O consumo de drogas é uma das
principais preocupações em saúde pública da atualidade. Segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), 500 mil pessoas morrem todos os anos, em decorrência do
uso dessas substâncias. Males causados por drogas lícitas e ilícitas como
doenças cardíacas e câncer encabeçam a lista das 10 principais causas de morte
em todo o mundo.
Nesta matéria, os médicos do
Hospital Santa Mônica, Dr. Cláudio Duarte e Dra. Haidê Trida, explicam a
relação entre drogas e doenças e como ela pode ser fatal.
Quais são as drogas psicoativas mais disseminadas no Brasil?
As drogas mais difundidas no Brasil podem ser
divididas em três grupos. Veja quais são e seus efeitos no organismo:
Canabinóis
"Os canabinóis são drogas que possuem
como princípio ativo o Tetrahidrocanabinol (THC)", explica o Dr. Cláudio
Duarte. "A mais conhecida é a maconha, mas existem outras drogas derivadas
dela como o skank e o haxixe", completa a Dra. Haidê Trida. São comumente
inaladas através do fumo, mas também podem ser misturadas a alimentos e
ingeridos, como é o caso da maconha.
Efeitos no organismo
Canabinóis são conhecidos por seu efeito
relaxante no sistema límbico, como bem define o Dr. Cláudio Duarte. "O THC
é responsável por uma espécie de afrouxamento do cérebro. É uma droga que reduz
as atividades cerebrais. Por isso, a memória e a capacidade cognitiva do
indivíduo fica prejudicada após o uso. Há ainda uma notória interferência na volição,
ou seja, as pessoas perdem a vontade de agir, fazer as coisas, em especial com
o uso crônico e pesado".
Estimulantes
Estimulantes incluem substâncias lícitas como
o café e o tabaco ou drogas mais pesadas como a cocaína e o crack. "Nesses casos, o risco de dependência e o impacto
na vida do sujeito é mais forte ainda. Tanto na parte psicológica quanto na
parte social", alerta o Dr. Cláudio.
A doutora Haidê acrescenta à lista os fármacos
produzidos em laboratório. "São os chamados psicoestimulantes. A Ritalina,
por exemplo é um medicamento que se enquadra nesse tipo". Para o doutor
Duarte, o problema surge principalmente quando o remédio é utilizado sem
orientação médica. "Usuários utilizam sem acompanhamento profissional,
perdem o controle e passam a ter problemas com a substância", diz.
Efeitos no organismo
Drogas estimulantes provocam um estado de
alerta e euforia. "Momentaneamente ela age fazendo com que tudo no cérebro
fique mais ativo. Isso pode levar a uma convulsão, uma taquicardia, arritmias e
convulsões", elabora o Dr. Cláudio Duarte.
"Há ainda uma sensação de grandiosidade,
de hipervigília, de autoestima muito elevada", emenda a Dra. Trida.
"Da mesma forma podem gerar agressividade, alucinações e delírio".
Tranquilizantes e
Benzodiazepínicos
"Esses são os chamados medicamentos tarja
preta", explica a Dra. Haidê Trida. "Opioides utilizados na forma de
analgésicos também se enquadram nesse grupo".
Além dos fármacos é possível citar o álcool, outra droga bastante comum em círculos sociais,
como explica o Doutor Cláudio. "Trata-se de uma substância difundida na
sociedade há milhares de anos, portanto socialmente aceita. Para pessoas que
desenvolvem vulnerabilidade à dependência, um grande contingente vai acabar
incorrendo a um padrão de uso abusivo, passando por uma situação de agravo à
saúde pelo consumo da bebida".
Como atuam no organismo
Segundo a doutora Haidê Trida, drogas
psicotrópicas depressoras têm por efeito global a diminuição da atividade
cerebral. "Elas atuam a ponto de diminuir a ansiedade ou causar a hipnose,
levar à pessoa a um estado de inconsciência. As pessoas buscam um alívio nessas
substâncias, talvez até mesmo para enfrentar situações do dia a dia. E isso
pode levar a um ciclo vicioso", elabora.
