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quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Maconha x Canabidiol no tratamento de epilepsias


Sou neurocirurgião, com foco de atuação em procedimentos operatórios em casos de epilepsia refratária, ou seja, aquelas resistentes aos medicamentos. Embora não prescreva rotineiramente medicações para os pacientes (prefiro deixar para neurologistas, que têm base de conhecimentos mais profundos para fazer esse controle), sou frequentemente questionado por pacientes para que dê a minha opinião sobre o uso da maconha no tratamento da epilepsia.

Numa abordagem bem direta com base na droga ativa, minha resposta costuma frustrar quem anseia por uma liberação médica, pois não sou a favor.

Em primeiro lugar, nunca é demais salientar que a maconha é uma droga ilícita no Brasil e na maior parte dos países do mundo, responsável por muitos efeitos deletérios nas pessoas, ainda que apresentem substâncias ativas dentro que parecem ajudar em algumas crises de epilepsia. Assim, é importante pontuar que não se usa maconha para tratar epilepsia e sim uma substância que pode ser isolada da planta para isso e ainda assim para casos bem específicos.

Ainda que seja compreensível a ânsia por soluções de quem sofre ou tem parentes com crises seguidas de epilepsia, é necessário contextualizar que na composição da maconha existem mais de 85 substâncias ativas, onde o tetrahidrocanabidiol (THC) e o canabidiol (CBD) são as mais estudadas atualmente, especialmente o CBD no caso da epilepsia.

O que chamamos de canabinóides são substâncias que associam ambos em diferentes proporções. Outra coisa importante a observar é que medicações derivadas de canabis são muito diferentes dos óleos de CBD. Enquanto os primeiros passam por processos industrializados capazes de garantir as concentrações de THC e CBD, os segundos são frutos de métodos mais artesanais, sem uniformidade na concentração das substâncias ativas, o que muitas vezes levam a subdoses.

Desta forma, por não haver controle, trabalhos mostram que em óleos de CBD produzidos pela própria “comunidade” as doses administradas por pais/cuidadores podem variar de 0,5 a 28,6 mg/Kg/dia.

Embora atualmente pareça existir um grande interesse no assunto, julgo importante a avaliação criteriosa de tudo o que o se tem propagado nas mídias, que ao público leigo mais tem confundido do que esclarecido. 

Em um levantamento que realizei sobre o assunto, com base em cruzamento nos termos “Mesh” (um tipo de ferramenta) no site do “PubMed” - provavelmente a maior fonte de pesquisa mundial de assuntos na área da saúde-, com aspectos de terapia, dosagem, metabolismo, efeitos adversos dos tratamentos, com as mesmas bases em epilepsia, pude captar 66 trabalhos científicos.

Deste montante, pondero sobre uma revisão bem interessante sobre o assunto, apresentando um bom resumo da situação atual no tratamento da epilepsia, intitulada: “Cannabis and Epilepsy”, de R. H. Thomas e M. O. Cunninghan, publicada em dezembro de 2018 na revista “Practical Neurology” na edição de número 18.

Nele temos a informação de que até agora, apenas uma droga, chamada Epidolex (99% CBD e 0,1% THC), foi liberada em junho de 2018 pelo FDA (agência americana de controle de medicações e alimentos) para uso em pacientes com Lennox-Gastaut e Síndrome de Dravet, a partir de 2 anos de idade. Aqui no Brasil a ANVISA autoriza que algumas pessoas possam usar óleos de CDB, com dosagem prescrita por um médico.

Alguns achados em uma revisão sistemática mostraram que o CBD tem efeito melhor que placebo, com redução de cerca de 50% das crises quando comparados os dois grupos (importante ressaltar que não é uma comparação com os medicamentos habitualmente utilizados). E alguns trabalhos mostram uma taxa de mortalidade em torno de 1,5% em pacientes com uso de CDB. Mostram ainda um risco de pneumonia 9,1 vezes maior para pacientes que recebem o CBD.

Ainda é possível observar em agrupamento 12 estudos observacionais, um aumento de 56% na qualidade de vida dos pacientes que usaram CBD, porém com 51% de efeitos adversos e 2,2% de efeitos adversos graves. Ainda temos o fato de em cerca de 1/3 dos casos haver a necessidade de aumento da dose com o tempo para a tentativa de manutenção dos efeitos obtidos anteriormente.
Desta maneira, parece que o CBD realmente tem o seu efeito benéfico em alguns tipos de epilepsia. Porém, é muito importante notar que assim como qualquer remédio, tem efeitos adversos, sendo que na epilepsia não é a medicação de uso inicial para tratamento.

