Quanto mais cedo o
câncer for diagnosticado, maior é a taxa de sucesso do tratamento
Receber o diagnóstico de que o pet está com câncer
é bastante doloroso. Afinal, eles são membros da família e ainda existe muito
estigma em relação à doença e ao tratamento. Nesta hora, é preciso manter a
calma e confiar no seu médico-veterinário. “A oncologia veterinária evoluiu
muito nos últimos 20 anos, tanto em termos de diagnóstico como de tratamento,
impactando diretamente na sobrevida e qualidade de vida dos animais. É possível,
sim, conseguir um bom controle da doença e, porque não a cura, em muitos
pacientes”, atesta Juliana Vieira Cirillo, médica-veterinária com
especialização em oncologia do Veros Hospital
Veterinário.
Neoplasia
Quando uma célula normal do nosso corpo sofre
mutações e perde o controle do processo de divisão celular, temos uma
proliferação rápida e desordenada, caracterizando uma neoplasia. Quando esta
neoplasia adquire a capacidade de invasão e disseminação para outros órgãos e
tecidos, temos uma neoplasia maligna, ou seja, o câncer.
A droga quimioterápica é um agente citotóxico: ela
é capaz de danificar o DNA da célula tumoral, impedindo que esta se
multiplique. Mas agentes quimioterápicos não diferenciam células neoplásicas
das saudáveis, e afetam qualquer célula que apresente alta taxa de
proliferação, como por exemplo as células da medula-óssea, do trato
gastrointestinal e do folículo piloso, resultando nos principais efeitos
adversos da quimioterapia.
Essas drogas apresentam o mesmo mecanismo de ação
tanto em pacientes veterinários como nos humanos. Mas a grande diferença está
na dose utilizada, que é bem inferior nos pets, e por isso os tão temidos
efeitos colaterais do tratamento acabam sendo muito mais brandos se comparados
àqueles descritos em humanos.
Primeiros sinais
A manifestação mais visível da neoplasia são os
tumores, ou seja, um aumento de volume formado por células que cresceram de
forma desordenada. Ao primeiro sinal da presença de nódulos ou massas no corpo
do pet, o tutor deve levá-lo imediatamente ao médico-veterinário. Porém, há
casos em que o tumor ocorre em áreas mais difíceis de detectar, como a cavidade
abdominal, torácica ou mesmo nos linfonodos (gânglios), e o tutor só vai
perceber quando o animal manifestar algum sintoma específico, mudanças no
comportamento ou então quadro de apatia, perda de apetite e de peso, a depender
da localização da neoplasia.
“Quando isso acontece, a doença pode estar em um
estágio mais avançado. Por isso, é altamente recomendado manter check-ups
periódicos”. De acordo com a médica-veterinária, recomenda-se começar uma
rotina de consultas a cada seis meses a partir dos 7 ou 8 anos de idade do
animal. Em algumas raças, como o Golden Retriever, a recomendação é começar mais
cedo, entre 3 ou 4 anos, já que estão sujeitas a apresentar neoplasia em uma
fase mais precoce da vida.
No caso das neoplasias cutâneas, como, por exemplo,
o carcinoma espinocelular, as manifestações clínicas são mais visíveis e
normalmente aparecem em partes do corpo desprovidas de pelos, como abdômen,
têmporas e plano nasal. Esta neoplasia está relacionada à exposição crônica ao
sol, e inicialmente a pele pode ficar mais avermelhada e inflamada. A lesão
pode evoluir para descamação cutânea e posteriormente para o carcinoma caso a
região permaneça exposta à radiação ultravioleta.
Tratamento
“A radiografia torácica, por exemplo, pode revelar
a presença de metástase pulmonar desde que a lesão tenha pelo menos 0,5 cm.
Nódulos menores normalmente não são visualizados por meio deste exame, sendo
necessários exames mais específicos, como uma tomografia torácica”, explica
Juliana.
O ideal é que as sessões de quimioterapia sejam
feitas em uma clínica ou hospital com infraestrutura adequada para a
manipulação da droga pelo médico-veterinário. Embora existam drogas
administradas por via oral, a maioria das quimioterapias são administradas por
via intravenosa.