"Elas podem ter ainda um efeito
paradoxal, agitando a pessoa ao invés de sedar", alerta o Dr. Cláudio.
"São drogas com potencial de abuso, pois o indivíduo vai criando
resistência conforme o uso, necessitando de doses cada vez maiores".
Doenças físicas comumente associadas ao abuso
de drogas
Veja quais são os males do corpo mais comuns,
e quais drogas podem ser relacionados a eles.
DSTs
Transmitidas principalmente pelo ato sexual,
as DSTs podem incluir Hepatites B ou C, Sífilis, HIV, entre outras. Sua
transmissão está intimamente relacionada com o abuso de drogas.
"Você tem um risco aumentado de contração dessas doenças entre as
pessoas que têm o diagnóstico do uso abusivo de substâncias", explica o
Dr. Cláudio. "Isso se deve ao fato de pessoas intoxicadas terem menor
capacidade de se proteger, ou até mesmo uma maior chance de se engajar em
atividades sexuais. O que pode acabar levando a um descuido, aumentando o
índice de contração", alerta. "Do álcool ao crack e à maconha,
qualquer substância que altere o seu nível de consciência pode te colocar em
uma situação de risco", completa a Dra. Haidê.
Drogas que podem causar: qualquer substância
alteradora da consciência, em especial o álcool e as drogas injetáveis.
Endocardite infecciosa
É uma doença causada pela inoculação de
bactérias no organismo, por meio de agulhas. "Essa bactéria cai na
corrente sanguínea, pode provocar infecção no coração, e causar uma infecção
generalizada em qualquer parte do corpo. Outras doenças imunossupressoras podem
facilitar a contração da endocardite", explica a Dra. Haidê.
Drogas que podem causar: drogas injetáveis
Desnutrição
É uma consequência da supressão da fome por
parte do indivíduo que abusa de substâncias. "Em alguns casos a pessoa
deixará de comer para consumir a droga. Em outros a própria droga tem por
efeito o consumo inadequado de nutrientes pelo corpo", conta o Dr. Cláudio
Duarte.
"A bebida, por exemplo, pode causar uma
desnutrição específica muito importante, que é o esgotamento da vitamina B1 no
organismo. Isso pode levar a uma Síndrome chamada de Wernicke-Korsakoff, que
tem diversas consequências negativas. A falta dessa vitamina pode causar um
quadro anêmico ou até mesmo uma neuropatia periférica", continua.
Drogas que podem causar: álcool, crack
Lesões cerebrais
"Normalmente acontecem devido à
deterioração da bainha de mielina, além da alteração dos níveis de dopamina e
serotonina no cérebro", explica a Dr.a Haidê. "O uso de drogas como a
cocaína potencializa ainda as chances de ocorrência do Acidente Vascular
Cerebral (AVC)".
Drogas que podem causar: crack e cocaína
Cirrose e câncer no fígado
O fígado é o filtro de tudo que ingerimos ou
que circula no nosso corpo, quando falamos de elementos químicos. Nesses casos,
o álcool pode ser o maior vilão, diz a doutora Haidê. "Ele vai lesionando
os hepatócitos de forma que eles não consigam se reestruturar. Ao tentar
recuperar essas lesões, o corpo acaba criando uma fibrose, fazendo com que esses
pedaços do fígado virem 'muros' que não são mais capazes de metabolização do
nosso corpo".
Drogas que podem causar: álcool
Doenças
psíquicas comumente associadas ao abuso de drogas
Além do corpo, a mente também pode sofrer
duras consequências decorrentes do uso desenfreado de substâncias. Veja algumas
delas.
"A esquizofrenia é uma alteração cerebral
para o que chamamos de saliência aberrante", explica a doutora Haidê
Trida. "O esquizofrênico interpreta as coisas à sua volta de forma
alterada. Ele pode ter, por exemplo, a impressão de que pessoas do seu entorno
o estão perseguindo. Sua interpretação de mundo é errada, tudo que é do âmbito
da imaginação, para ele é real", elabora.
