Pesquisar no Blog

quarta-feira, 7 de abril de 2021

Câncer de esôfago: como ficarão as estatísticas pós-pandemia?

Pesquisa revela que durante a pandemia as pessoas estão comendo mais, fumando mais, consumindo mais álcool e se exercitando menos. São os  fatores de riscos diretamente relacionados à doença; abril é o mês de prevenção do tumor

 

No Brasil, o câncer de esôfago (tubo que liga a garganta ao estômago) é o sexto mais frequente entre os homens e o 15º entre as mulheres, excetuando-se o câncer de pele não melanoma. É o oitavo mais frequente no mundo e a incidência em homens é cerca de duas vezes maior do que em mulheres. Os principais fatores de risco relacionados ao câncer de esôfago são: o consumo de bebidas alcoólicas, o excesso de gordura corporal e o tabagismo, que isoladamente é responsável por 25% dos casos da doença. Ou seja, hábitos de vida que podem prevenir esse tipo de câncer. Como ficarão as estatísticas após a pandemia de COVID-19?

Uma pesquisa com 44.062 indivíduos realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas, teve a finalidade de verificar como a pandemia afetou ou mudou a vida da população. Segundo David Pinheiro Cunha, oncologista e sócio do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia as análises trazem resultados alarmantes.  “As mudanças no estilo de vida relacionadas ao hábito de fumar, consumo de bebidas alcoólicas, prática de atividades físicas e de alimentação analisadas mostram dados drásticos”, aponta. 

No estudo, o total da população avaliada que fumava (12%), mostrou que 23% aumentou em 10 cigarros o consumo diário e 5% aumentou em 5 cigarros diários. No quesito álcool, 18% relatou aumento no consumo da bebida, sendo que em adultos entre 30-39 anos o aumento foi de 25%. “Já sobre atividade física, a pesquisa mostrou uma situação extremamente alarmante: 62% da população relatou não estar fazendo atividade física. Entre as que faziam 3-4 vezes por semana, na pandemia 46% delas parou. E entre as que faziam 5 vezes por semana, 33% parou. Sendo que antes da pandemia, 35,5% faziam 150 minutos de atividades por semana, e na pandemia esse percentual caiu para 16%. Ou seja, as pessoas estão em casa, comendo mais, fumando mais, consumindo mais álcool e não estão se exercitando. Ações que em um futuro não muito distante terão complicações graves para a saúde da população, inclusive no aumento de casos de câncer de esôfago”, afirma o médico.

 

Diagnóstico na pandemia

O diagnóstico de novos casos de câncer caiu até 50% no país em 2020. “E passamos novamente por um terror hospitalar relacionado à COVID-19 em todo mundo, agora em 2021. De acordo com um levantamento do Radar do Câncer, do Instituto Oncoguia, as biópsias tiveram uma redução de 39,11% (de 737.804 para 449.275), entre março e dezembro do ano passado, em comparação ao mesmo período de 2019. As maiores quedas ocorreram nos meses de abril (-63,3%) e maio (-62,6%). Em outros exames de diagnóstico, como o papanicolau e a mamografia, as reduções foram de 50% e 49,81%, respectivamente”, conta Dr. David. 

Outro estudo da Sociedade Brasileira de Urologia em cinco grandes instituições de São Paulo mostra uma redução média de 26% no número de novos casos de tumores de rim, próstata e bexiga em 2020, em comparação aos diagnósticos feitos em 2019. “No HC da Unicamp, por exemplo, houve queda de 52% nos casos de câncer de bexiga, 61,04% nos de próstata e 63% nos de rim”, afirma o oncologista. 

O diagnóstico do câncer de esôfago é feito por meio da endoscopia digestiva, um exame que investiga o interior do tubo digestivo e permite a realização de biópsias para confirmação do diagnóstico. “Quando o tumor é detectado precocemente, as chances de cura aumentam muito. Ao analisarmos os dados do DataSUS, departamento de informática do Sistema Único de Saúde do Brasil, observamos uma diminuição em sua realização em cerca de 40% no último ano. Em 2019, foram realizados pelo SUS 2.133.245 exames e em 2020 1.315.531”, confirma o especialista. 

O mês de abril é de prevenção do câncer de esôfago. “Precisamos chamar a atenção da população para esses dados e alertar sobre os sintomas que são: dificuldade ou dor ao engolir, dor retroesternal (atrás do osso do meio do peito), dor torácica, refluxo, sensação de obstrução à passagem do alimento, náuseas, vômitos e perda do apetite. Sabemos do caos hospitalar, mas o câncer e outras doenças não esperam! Procure ajuda médica”, finaliza Dr. David.

 

 

 

David Pinheiro Cunha - médico oncologista com residência em Oncologia Clínica pela Unicamp. Graduado em Medicina pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC Campinas) e residência em Clínica Médica pela PUC Campinas. Possui título de especialista em Oncologia Clínica pela Associação Médica Brasileira – AMB/SBOC. Realizou observership no Serviço de Oncologia em Northwestern Medicine Developmental Therapeutics Institute, Chicago, Illinois, EUA. É membro da Diretoria Científica da disciplina de Cancerologia da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC). É membro titular da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO). David é sócio do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia e atua na Oncologia do Radium Instituto de Oncologia, do Hospital Santa Teresa e do Hospital Madre Theodora.

 

Grupo SOnHe - Sasse Oncologia e Hematologia

www.sonhe.med.br 

@gruposonhe


Moléculas com potencial para combater a doença de Chagas mimetizam toxina do veneno de escorpião

          

·         Pesquisadores avaliaram as propriedades antimicrobianas do peptídeo VmCT1, isolado da espécie Vaejovis mexicanus, e sintetizaram compostos análogos com o objetivo de aprimorar o potencial terapêutico (escorpião Vaejovis mexicanus; foto: Wikimedia Commons)

·          

·          

As toxinas animais são alvos de estudos devido ao seu potencial terapêutico e biotecnológico. Pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal do Ceará (UFC) relataram a ação do peptídeo antimicrobiano VmCT1 e de seus análogos contra o Trypanosoma cruzi. Isolado do veneno do escorpião da espécie Vaejovis mexicanus, o VmCT1 tem apresentado importantes atividades contra bactérias gram-positivas e negativas, células tumorais e protozoários.