A sessão de quimioterapia em animais leva cerca de
30 a 60 minutos, dependendo da droga utilizada - bem diferente da aplicação em
pacientes humanos, que às vezes pode levar de 4 a 6 horas. O pet não precisa
ser sedado nem ficar internado, e salvo se o protocolo da clínica ou hospital
veterinário não permitir, o tutor pode acompanhá-lo durante todo o processo.
A duração do tratamento vai depender do tipo de
câncer e da agressividade do tumor. Para o linfoma multicêntrico de grandes
células em cães, por exemplo, o protocolo de quimioterapia pode durar seis
meses, com aplicações inicialmente semanais e posteriormente quinzenais. Já no
caso da quimioterapia adjuvante (aquela realizada após o tratamento cirúrgico)
para neoplasias sólidas, como uma neoplasia mamária, o intervalo entre as
aplicações é de 21 dias, num total de quatro a seis sessões.
Efeitos colaterais
A boa notícia é que justamente por trabalhar com
dosagem menor, os efeitos colaterais nos pets são menos frequentes e mais
brandos. “Nos humanos, a incidência desses efeitos chega a quase 80%, enquanto
nos pacientes veterinários varia de 10% a 40%”, esclarece Juliana. Ainda assim,
o médico-veterinário pode adotar tratamentos preventivos, como a prescrição de
medicação antiemética para evitar ou diminuir a incidência de náusea e vômitos,
que estão entre os efeitos mais comuns.
Uma vez terminado o tratamento quimioterápico,
inicia-se a fase dos acompanhamentos periódicos, pois pacientes oncológicos
podem eventualmente apresentar quadro de metástase tardia ou recidiva (retorno)
do próprio tumor. Juliana recomenda que no primeiro ano, dependendo do tipo de
tumor, os check-ups sejam realizados a cada dois ou três meses, passando para
cada quatro a seis meses no ano seguinte. “Após o término do tratamento devemos
monitorar o paciente por meio de exames por um período mínimo de dois anos. Mas
mesmo não havendo sinais de progressão da doença, eu prefiro continuar
acompanhando pacientes oncológicos após este período, pelo menos a cada seis
meses”.
Dá para evitar?
A neoplasia maligna é causada por múltiplos
fatores, muitos deles ainda desconhecidos. O mais importante é que quanto mais
cedo for diagnosticada e tratada, maior será a taxa de sucesso no controle da
doença. Daí a importância de manter os exames periódicos em dia.
Mas isso não quer dizer que o tutor não possa tomar
alguns cuidados para minimizar fatores de risco. Um muito relevante – e,
segundo Juliana, pouco comentado – é a obesidade, um importante fator de risco
no desenvolvimento do câncer tanto em pessoas como em animais, e que pode ser
combatido com uma dieta balanceada, passeios, exercícios e brincadeiras para evitar
o sedentarismo. No caso das neoplasias mamárias, a castração precoce de cadelas
e gatas pode prevenir o desenvolvimento deste tumor, mas cada caso deve ser
avaliado junto com o médico-veterinário a fim de definir a melhor conduta.
Curiosamente, para os machos a castração não exerce efeito preventivo contra o
desenvolvimento do câncer de próstata.
Qualquer que seja o caso, não hesite em procurar o
médico-veterinário ao primeiro sinal de que seu pet possa estar sofrendo desse
mal. Ele é o profissional mais indicado para fazer uma investigação criteriosa,
chegar a um diagnóstico e indicar o tratamento adequado.
Fonte: Juliana Vieira Cirillo - médica-veterinária com especialização em
oncologia do Veros Hospital Veterinário.
Graduada pela Universidade Paulista em 2005, realizou aprimoramento em
Oncologia Clínica e Cirúrgica pela École Nationale Vétérinaire d'Alfort, na
França, em 2007. Tornou-se Mestre pelo Laboratório de Oncologia Experimental e
Comparada do setor de Patologia da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia da USP em 2014, é coordenadora da supraespecialidade de Nutrição
Oncológica pela Associação Brasileira de Oncologia Veterinária, consultora de
produtos nutracêuticos para multinacionais e diplomada em Oncologia pelo
Conselho Federal de Medicina Veterinária (2017). Tem grande experiência em
Oncologia Clínica e Cirúrgica de pequenos animais.
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