Quais drogas podem potencializar: substâncias
com o potencial psicoativante.
"Essas drogas, podem causar alteração
cerebral provocando o aparecimento dos sintomas da esquizofrenia. É como se
toda hora você ficasse apertando o botão da esquizofrenia, uma hora ele trava e
não volta mais", conta a Dra. Haidê Trida.
São uma alteração do caráter
da pessoa. Existem diversos tipos, e são caracterizados por padrões de
interação interpessoal desviantes da norma. "Nos borderlines, por exemplo,
os relacionamentos podem ser muito intempestivos", explica a médica do Hospital
Santa Mônica.
Quais drogas podem
potencializar: "como a droga altera questões cognitivas, o abuso pode
potencializar sintomas característicos do transtorno de personalidade. O
álcool, por exemplo: depois de um momento de euforia ele pode causar uma
depressão e um mal estar muito grande, aumentando o risco de recaídas ou tomada
decisões impulsivas, como o suicídio".
Transtorno mental que afeta quase 6% da
população brasileira, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a
depressão também pode estar intimamente ligada ao abuso de drogas. Em alguns
casos, o consumo dessas substâncias pode chegar a prejudicar o diagnóstico da
doença. "Quando você usa drogas, você estimula muito seu cérebro. No dia
seguinte essa euforia causa sintomas de depressão", explica a Dra. Haidê
Trida. "Não é como a doença em si, nestes casos as vezes apenas manter-se
abstinente é o suficiente para controlar os sintomas", afirma.
Por esse motivo, é importante que pacientes
com quadro suspeito de depressão sejam desintoxicados de qualquer substância
psicoativa, para que um diagnóstico preciso seja alcançado. "Qualquer
pessoa que faça o uso de drogas, mesmo que de forma "recreativa", ao
se internar no hospital com sintomas depressivos, fazemos a suspensão de todas
as substâncias psicoativas. Já nos casos do abuso, a chance dos sintomas
depressivos serem causados pela droga é ainda maior", diz a médica do
Hospital Santa Mônica.
Depressão e abuso de drogas
- um ciclo vicioso
A doutora Haidê Trida alerta ainda para o
risco de que quadros depressivos potencializem o consumo abusivo de
substâncias, que por sua vez podem agravar o transtorno no indivíduo. "A
pessoa que é depressiva, quando ela bebe, fuma maconha ou cheira cocaína ela
tem uma sensação de prazer imediato, muitas vezes essa sensação que dá início a
um ciclo vicioso. Então fica cada vez mais frequente a procura de substância
para alívio de sintomas, porém a própria substância causa um mal-estar no dia
seguinte, fazendo com que aconteça novamente o uso para diminuir os sintomas o
que caracteriza dependência química e a perda de autodeterminação (perda de
controle) em relação a substância, necessidade de uso cada vez mais frequente e
em maior quantidade, restrição do repertório de prazer, entre outras características?
explica.
Qual é o melhor
caminho no tratamento de dependências químicas?
Segundo os médicos do Hospital Santa Mônica, a
busca por ajuda profissional é essencial no caso de abusos de substâncias.
Procure profissionais qualificados, que sejam capazes de realizar uma avaliação
que caracterize a dependência.
A partir daí, a melhor abordagem é a
multidisciplinar, trabalhando com diversos profissionais da área de saúde no
tratamento dessa dependência.
Para evitar recaídas, a dica é buscar formas alternativas de prazer,
como hobbies e atividades físicas. Evitar locais e pessoas que possam levar a
um comportamento recidivo da droga também é de extrema importância.
Fontes:
Dr. Claudio Duarte (CRM 90215-SP) - psiquiatra do Hospital Santa Mônica e
Diretor Clínico da Unidade Integrativa Santa Mônica
Dra. Haidê Trida (CRM 139637-SP) - psiquiatra do Hospital Santa Mônica