Por último, e não menos importante, ainda não se sabe exatamente como o CBD age no cérebro dos pacientes para auxiliar no controle das crises. Possivelmente com mais estudos chegaremos a mais conclusões, favoráveis ou não ao uso dessa e de outras substâncias para o tratamento da epilepsia. Até lá, é preciso cautela.





Dr. Luiz Daniel Cetl - referência no tratamento das epilepsias e tumores cerebrais. Especialista pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), membro do grupo de tumores do Departamento de Neurocirurgia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e integrante da Associação dos Neurocirurgiões do Estado de São Paulo (SONESP). Atua ainda como preceptor de cirurgia de tumores cerebrais no Departamento de Neurocirurgia da Unifesp.


Doses exageradas de remédios podem causar graves problemas a saúde


Médicos alertam para os riscos que a automedicação traz


Na era da informação, não há mais espaço para desconhecer a importância de ingerir a dose recomendada dos remédios. O tema é motivo de preocupação por parte da Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), que realiza de forma permanente a campanha “Saúde Preventiva: Pratique essa ideia”. Entre os cuidados mais importantes com os medicamentos estão mantê-los distante do alcance de crianças e observar na bula as formas corretas de armazená-lo.

- A automedicação é um risco, pois o paciente não sabe quais interações medicamentosas que podem ocorrer entre algum medicamento que ele tome de uso continuo ou algum alimento da sua dieta, se é o ideal para sua condição de saúde já que deles podem gerar eventos adversos graves ou comprometer a função de algum órgão – alerta a gerente científica da Roche Brasil, Aline Machado, que já realizou palestra na AMRIGS sobre o tema.

Para que o conhecimento a respeito do cuidado chegue a um maior número de pessoas, campanhas informativas auxiliam no propósito. Segundo a profissional, muitas vezes se acredita na benfeitoria que ocorreu com um familiar ou alguém próximo, e imagina-se que isso irá ocorrer com outro indivíduo também. No entanto, é necessário lembrar que não é certo que tal medicamento irá gerar resposta efetiva para seu sintoma, em função das diferenças genéticas e fisiológicas entre as pessoas.



Vítor Figueiró

Vitamina D: Um nutriente essencial para o bom funcionamento do organismo


A exposição solar ainda é motivo de impasse entre algumas especialidades médicas, mas é consenso que se expor moderadamente ao sol é benéfico para a saúde e pode ajudar na prevenção de algumas doenças. Um desses benefícios é que essa exposição proporciona a vitamina D, cuja a deficiência é muito comum no Brasil e afeta ambos os sexos, inclusive muitos adolescentes.

A vitamina D contribui para o bom funcionamento do organismo e pode ajudar na prevenção de doenças autoimunes, neurológicas, cardiovasculares, metabólicas e alguns tipos de câncer. Também ajuda na absorção do cálcio e do fósforo no intestino, fortalece ossos e dentes, aumenta a produção de músculos, melhora o equilíbrio, fortalece o sistema imunológico; previne alguns tipos de câncer, como os de cólon, de reto e da mama e o envelhecimento precoce. Obesidade, diabetes, depressão, Alzheimer, doença cardiovascular, câncer de mama, câncer colorretal, câncer de próstata e artrite reumatoide.

De acordo com a Dra. Simone Neri, dermatologista da Clínica Medcin, a Vitamina D é um pró-hormônio produzido a partir da ação do raio ultravioleta B na pele. As duas principais formas são a vitamina D2 (ergo calciferol) e a vitamina D3 (cole calciferol). No fígado, a vitamina D3 é transformada em 25 hidroxi-vitamina D e é esta a vitamina D medida pelos médicos nos exames de sangue. Porém, a forma ativa da vitamina D é o calcitriol, obtido a partir da transformação da 25 hidroxi nos rins. O calcitriol é um hormônio que facilita a absorção de cálcio pelo organismo.

Muitos estudos mostram que grande parte da população tem deficiência de vitamina D, o que aumenta a chance de desenvolver doenças. A população de maior risco são mulheres acima de 55 anos, na pós–menopausa. Mas, homens e mulheres de diferentes idades também apresentam com frequência níveis baixos da vitamina D. Os valores considerados adequados em adultos são acima de 30 ng/ml, conforme recomendação do Consenso da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, divulgado em agosto de 2018. Para o bom funcionamento do corpo, são necessárias, no mínimo, 200 UI (unidade internacional usada para a vitamina D) para os adultos, por dia. Já entre as crianças, as doses variam de acordo com a idade.