“O VmCT1 contém 13 resíduos de aminoácidos e mostrou boa seletividade e alta potência nas três fases de desenvolvimento do protozoário Trypanosoma cruzi, o agente etiológico da doença de Chagas”, diz Vani Xavier de Oliveira Junior, professor do Centro de Ciências Naturais e Humanas da Universidade Federal do ABC e coordenador do estudo.

A pesquisa foi relatada no artigo Arg-substituted VmCT1 analogs reveals promising candidate for the development of new antichagasic agente, publicado na revista Parasitology, da Cambridge University Press, e noticiada como destaque do mês no Cambridge Core Blog.

O estudo recebeu apoio da FAPESP por meio do projeto regular “Peptídeos biologicamente ativos em micro-organismos patogênicos e em células tumorais”.

“Nem todas as espécies de escorpiões são perigosas para os humanos. O veneno dos escorpiões do gênero Vaejovis afeta apenas insetos. Por outro lado, tem valioso potencial terapêutico, pois possui diversos e eficientes peptídeos antimicrobianos, cujo papel principal é a defesa do hospedeiro”, esclarece Oliveira.

Novas alternativas

A doença de Chagas – considerada uma enfermidade negligenciada segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) – é endêmica em vários países e afeta cerca de 8 milhões de pessoas no mundo, ocasionando a morte de aproximadamente 10 mil pessoas por ano. “Os tratamentos disponíveis atualmente limitam-se a apenas dois medicamentos, que causam severos efeitos colaterais e são eficazes apenas na fase aguda, quando o paciente pode ter poucos ou nenhum sintoma da doença. Assim, a busca por novas alternativas terapêuticas, entre as quais os peptídeos antimicrobianos se mostram altamente promissores”, afirma Oliveira.

No estudo, os pesquisadores avaliaram o efeito tripanocida do VmCT1 e sintetizaram novos análogos, redesenhando a molécula nativa com substituições pontuais pelo aminoácido arginina, carregado positivamente, com o intuito de potencializar seus efeitos biológicos. Os resultados mostraram que o peptídeo natural apresenta relevante atividade antichagásica nas três fases de desenvolvimento do Trypanosoma cruzi. Vale salientar que um dos análogos foi capaz de melhorar tanto a potência biológica quanto o índice de seletividade ao parasita.

“Além disso, o estudo revelou que modificações em parâmetros físico-químicos podem influenciar a atividade no modelo biológico, mostrando que esse tipo de reengenharia peptídica é capaz de proporcionar análogos mais eficientes que o peptídeo nativo”, acrescenta o pesquisador.

A seletividade dos peptídeos antimicrobianos ao patógeno está relacionada à cationicidade, característica que influencia as interações peptídeo-membrana. De acordo com o trabalho em foco, os análogos substituídos com os resíduos de arginina, aminoácido carregado positivamente, aumentam as chances de interações com os fosfolipídios das membranas dos microrganismos, promovendo desestabilização, ruptura e/ou permeabilização das biomembranas.

“O VmCT1 é constituído de uma pequena sequência peptídica, o que facilita a rápida obtenção de moléculas quimicamente alteradas, propiciando assim a modulação entre suas atividades biológicas e sua toxicidade em células humanas”, afirma Cibele Nicolaski Pedron, da UFABC, principal autora do artigo.

A atividade anti-T. cruzi apresentada deve-se à formação de poros, evidenciada por meio de microscopia eletrônica de varredura. Os danos causados pelos peptídeos às membranas foram significativos, causando a morte dos parasitas, em concentrações que não apresentaram toxicidade para as células hospedeiras.

“Nossos resultados demonstraram que o VmCT1 e seus análogos Arg-substituídos são moléculas anti-T. cruzi promissoras, que trazem novas perspectivas para o tratamento da doença de Chagas”, comenta Alice Martins, pesquisadora da UFC e coautora do estudo.

Os produtos tecnológicos desenvolvidos no projeto foram registrados no Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

O artigo Arg-substituted VmCT1 analogs reveals promising candidate for the development of new antichagasic agent pode ser lido em https://doi.org/10.1017/S0031182020001882.



José Tadeu Arantes

Agência FAPESP 

https://agencia.fapesp.br/moleculas-com-potencial-para-combater-a-doenca-de-chagas-mimetizam-toxina-do-veneno-de-escorpiao/35571/


O bullying e a dislexia: conscientização para abraçar a diversidade

7 de abril é o Dia Nacional de Combate ao Bullying e à Violência na Escola

Instituto ABCD explica a importância de compreender a dislexia


A escola proporciona experiências que ampliam a visão de mundo da criança e favorecem seu desenvolvimento socioemocional. Porém, ao mesmo tempo em que as diferenças podem (e devem) ser enriquecedoras, também podem gerar conflitos se não forem abordadas adequadamente em sala de aula.

Sabe-se que crianças disléxicas podem ser vistas negativamente como diferentes, tanto por colegas quanto por professores e outros atores escolares. Com isso, o bullying pode se tornar um dos grandes entraves que crianças disléxicas enfrentam para construir sua autoestima e, consequentemente, avançar academicamente - como se já não tivessem desafios o suficiente. Neste contexto, é fundamental aumentar o conhecimento e a compreensão da sociedade sobre a dislexia, bem como de outros transtornos específicos da aprendizagem.

Assim, a primeira informação importante é: o que é dislexia? A dislexia é um transtorno do neurodesenvolvimento que afeta habilidades básicas de leitura e linguagem. Ela tem suas raízes em diferenças nos sistemas cerebrais responsáveis pelo processamento fonológico, resultando em dificuldade para processar os sons das palavras e associá-los com as letras ou sequências de letras que os representam. Não se trata de uma doença, não tem "cura" e não é déficit de inteligência.

Porém, saber o que é dislexia não basta para eliminar o estigma com que nossa sociedade marca pessoas disléxicas. Pelo contrário, o diagnóstico de dislexia pode marcar ainda mais um estudante e torná-lo alvo preferencial de bullying. O fundamental, portanto, é a compreensão de que, embora aprendam de um jeito diferente, os alunos disléxicos são tão capazes e "inteligentes" quanto seus colegas.

