Nota oficial da Associação Médica do Rio Grande do Sul e da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul
A série Adolescência, lançada recentemente pela
Netflix, retrata de forma contundente a realidade de adolescentes
radicalizados, afastados dos vínculos sociais que deveriam acolhê-los e
guiá-los. A trama aborda questões como a influência da chamada “machosfera” e o
colapso das conexões humanas em um mundo cada vez mais digital. Enquanto a
produção ganhava notoriedade, no dia 1º de abril de 2025, a cidade de Caxias do
Sul, na Serra Gaúcha, foi palco de um episódio alarmante: dois adolescentes
atacaram uma professora dentro da sala de aula, desferindo golpes de faca de
maneira fria e sem arrependimento, diante dos colegas.
O caso reforça a urgência de uma resposta integrada
e vigilante por parte de famílias, instituições de ensino e autoridades
públicas, diante da crescente incidência de comportamentos violentos entre
jovens. A Associação Médica do Rio Grande do Sul (AMRIGS), em nota conjunta com
a Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul (APRS), enfatiza a necessidade
de mobilização social para identificar e prevenir atitudes agressivas,
promovendo suporte psicológico, orientação educacional e o fortalecimento dos
vínculos de respeito e convivência entre adolescentes.
A violência juvenil é um fenômeno de alta
complexidade, com múltiplas causas. Um dos fatores que mais se evidenciam nesse
momento sensível da vida — a adolescência — é a exposição constante a conteúdos
agressivos, tanto no ambiente familiar quanto por meio das mídias digitais. A
última, em particular, contribui significativamente pela ausência de supervisão
e pelo anonimato propiciado pelas redes sociais, facilitando o contato com
episódios de violência, seja como espectador, vítima ou autor.
Família e escola representam os principais pilares
de proteção. O núcleo familiar exerce um papel insubstituível na formação moral
e no amadurecimento emocional. A escuta ativa, o diálogo contínuo e a presença
de adultos responsáveis são elementos essenciais. Já o ambiente escolar, além
de seu papel pedagógico, deve oferecer segurança emocional e inclusão,
combatendo qualquer forma de bullying, discriminação ou violência. A atuação de
profissionais habilitados, como psicólogos escolares, é crucial para a detecção
precoce de transtornos emocionais e para ações preventivas eficazes.
Saúde mental e prevenção de
comportamentos violentos
Os sinais de alerta em adolescentes geralmente se manifestam por mudanças no comportamento habitual. Nem sempre há expressões explícitas de violência — muitas vezes, o jovem pode apresentar retraimento afetivo, isolamento social, irritabilidade ou, em contraponto, uma atitude excessivamente expansiva, com comportamentos inusitados e fora do seu padrão. Mais importante do que a natureza do comportamento é a alteração significativa em relação ao seu estado habitual.
Diversas abordagens terapêuticas estão disponíveis,
como a psicoterapia individual, atendimentos familiares, grupos de apoio e, em
alguns casos, o uso de medicação. O tratamento deve ser individualizado,
respeitando a trajetória de cada adolescente, por meio de uma estratégia
multidisciplinar que envolva saúde mental, educação e, quando necessário,
segurança pública.
Campanhas educativas nas escolas, capacitação de professores
e treinamentos voltados à identificação de sinais de sofrimento psíquico são
medidas fundamentais. A segurança pública, por sua vez, precisa estar preparada
para agir de forma preventiva e pedagógica, evitando respostas meramente
punitivas.
A Associação Médica do Rio Grande do Sul e a
Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul reiteram o papel essencial da
prevenção no enfrentamento da violência entre adolescentes. É imperativo
investir em saúde mental, implementar políticas de apoio nas escolas e
fortalecer a rede familiar. Uma sociedade articulada e consciente é a chave
para assegurar um futuro mais seguro e saudável para nossas crianças e jovens.
A prevenção é, sem dúvida, o caminho mais eficaz.
Dr. Gerson Junqueira Jr. - Presidente da AMRIGS
Dr. Pedro Víctor Santos - Psiquiatra da Infância e Adolescência pelo HCPA/UFRGS, membro aspirante da Sociedade Psicanalítica De Porto Alegre (SPPA) e diretor adjunto de Divulgação da APRS.


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