Tanto faz como tanto fez. Abobalhados. Inertes.
Adormecidos. Lentos. Parecemos autômatos diante dos acontecimentos. Esperamos
os dias seguintes, e os seguintes...
Ouvimos, lemos, sabemos ou somos
diretamente atingidos, diariamente, por toda sorte de acintes, assaques,
misérias, decretos e decisões que visivelmente nos prejudicam – a todos. Leis
lidas a bel prazer. Bancos, seguradoras, poderosos limpam os pés nas nossas
costas. Vemos gente pela qual temos apreço ou mesmo mal conhecemos, sofrendo
ou caindo, miseráveis, seja nos postos de saúde ou nas calçadas, mortas pela
violência desmedida e sem fim. Assistimos impassíveis a embates públicos
nojentos e é como se nada daquilo nos dissesse respeito, estivesse ocorrendo
em outro planeta.
Doenças terríveis que já haviam sido
erradicadas – sarampo, raiva, poliomielite! – voltam céleres. Matam. E há
quem tenha - para isso, sim – energia e coragem de negar as vacinas; pior, criminosamente
tentam ainda argumentar contra elas do alto de suas ignorâncias, e acabam
conseguindo, atingem uma importante parcela da população, aquela que a cada
dia mais não sabe onde está parada. Apenas está parada esperando o futuro do
país do futuro que não chega nunca.
Faltam pouco mais de três meses para
a eleição de um novo presidente da República, repito, presidente. Isso, além
dos cargos de governadores e deputados que serão regentes dessa desafinada
orquestra a partir do primeiro dia do ano que vem. E é como se nada da crise
braba que estamos vivendo, das terríveis descobertas de corrupção, roubos,
extorsões, pilhagens e pilantragens em geral fizessem real diferença fora dos
vídeos feitos com celular deitado. Depoimentos que mostram, sim, um Brasil
real, pobre, largado, cheio de recônditos de nomes estranhos, de pessoas e
cidades, e onde se fala uma língua que portuguesa não é, com seus esses e
plurais esquecidos tanto quanto eles próprios.
O primeiro colocado nas pesquisas
eleitorais, feitas com esses nominados aí que pretendem por a mão na direção,
aparece; e é um preso com várias condenações e que de lá onde está
trancafiado ainda posa de mártir e redentor, perseguido, um Messias. O
segundo colocado é um ser abominável, incapaz de nada a não ser de bravatas,
que até parecem soar reais nesse verdadeiramente desesperador momento: é como
se ele pudesse bater, balear, fuzilar todos os problemas. Nas intenções de
voto, vêm seguidos de outros: um amorfo, uma amorfa, um destrambelhado e
outros pequenos seres prontos a negociar suas cadeirinhas nos estúdios de
tevê por algum cargo. Estão ali no meio do campo, meio transparentes,
correndo como os bobinhos, esperando quem sabe qual será a jogada.
O resultado mais plausível nesse
instante é que saiam vitoriosos os votos nulos, brancos e abstenções. Afinal,
em quem votar nessa seara, nesse deserto de ideias e propostas reais? Mais:
como levarmos esses seis meses que temos adiante com um presidente que só
consegue cair cada vez mais em desgraça e impopularidade? Que anda com cascas
de banana nos bolsos e que vai jogando a cada passo que dá, escorregando?
A apatia é tanta que alcançou o que
jamais imaginaríamos possível, as demonstrações populares. O futebol. Ah, que
bom, tem Copa do Mundo. Ponto.
Ah, que bom, o Brasil ainda está classificado. Gol. Depois do
silêncio e da tensão que acompanham as sofridas partidas - como todas têm
sido - gritos rápidos nas janelas, uma bombinha aqui; outra ali. Pronto. Ah,
acabou o jogo e o Brasil ganhou. Não se ouve mais nada, a não ser a vida
tentando voltar ao seu normal.
Até o ufanismo das bandeirinhas espalhadas
para decorar os espaços pouco tremulam.
O tempo está passando e não
conseguimos mover o pé para fora dessa areia movediça que nos imobiliza.
Belisquem-se. Alguém, por favor,
ligue o alarme. Bote água para ferver. Dê um antídoto para a população
acordar e ver o que ainda podemos fazer; mas de verdade, não pelas redes
sociais que parecem ser o que nos anestesia!
Eu só queria muito poder desejar um
feliz segundo semestre. Percebeu que o ano já chegou à sua metade?
Marli Gonçalves - jornalista – Urge ver o Brasil fazer gols em
seu próprio campo.
|
SP, julho, toca a sua sirene!