Guilherme Chaves, 26 anos, analista sênior da agência FSB Comunicação, teve sua dislexia diagnosticada já adulto - o que não é incomum, já que esse diagnóstico requer uma avaliação profunda e abrangente, conduzida por equipe multidisciplinar. Hoje com uma carreira bem-sucedida na área de comunicação, ele lembra ter sofrido em alguns momentos na escola: "Durante a infância, houve alguns episódios de piadas de colegas, tipo ‘analfabeto’ ou ‘burro’, mas não era uma perseguição constante. Porém, ler em voz alta ou escrever na lousa era um desafio. E muitas vezes, os professores interpretavam isso como preguiça ou falta de leitura".

Chaves aponta para um fator essencial no sucesso escolar de pessoas com dislexia: a conscientização dos profissionais de educação. Se o professor não conhecer o impacto da dislexia no processo de aprendizagem, será muito difícil que ele use estratégias pedagógicas que atendam às necessidades específicas de alunos disléxicos. O resultado pode ser desde a precariedade no desenvolvimento desses estudantes - que, mais tarde, terão que recuperar a defasagem, se tiverem a oportunidade - até a evasão escolar. E, ao longo de todo esse processo, o impacto socioemocional também poderá ser grande.

Para Nicolas de Camaret, diretor executivo do Instituto ABCD, "nos anos 2000, eu tinha muita dificuldade de acompanhar os colegas de classe. Quando tive a oportunidade de morar fora, enfim fui diagnosticado com dislexia, entre os 8 e 10 anos. Só então fui incentivado a usar ferramentas tecnológicas - como o computador, por exemplo - para aprender. Foi um passo importante para meu desenvolvimento pessoal", afirma.

O diagnóstico, aliás, é importante para que o estudante com dislexia possa buscar uma educação de qualidade. No entanto, muitas vezes leva anos para que a escola e a família suspeitem de dislexia e, quando isso acontece, o acesso a profissionais especializados para o diagnóstico nem sempre é fácil. Isso faz com que a criança, seus colegas e professores não entendam o motivo por trás daquela dificuldade de aprendizagem. E esta falta de informação pode ser bastante prejudicial para a autoestima do aluno e torná-lo vítima de bullying e injustiças. Sem conhecimento, a família também acaba ficando bastante desamparada.

"A conscientização sobre a dislexia é fundamental para fortalecer a autoestima dessas crianças. É por este motivo que trabalhamos desde 2009 para disseminar informações e ferramentas que auxiliem famílias, professores e alunos sobre a dislexia", afirma Julia Braga, gerente de produtos e desenvolvimento do Instituto ABCD.

Para além da criança com dislexia e sua família, é muito importante que seus colegas e professores também se conscientizem de que a dislexia não é um impedimento para o sucesso acadêmico, profissional e pessoal. Grandes personalidades com dislexia provam isso, como Lewis Hamilton, Steven Spielberg, Jamie Oliver e Steve Jobs, entre outros. Informação e conhecimento devem ser premissas básicas para uma educação mais inclusiva.

 


Instituto ABCD

Instagram: @iabcd

Facebook: @InstitutoABCD


Qual a melhor maneira de conseguir a imortalidade? Criogenia, cópia do DNA ou armazenamento de memória em robô?

 pixabay
Entenda a busca da ciência que está trabalhando para que sejamos imortais.

 

A busca pela imortalidade sempre foi tema em livros, filmes, nos pensamentos dos seres humanos e cientistas. Quem não gostaria de ficar jovem para sempre ou viver eternamente? Como muitos já devem ter ouvido “só não temos solução para a morte” e ela é o único e maior obstáculo na vida, pois é a única coisa sem solução até o momento. Mas pesquisadores estão procurando através da inteligência artificial uma solução para sermos eternos e o sonho da imortalidade pode estar mais próximo do que imaginamos. 

 

A neurociência vem explorando a eficácia na transferência de mente por meio de estudos correntes sobre a base física da memória. Seja mediante a criogenia, congelamento do cérebro, ou transportando memórias para uma máquina.

 

O PhD neurocientista, neuropsicólogo e especialista em inteligência artificial, Fabiano de Abreu, explica como funciona a criogenia para eternizar a memória: “A criogenia já é utilizada e com sucesso na preservação de embriões e órgãos humanos, mas no caso da imortalidade, o processo teria que ocorrer enquanto vivo, o que não é permitido na maioria dos países, já que após a morte não terá suas memórias recuperadas porque sem oxigenação as células neurológicas não duram mais do que cinco minutos e com isso é preciso saber o momento certo de reativar o cérebro, como descongelá-lo sem danificar sua estrutura.” 

 

Ainda ressalta que o processo de armazenamento da memória é feito após um processo com o cadáver para que não seja causado danos irreparáveis nas células do organismo como precaução para o cérebro não sofrer danos.

 

De acordo com Abreu, a cópia do DNA é mais complexa para quem quer atingir a imortalidade, devido às memórias serem limitadas: “Pode-se ter o indício de personalidade, mas não tem o seu molde. Não terão as memórias amplas de toda uma vida e como disse, sem memória, não há vida.Mas para mim, o mais plausível é: Salvar a memória e implantá-la num robô”, ressalta.

 

Nomes como James Bedford, professor de psicologia da Universidade da Califórnia, morto aos 73 anos vítima de câncer nos rins, Ted Williams, astro do beisebol morto com 84 anos, Robert Ettinger, precursor na criogenia, morto com 93 anos e Hal Finney, programador pioneiro em bitcoin, morto com 93 anos, aguardam o momento para serem descongelados no futuro. 

 

A transferência mental parece mais um filme de ficção onde envolve um mundo completamente virtual possibilitando fazer o upload da sua consciência e memórias para um computador. Não custa usar a imaginação, no futuro, nossos pensamentos estarão, literalmente, na nuvem.

 

 



Fabiano de Abreu - Doutor e Mestre em Psicologia da Saúde pela Université Libre des Sciences de l’Homme de Paris; Doutor e Mestre em Ciências da Saúde na área de Psicologia e Neurociência pela Emil Brunner World University; Mestre em psicanálise pelo Instituto e Faculdade Gaio,Unesco; Pós-Graduação em Neuropsicologia pela Cognos de Portugal; Três Pós-Graduações em neurociência, cognitiva, infantil, aprendizagem pela Faveni; Especialização em propriedade elétrica dos Neurônios em Harvard; Especialista em Nutrição Clínica pela TrainingHouse de Portugal. Neurocientista, Neuropsicólogo, Psicólogo, Psicanalista, Jornalista e Filósofo integrante da SPN – Sociedade Portuguesa de Neurociências – Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento e Federation of European Neuroscience Societies.