“É importante que a exposição solar seja cuidadosa. Deve ocorrer no início da manhã, antes das 10h ou no final da tarde, após as 16h, para evitar os efeitos nocivos dos raios ultravioletas, de preferência em áreas não expostas cronicamente a luz solar, como palmas e plantas dos pés, costas e pernas”, explica a Dra. Simone Neri.

Quanto ao uso de filtros solares é importante salientar, que não há impacto sobre a produção da vitamina D, como demonstra estudo recente conduzido pela Sociedade Brasileira de Dermatologia onde dois grupos de pessoas foi exposta ao sol, sendo que uma delas com filtro solar e outra sem filtro. Foi realizada a dosagem da Vitamina D antes e depois da exposição e o que se observou é que não houve diferença de produção de vitamina D no grupo de pessoas expostas ao sol com filtro solar quando comparado ao grupo controle sem filtro solar. Portanto, ao contrário do que muitos pensam, é fundamental o uso dos protetores solares, principalmente em áreas do corpo cronicamente expostas a radiação ultravioleta, na prevenção ao câncer de pele.

Além da exposição controlada ao sol, a alimentação também contribui para a produção da vitamina D. Alimentos como óleos de salmão, atum e sardinha, gema de ovo, fígado, leite, iogurte e queijos ajudam na produção do hormônio. Mas somente a alimentação não é suficiente para manter um nível adequado de vitamina D no sangue. O banho de sol, portanto, é a principal forma de conseguir a quantidade indicada. Em alguns casos, a suplementação também se faz necessária.

“A suplementação normaliza os níveis de vitamina D em torno de 3 meses após o uso diário ou semanal de forma contínua. A dose correta de suplementação depende de idade, nível de deficiência e fatores de risco que cada paciente apresenta. A deficiência da vitamina D pode ser silenciosa, ou seja, não produzir sintomas. Mas, pessoas com níveis muito baixos podem apresentar sintomas de fadiga, fraqueza muscular e até dor crônica”, conta a Dra. Simone Neri.

Antes de tomar qualquer suplemento é importante checar a dosagem do nível de vitamina D no sangue já que as consequências do excesso do pró-hormônio no organismo também geram problemas sérios à saúde. Entre eles, o enfraquecimento dos ossos, elevação dos níveis de cálcio que pode gerar pedras nos rins, arritmia cardíaca, falta de apetite, náuseas, vômitos, aumento da frequência urinária, fraqueza, hipertensão arterial, sede, coceira na pele e nervosismo. Portanto, é fundamental procurar um médico e fazer um check-up anual para verificar a dosagem de vitamina D no sangue.

“Sabemos que a radiação solar é essencial à vida no planeta, e seres humanos privados do sol desenvolvem uma série de doenças físicas e psiquiátricas. Entretanto, é possível expor-se ao sol com cuidado, de forma leve e gradual, evitando queimaduras, câncer da pele e minimizando o envelhecimento, a fim de se beneficiar do bem-estar que ele nos proporciona”, finaliza a Dra. Simone Neri.







Dra. Simone Neri - DERMATOLOGISTA - Possui 25 anos de formação em Clínica Médica e em Dermatologia. É graduada em Medicina pela Universidade de Santo Amaro UNISA, possui residência em Clínica Médica pela Universidade de Santo Amaro UNISA, residência em Dermatologia pela Universidade de Santo Amaro UNISA, é ex-preceptora do Ambulatório de Dermatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro UNISA, médica plantonista do Pronto Socorro do Hospital São Luiz, ex-coordenadora médica do Pronto Socorro do Hospital São Luiz Anália Franco.  Participa ativamente de Congressos, tanto como ouvinte quanto como palestrante e destaca-se na área de Cosmiatria e Estética com expertise no manejo de Preenchedores, Toxinas e Lasers, sendo uma das poucas profissionais da área a dominar a técnica consagrada de MD Codes de harmonização facial. Na área de inovações em técnicas cirúrgicas, participou de um grupo de estudos no Instituto Butantã no tema Toxina Botulínica em Processos Inflamatórios do Couro Cabeludo, com apresentações em Congressos Nacionais e Internacionais. Já na área da Dermatologia Clínica investe exaustivamente em atualizações científicas, com tratamentos inovadores como os chamados Medicamentos Imunobiológicos em doenças crônicas como Psoríase e Hidrosadenite. Atualmente é dermatologista na Clínica Medcin. CRM 80.919.


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