto entre meninos quanto em meninas
foi a preocupação com a perda do controle sobre quanto se come."
O estudo foi orientado pela professora Zila Sanchez e recentemente publicado no
International Journal of Eating Disorders. Nele, os pesquisadores utilizaram
dados de 5.213 estudantes do 8.º ano de escolas públicas em três diferentes
cidades brasileiras.
Para Zila, "de modo geral, esses achados sugerem que os sintomas de
transtornos alimentares são mais prevalentes entre meninas e estão associados
ao bullying e ao uso de drogas durante a adolescência. Isso nos faz observar
quão fundamental são as intervenções escolares para promoção de saúde que se
proponham a intervir em mais de um comportamento de risco, visto que eles
ocorrem de forma concomitante nesta faixa etária."
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