Instagram: @fabianodeabreuoficial


Pacientes com hipertensão devem redobrar cuidados na pandemia

 

Além de ser um fator de risco para a Covid-19, a “pressão alta” é uma das principais causas de morte no mundo, mas pode ser prevenida com mudanças de estilo de vida

 

Nunca a importância de se cuidar da saúde esteve tão evidente. Desde que a pandemia de Covid-19 mudou hábitos e trouxe consigo o medo do adoecimento, ter uma vida mais saudável se tornou um tema diário na vida dos brasileiros. Neste 7 de abril, quando é celebrado o Dia Mundial da Saúde, é importante chamar atenção para uma patologia silenciosa que pode causar diversos problemas graves. A hipertensão, além de ser a principal causa de morte no mundo e no Brasil, consiste em um fator de risco para agravamento da Covid-19 e pode ser prevenida com mudanças de hábitos. 

De acordo com a médica mestre em Saúde da Família e professora da AGES, Nathalie Matos Gama, a Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é uma das principais causas das doenças cardiovasculares, que anualmente são responsáveis por cerca de 350 mil mortes no Brasil. Ela é responsável por 80% dos casos de acidente vascular cerebral (AVC) e também se mostra um agravante em quadros de infarto, aneurisma arterial e até insuficiência renal. 

Além de poder trazer estas sérias complicações, a popular “pressão alta” também é um fator de risco para a Covid-19, podendo os pacientes que estão com o problema em descontrole desenvolver mais facilmente os quadros graves da doença. 

“Geralmente o hipertenso tem um endurecimento das artérias e outras alterações que comprometem o fluxo sanguíneo para o pulmão. Fora isso, uma circulação comprometida dificulta a chegada de anticorpos e células de defesa nos locais atingidos por infecções, tornando-os grupo de risco”, explica a médica. 

Ela alerta para a importância de que os pacientes não descuidem do tratamento, e salienta que existem algumas medidas a serem tomadas pelos hipertensos agora na pandemia, indicadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia. 

“Algumas delas são: intensificar medidas de prevenção, como a lavagem constante de mãos e o distanciamento social, manter rigorosamente uma rotina saudável, alimentar-se bem, ter um sono regular, fazer exercício de maneira moderada (cuidado com as academias e esportes coletivos) e evitar cigarro e álcool. Esses são cuidados que já devem ser tomados pelos hipertensos, mas são ainda mais fundamentais agora”, aponta. 

Além disso, é indicado à comunidade médica priorizar cuidados e tratamentos para o novo coronavírus de acordo com a presença ou não de doença cardiovascular, incluir o cardiologista no time de cuidados dos pacientes críticos e monitorar com exames a saúde cardíaca de casos confirmados ou suspeitos com sintomas.

 

Prevenção e tratamento 

A médica frisa que, para evitar a HAS, as pessoas devem manter um estilo de vida saudável com atividade física, boa alimentação com vegetais, frutas, legumes e pouca fritura. Também são cuidados fazer exames periódicos, evitar uso de drogas lícitas ou ilícitas, ingerir pouca quantidade de sal, dentre outros. No caso da doença ocorrer, pode ser preciso uso contínuo de medicações. 

“A pressão arterial elevada é tratada com uso de medicamentos anti-hipertensivos a serem avaliados por um médico, que fará uma análise de qual tratamento mais adequado para cada pessoa”, completa. 

A hipertensão arterial é uma doença crônica não transmissível (DCNT), definida por níveis pressóricos. Os níveis considerados para pressão alta devem ser igual ou maior que 130 milímetros de mercúrio (mmHg) por 80 mmHg. Ela é multifatorial e pode surgir por causas genéticas, ambientais e sociais. 

“O grupo mais propenso a ter HAS varia de acordo com idade, sexo, etnia, sobrepeso, sedentarismo, etilismo, dentre outros. Com o passar dos anos, as artérias tornam-se enrijecidas, perdendo sua complacência. É mais comum em homens jovens e, com o passar das décadas, é mais comum nas mulheres, sendo que a partir dos 60 anos, tem a mesma frequência em ambos os sexos”, explica Nathalie. 


Saúde masculina e sua importância para relações sexuais homoafetivas mais prazerosas

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 30% dos homens no mundo, incluindo homossexuais e bissexuais, sofrem de algum nível de impotência sexual. Conhecer o próprio corpo, seus desejos, limitações e cuidar da saúde é essencial para uma vida sexual saudável e sem frustações


Infelizmente no Brasil ainda existem poucas informações específicas sobre o perfil comportamental do público LGBTQI+, o que dificulta a criação de políticas públicas mais favoráveis para esta parte da população, principalmente àquelas relacionadas à saúde sexual. 

Por isso, ainda é difícil traçar padrões de satisfação nas relações sexuais desse grupo. E conhecer o seu corpo, desejos, medos e limitações faz parte do processo de autoconhecimento, assim como estar aberto para entender o que dá prazer ao outro.

No entanto, o fato é que o quesito saúde exerce total importância para o sexo prazeroso e seguro, assim como uma vida sexual de qualidade interfere na saúde como um todo. E a melhor forma para encontrar esse equilíbrio é se informar para prevenir, além da busca pelo autoconhecimento que deve ser prazerosa.


Quantidade x qualidade: como alcançar a satisfação sexual no relacionamento

Em qualquer relacionamento, uma boa frequência sexual é fator importante e a prática é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde como um dos pilares da qualidade de vida. 

Dentro desta vertente, uma pesquisa realizada pela clínica norte-americana de Proctologia Bespoke Surgical, apontou que, dos 300 homossexuais ouvidos, 13% afirmaram manter a prática anal todos os dias. Outros 39% fazem apenas algumas vezes por semana, 24% poucas vezes por mês e 16% alegaram nunca praticarem sexo anal. 

O ato sexual pode ir muito além da penetração, o estímulo de zonas erógenas também pode proporcionar prazer e a satisfação. No relacionamento, testar coisas novas ajuda a aquecer a relação. Afinal, curtir uma nova fantasia ou uma posição diferente com o parceiro certamente vai aumentar a cumplicidade.

“Diversas questões podem influenciar negativamente na frequência sexual ou na qualidade do sexo, como ansiedade e estresse que, consequentemente, desencadeiam problemas de ereção e ejaculação, por exemplo”, comenta Willy Baccaglini, médico urologista e mestre em Medicina Sexual pela FMABC.

De acordo com a OMS, cerca de 30% dos homens no mundo sofrem de algum nível de impotência sexual, principalmente na faixa etária acima de 40 anos. 

“Apesar do grande volume de casos de impotência sexual, alguns homens ainda são resistentes em procurar um médico urologista para falar sobre o tema, pois consideram que o problema está mais relacionado a uma questão momentânea, do que com sua saúde propriamente dita. No caso do homem que faz sexo com homem, o medo de sofrer qualquer tipo e preconceito ou discriminação também inibe a visita ao consultório”, esclarece Baccaglini.

Isso significa que cuidar melhor da saúde física e buscar se informar com um especialista é recomendável, e no primeiro indicativo ou sintoma que possa sugerir algum problema, com intuito do ato sexual ser sempre um momento de prazer e cuidado com a própria saúde e jamais de preocupação e frustrações. E neste caso, não falamos apenas do prazer físico, mas também do bem-estar mental e questões relacionadas à autoestima do homem independente de sua parceria.


O cuidado com a saúde é fator importante para relações 

A Pesquisa Mosaico, realizada pelo Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), indica que 81% dos homens que fazem sexo com homens usam camisinha na hora H. Se por um lado, esta informação pode indicar que os homens gays estão preocupados com a saúde, por outro lado, uma outra informação do estudo aponta que, no período de 12 meses, 47% dos homens gays afirmaram que tiveram relações sexuais com três ou mais parceiros. E, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), independente da orientação sexual, fazer sexo com múltiplas parcerias é um sinal de alerta para as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s).

“Apesar de funcionar como uma forte barreira, o preservativo sozinho não impede totalmente que uma pessoa contraia uma infecção sexualmente transmissível. O HPV, por exemplo, pode ser transmitido apenas pelo contato com a pele contaminada. Então se o vírus estiver presente na virilha ou na região escrotal, por exemplo, a chance de contágio existe”, alerta o urologista.

O especialista também comenta que, considerando o ato sexual pela via anal, o risco de contaminação é maior, pelo fato de a mucosa desta região ser mais sensível a traumatismos e, consequentemente, transmissão de doenças. Por isso, a melhor maneira de evitar a contaminação por uma IST é a informação voltada para prevenção e proteção, com destaque para o uso de preservativo, inclusive no sexo oral.


Sem medo do urologista 

De um modo geral, o homem que, assumidamente, faz sexo com outro homem é mais seguro de si e se sente à vontade em ir até o consultório médico fazer exames periódicos e tirar eventuais dúvidas que possam surgir.

“Eu vejo uma maior aceitação do público masculino homossexual de frequentar o consultório, até mesmo em uma idade mais precoce. Eles estão cada vez mais preocupados com sua saúde, principalmente em questões relativas às IST’s e seu desempenho sexual”, comenta Dr. Baccaglini.

Ainda segundo o médico, diferente dos homens heterossexuais que são estimulados por suas mulheres para cuidarem da saúde, este público pratica cada vez mais o autocuidado e são mais bem resolvidos em tomar a iniciativa de procurar um urologista. Mas em algumas situações, também encontram em seus parceiros o incentivo para realizar consultas e exames periódicos.

Por outro lado, o especialista afirma que, infelizmente, ainda existe um certo receio por parte do paciente de sofrer algum tipo de preconceito. “Esta barreira está sendo quebrada. Todo médico precisa oferecer um ambiente humanizado e acolhedor para o seu paciente, seja qual for sua orientação sexual. No caso do urologista, o paciente tem que se sentir à vontade para falar sobre sua vida sexual e perceber que o profissional está coletando todas essas informações totalmente livre de qualquer tipo de preconceito”, reforça.

Para o especialista, esta conexão é fator determinante para a construção de uma relação sincera e produtiva entre médico-paciente, pois “se o profissional não proporcionar um ambiente acolhedor, dificilmente o paciente se sentirá confortável para falar sobre seus problemas, dúvidas e questões que possam contribuir para que ele tenha uma vida sexual saudável e com qualidade, sem medo de doenças e sem medo de ser feliz”, ressalta.

Entretanto, a homofobia ainda existe, seja por ignorância ou falta de preparo do profissional. O Dr. Baccaglini lembra que o urologista é o médico da saúde sexual masculina, mas também contribui para o envelhecimento saudável do homem como um todo, como o cuidado com a fertilidade e o bem-estar de forma geral, atuando de maneira mais generalista. 

Com relação a periodicidade de consultas, o médico explica que tudo é muito relativo e depende muito das necessidades do paciente. “O recomendável é que homens mais jovens sem qualquer tipo de sintoma visitem um médico urologista uma vez ao menos na adolescência ou vida adulta inicial, período em que há início da vida sexual da maior parte dos homens. A partir da meia idade, os 40-50 anos, o acompanhamento anual é recomendado, não apenas por conta do rastreio de câncer de próstata, mas também por outras questões que se associam ao envelhecimento masculino”, explica. 

Por fim, também é importante ressaltar que os homossexuais estão tendo a possibilidade de se preocuparem não somente com sua saúde e de seus parceiros, mas também com a do seu próximo, devido ao fim da restrição discriminatória, revogada em 2020 pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que impedia homossexuais de fazerem doações de sangue. 

 



Willy Baccaglini - Especialista em Uro-Oncologia; Mestre em Medicina Sexual pela FMABC; Professor no curso de graduação de Medicina na FMABC; Membro do Corpo Clínico do Hospital Israelita Albert Einstein como Uro-Oncologista. 


Estudo associa síndrome do ovário policístico a maior risco de Covid-19; entenda a origem e possíveis tratamentos da doença com o especialista César Patez

O obstetra e ginecologista César Patez também ressalta outros grupos de mulheres mais suscetíveis a desenvolver complicações do coronavírus, caso sejam infectadas

 

Pesquisadores da Universidade de Birmingham, no Reino Unido, concluíram durante estudo que mulheres que sofrem da síndrome do ovário policístico (SOP) têm risco maior de contrair a Covid-19 em relação às que não apresentam o distúrbio no sistema reprodutor.

 

Entre janeiro e julho de 2020, foram analisados mais de 100 mil registros de pacientes no Reino Unido e cerca de 21 mil dessas mulheres apresentavam a síndrome. Publicada em fevereiro deste ano no European Journal of Endocrinology, a pesquisa mostrou que a incidência da Covid-19 em mulheres com SOP foi quase duas vezes maior do que em mulheres sem o problema. 

 

Além disso, mesmo levando em consideração os fatores de risco ligados ao coronavírus, como obesidade, diabetes e hipertensão, a probabilidade de se infectar com o vírus continuou maior entre as mulheres com ovários policísticos. 

 

Por conta desses dados alarmantes, a pesquisa debate a criação de estratégias que incluam as mulheres com SOP nas políticas públicas de combate à Covid-19 em diversos países. De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), a síndrome acomete entre 5% e 21% das mulheres em período reprodutivo. 

 

O obstetra e ginecologista César Patez explica porque a SOP é tão comum entre as mulheres. “Vários fatores têm sido analisados no que diz respeito à origem do problema. Há componentes genéticos envolvidos, fatores metabólicos pré e pós natais, distúrbios endócrinos hereditários, resistência à insulina e fatores comportamentais, como a alimentação e a prática de atividade física”, afirma.

 

Por enquanto, não existe uma cura definitiva para a síndrome do ovário policístico, contudo, um tratamento bem conduzido favorece o resultado desejado, trazendo conforto e bem-estar à mulher. “Os métodos variam de paciente para paciente. É possível utilizar pílulas anticoncepcionais, adotar um estilo de vida mais saudável, indutores de ovulação nas pacientes que desejam engravidar e até mesmo cirurgias, nos casos mais graves.” 

 

A síndrome ocorre quando os ovários formam cistos, assim que o processo de produção e liberação é interrompido por uma falha nos folículos da glândula. Dentre os principais sintomas da SOP estão o ciclo menstrual irregular e níveis elevados de hormônios que podem causar, por exemplo, excesso de pelos no rosto e no corpo. 

 

Outro possível efeito da síndrome é a maior tendência a desenvolver doenças como diabetes tipo 2 e hipertensão, que estão dentre os fatores de risco para a Covid-19, além de transtornos mentais como ansiedade e depressão.

 

O especialista também ressalta outros grupos de mulheres que apresentam mais risco de desenvolver complicações da Covid-19, caso sejam infectadas.

 

“Pacientes gestantes ou que estão na fase pós-parto, fumantes imunocomprometidas, mulheres com índice de massa corporal (IMC) aumentado, diabéticas, portadoras de doença pulmonares, autoimunes, hematológicas, cardíacas e neurológicas. A idade acima de 60 anos também é um outro fator de risco para homens e mulheres, favorecendo as complicações”, completa.

Dia Mundial de Combate ao Câncer: com risco seis vezes maior de letalidade pela COVID-19, pacientes oncológicos aguardam priorização no plano de imunização

Sem data certa para serem vacinados, 1,5 milhão de brasileiros com câncer fazem parte da extensa lista de pessoas com comorbidades prevista para uma futura fase 3; Pesquisas mostram impactos do coronavírus em pacientes oncológicos no Brasil, quedas no número de exames essenciais de rastreamento e cancelamentos de condutas terapêuticas



Embora as descobertas científicas no diagnóstico e tratamento do câncer avancem em todo o mundo, neste Dia Mundial de Combate ao Câncer, lembrado em 8 de Abril, a pandemia da Covid-19 é a maior preocupação dos especialistas da área. O medo do contágio foi o principal fator por trás de uma queda alarmante nos atendimentos oncológicos e, com a segunda onda acontecendo no Brasil, o problema pode se estender por ainda mais tempo. Um cenário de incertezas e vulnerabilidade agravado pela falta de perspectiva relativa ao calendário de vacinação para os 1,5 milhão de brasileiros que atualmente passam por tratamentos contra tumores malignos, de acordo com o GLOBOCAN 2020 - relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) que apresenta o panorama mundial da doença.

Estudo liderado pelo Grupo Oncoclínicas, publicado neste início de ano pelo Journal of Clinical Oncology (JCO), mostrou que pacientes com câncer tiveram taxa de mortalidade pelo vírus seis vezes maior se comparada aos números gerais registrados até aqui. Ao todo, 198 participantes foram pesquisados, sendo que 167 (84%) tinham tumores sólidos e 31 (16%) neoplasias hematológicas (no sangue). A maioria deles estava em terapia sistêmica ativa ou radioterapia (77%). A mortalidade geral por complicações de Covid-19 foi de 16,7%, sendo que, em modelos univariados, os fatores associados à morte após o diagnóstico de contaminação pelo coronavírus foram tratamento em um ambiente não curativo, idade superior a 60 anos, tabagismo atual ou anterior, comorbidades coexistentes e câncer do trato respiratório.

"A análise endossa as recomendações para termos ações que contribuam para minimizar os riscos de infecção pelo SARS-CoV-2 entre pacientes com câncer e indica o senso de urgência da vacinação para essas pessoas. Diante do cenário que vivemos, com altos índices de contaminação e ocupação dos leitos hospitalares no limite, temos que considerar a inclusão específica dessa parcela da população no Plano Nacional de Imunização como uma medida importante para garantir que essa parcela da população tenha sua necessidade priorizada e respeitada", explica afirma o oncologista Bruno Ferrari, fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas.

Vale lembrar que o câncer faz parte da lista de doenças estabelecida pelo Ministério da Saúde cujo tratamento não pode ser considerado eletivo. Atualmente, pacientes oncológicos estão incluídos no contingente de 17,8 milhões de indivíduos que compõem uma longa lista de comorbidades feita pelo Governo Federal, entre as quais também estão contempladas obesidade, diabetes, cardiopatias e hipertensão, entre outros. Todos devem ser contemplados em algum momento na chamada fase 3 do Plano Nacional de Imunização. Não há, contudo, ainda um escalonamento claro de como se dará essa agenda de vacinação, considerando as especificidades e graus de risco de cada uma dessas doenças associadas ao agravamento da Covid-19.

Com base nas análises científicas feitas no Brasil e também em outros países, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) encaminhou ofício ao Ministério da Saúde solicitando prioridade na vacinação para quem passa pelo tratamento contra o câncer.



Pandemia afeta rotina de pacientes oncológicos e adia novos diagnósticos da doença

Ainda que a OMS ressalte não ser possível ter uma visão apurada neste momento dos impactos diretos da pandemia na luta contra o câncer, a entidade alerta que há motivos efetivos para preocupação com as consequências da situação atual para a oncologia. Essa percepção é reforçada por um levantamento do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC), realizado em 2020: mais de 700 pessoas entre pacientes oncológicos, cuidadores e profissionais de saúde, disseram sentir o impacto da pandemia na oncologia.

Dos pacientes consultados, 38% afirmaram ter remarcado por decisão própria ou a pedido da instituição onde realizam acompanhamento de suas consultas com o especialista e 28% sofreram alterações de agenda para realizar os exames de acompanhamento da doença. Do lado dos profissionais de saúde, 34% afirmaram que tiveram pacientes com cirurgias oncológicas adiadas e que entre os tratamentos mais comuns indicados para tumores malignos, 17% observaram que foram necessárias remarcações de sessões de radioterapia e outros 15% de quimioterapia.

Dados como estes são alarmantes, já que o tratamento do câncer não deve parar. "Para o paciente, a interrupção na linha de cuidados pode levar ao agravamento da doença e de fato reduzir amplamente as chances de cura. Há um ano estávamos aprendendo a lidar com a falta de conhecimento sobre o novo coronavírus e, de fato, a ausência de informações precisas acabou gerando uma onda de adiamentos das terapias por pacientes receosos com uma possível exposição à Covid-19", destaca Bruno Ferrari.

E o problema não se restringe ao medo de quem depende de tratamento contra tumores malignos. Outros estudos mostram a mesma tendência negativa com relação aos exames de rastreamento preventivo e diagnóstico. O relatório Radar do Câncer, divulgado em março pelo Instituto Oncoguia com informações do DataSUS, aponta que o volume de biópsias realizadas no país teve uma queda em números absolutos de 737.804 para 449.275, quando comparados os meses de março a dezembro do ano passado com o mesmo período em 2019. Isso significa uma redução de 39% na realização desse procedimento que, apesar de classificado como eletivo, é essencial para a definição de condutas no combate ao câncer.

"O adiamento nos acompanhamentos médicos de rotina podem ter como consequência um aumento nos índices de tumores descobertos em fase mais avançada, o que poderá reduzir as chances de cura em muitos casos. E esse é um problema de saúde pública que deverá mudar o panorama do câncer, com aumento da letalidade e reflexos negativos em termos de qualidade de vida dos pacientes", diz o médico.



Atendimento on-line pode ajudar

O fundador e presidente do Conselho de Administração do Grupo Oncoclínicas lembra que apesar de todos os fluxos nos centros de tratamento estarem seguindo os mais rígidos protocolos para assegurar um ambiente livre de contaminação, reduzir deslocamentos, aumentar o distanciamento social e o isolamento e manter as medidas de higiene e o uso de máscaras são fundamentais enquanto não temos um horizonte de imunização em massa.

Contudo, ele faz questão de alertar não só quem precisa de cuidados médicos continuados, mas a população em geral sobre a relevância de não descuidar da saúde: com sintomas ou sentindo algo errado, é preciso procurar um médico. Neste momento, aconselha: diante do receio de sair de casa para buscar aconselhamento especializado, há a alternativa de agendar uma consulta remota para evitar deslocamentos desnecessários.

"Nada substitui uma consulta presencial, mas esses são tempos diferentes de tudo o que já vivemos e precisamos nos adaptar da melhor forma possível. A telemedicina tem se provado ser uma grande aliada e, por meio dela, seu médico sempre saberá indicar, por conhecer suas características, o que é melhor para você. E se não tiver um profissional de sua confiança, busque sempre a opinião de um especialista habilitado para que seja possível receber orientações precisas para o seu caso antes de qualquer tomada de decisão", finaliza Bruno Ferrari.



O que diz a OMS


A descoberta tardia pelo atraso na realização de exames de rastreamento e a falta de acesso a tratamentos, especialmente em países em desenvolvimento, estão entre os aspectos ressaltados pela Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (Iarc, sigla do inglês), entidade ligada à OMS que estima os efeitos que afetam diretamente os cuidados oncológicos. A organização informou que nas duas últimas décadas o número total de novos casos de câncer quase dobrou, saltando de 10 milhões estimados em 2000 para 19.3 milhões em 2020. Além disso, em todo o mundo, um total de mais de 50 milhões de pessoas compõem o contingente de pacientes que vivem os chamados cinco anos de prevalência do câncer atualmente.

As projeções do Globocan 2020 indicam ainda que nos próximos anos há uma tendência de elevação dos índices de detecção do câncer, chegando ao patamar de quase 50% a mais em 2040 em comparação ao cenário atual, quando o mundo deve então registrar algo em torno de 28.4 milhões de novos casos de câncer. Isso significa que a cada cinco pessoas, uma terá câncer em alguma fase da vida. Nos países mais pobres, a incidência da doença deve ter um crescimento superior a 80%.

O número de mortes por câncer, por sua vez, subiu de 6,2 milhões em 2000 para 10 milhões em 2020 - uma equação que aponta que a cada seis mortes no mundo uma acontece em decorrência do câncer. No Brasil, apenas no ano passado, foram diagnosticados 592.212 novos casos e registrados 259.949 óbitos em decorrência de neoplasias malignas. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontam ainda que são esperados ao menos outros 625 mil diagnósticos de câncer sejam registrados até o final de 2021.

E a tendência é que haja aumento nesse triste ranking, já que a OMS também indica que a pandemia trará como consequência mais casos de pacientes com câncer em estágio avançado por conta dos atrasos na descoberta e tratamentos de tumores malignos.


Como o estresse pode afetar a saúde bucal?

 Conheça os incômodos que momentos de tensão podem trazer ao sorriso


Devido ao isolamento social, muitas pessoas estão passando por mudanças bruscas na rotina, que podem aumentar o estresse. No geral, esses momentos de tensão afetam o organismo de diferentes maneiras, que variam de acordo com cada pessoa. Por isso, Sara Paz, consultora da GUM , marca americana de cuidado bucal, alerta sobre como o estresse também pode afetar a saúde bucal.

"A quarentena pode gerar a sensação de ansiedade constante, esse estresse sentido por algumas pessoas pode ter um efeito pró-inflamatório, que somado a uma higiene bucal precária, pode impactar a saúde bucal e levar ao surgimento de doenças periodontais, aftas e outros problemas", afirma.

A especialista reforça a importância de manter hábitos saudáveis de cuidado bucal em casa e a ficar atento a possíveis incômodos como:

Aftas: ainda que haja poucos estudos conclusivos, existem pesquisas que apontam uma relação entre pacientes com quadro clínico de estresse e o desenvolvimento de afta. Um dos motivos é que pessoas estressadas estão mais propensas a morder lábios e bochechas, hábito que pode facilitar o surgimento de aftas.

Bruxismo e apertamento dos dentes: o hábito de ranger os dentes ao dormir ou mesmo o apertamento dentário durante o dia são problemas que afetam além da estrutura dentária a articulação temporomandibular, tendo como consequência dores de ouvido e de cabeça intensas, além de problemas musculares na face, pescoço, ombro e em toda região cervical.

Boca seca: a diminuição da produção de saliva é outro fator que pode ser causado pelo estresse. A saliva é extremamente necessária para ajudar a proteger a boca contra bactérias e fungos, além de prevenir o aparecimento de cárie dental e inflamações, assim, tentar lidar com a ansiedade e estresse pode ajudar a evitar a falta de saliva.

Doenças gengivais e periodontais: a pessoa sob estresse pode negligenciar o cuidado bucal, e a má higienização bucal leva ao acúmulo de bactérias e, consequentemente, a formação de cárie, inflamações na gengiva e doença periodontal. "O estresse causa também um desequilíbrio hormonal que favorece a desregulação do sistema imune, responsável pela defesa do organismo contra inflamações em todo organismo, afetando inclusive a saúde bucal", esclarece.

Sara comenta que o estresse também pode estimular maus hábitos de saúde bucal como fumar, consumir bebidas alcoólicas e se descuidar da dieta. Principalmente neste período de quarentena é importante estar atento aos cuidados com a saúde como um todo e fazer, sempre que possível, atividades que auxiliem a sensação de bem-estar, reduzam o estresse e proporcionem uma dieta saudável. Além disso, vale manter o cuidado com a saúde bucal, escovando os dentes ao menos uma vez ao dia, e realizando a limpeza interdental diariamente, hoje já existem produtos que deixam a limpeza entre os dentes muito mais fácil, com os fios dentais com haste, flossers, ou os palitos interdentais siliconados, Soft-Picks.

"Caso a pessoa apresente alguns dos problemas bucais apresentados é importante procurar o dentista. Como estamos em período de quarentena, entre em contato com o profissional antes pelo telefone, informando os incômodos para analisar a possibilidade de uma consulta presencial", ressalta.


Terapia Gênica pode ser promessa no tratamento do Parkinson

O uso de material genético como tratamento para uma série de doenças é uma evolução na medicina e ganhou repercussão em razão da pandemia, justamente por conta da aplicação deste tipo de tecnologia no desenvolvimento de vacinas contra a Covid-19. Algumas delas injetam pequenas pedaços de RNA nas células que passam a produzir proteínas, as quais combatem o vírus. Mas qual a relação disso com a Doença de Parkinson?


Há uma série de pesquisas mundiais, algumas a serem concluídas já no ano que vem, que usam a terapia gênica para atenuar e/ou melhorar a função motora de pacientes com Parkinson. A proposta dos pesquisadores é autorregular a produção de dopamina, neurotransmissor responsável pela mensagem entre as células nervosas e que tem queda intensa na Doença de Parkinson.

Dentre elas, há uma pesquisa realizada por um grupo francês que estuda a injeção de material genético diretamente em estruturas cerebrais relacionadas à doença. Este DNA carrega informação correspondente não apenas a uma enzima, mas três enzimas (TH, CH1 e a AADC) envolvidas na produção de dopamina. Se os resultados deste estudo forem favoráveis, as células do cérebro destes pacientes se tornarão capazes de produzir a substância em quantidades adequadas para o alívio dos sintomas da Doença de Parkinson, podendo eliminar a necessidade de terapia medicamentosa. Embora ainda não acessível, precisamos ver que finalmente é possível falar na possibilidade de cura do Parkinson num futuro talvez não tão distante.

Na verdade, a medicina vem trabalhando constantemente para trazer melhor qualidade de vida aos pacientes de Parkinson, segunda condição neurodegenerativa mais incidente em pessoas com mais de 60 anos. Hoje temos medicamentos que ajudam a controlar os principais sintomas da doença, como os tremores, a rigidez e os movimentos involuntários. Outra alternativa segura e eficaz consiste na Terapia de Estimulação Cerebral Profunda (DBS), cirurgia que utiliza um dispositivo médico implantado, semelhante a um marcapasso cardíaco.

Já disponível no rol de procedimentos da rede pública de saúde, a DBS também tem evoluído. Indicada para pacientes que não absorvem bem a medição devido ao seu uso prolongado, a neuro estimulação, como a técnica também é conhecida, traz resultados bem precoces, notados horas depois da cirurgia. Inclusive, hoje existem tecnologias que nos permitem captar os sinais cerebrais do paciente e monitorá-los remotamente. Em breve, possivelmente nos "comunicaremos com o cérebro", e não apenas interviremos. Ou seja, além das consultas regulares, ganhamos maior precisão no controle do Parkinson e passamos a atender de forma ainda mais assertiva às necessidades individuais de cada paciente.

Como aprendemos no último ano, é preciso confiar na ciência e na capacidade do ser humano de inovar e surpreender. As respostas podem não ser tão rápidas como queremos, mas estaremos sempre caminhando para trazer terapias que realmente fazem a diferença na vida dos pacientes com a Doença de Parkinson, bem como seus familiares.





Marcelo Valadares - neurocirurgião, médico da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e do Hospital Israelita Albert Einstein.


Posts mais acessados