A música é uma grande aliada no domínio linguístico na educação bilíngue
Falar
outro idioma tornou-se um aspecto essencial na atualidade. Com isso, a educação
bilíngue vem crescendo e se consolidando como uma tendência educacional no
Brasil nos últimos anos. De acordo com dados do Ministério da Educação (MEC),
somente em 2023 houve um aumento de 64% na procura por modelos de aprendizagem
com um segundo idioma. Isso se deve ao fato de que essa metodologia vai muito
além do domínio de uma nova língua: ela é benéfica em diversos aspectos
essenciais para a formação do estudante.
Dentro
desse contexto, a música emerge como um recurso pedagógico poderoso no processo de aprendizagem de um outro
idioma, capaz de conectar domínios linguísticos, culturais e cognitivos. Além
disso, as canções alinham-se efetivamente com a metodologia CLIL (Aprendizagem
Integrada de Conteúdo e Língua), promovendo o aprendizado por meio de contextos
reais e ricos em conteúdo — tudo isso utilizando o idioma-alvo.
Os benefícios cognitivos da música
A
música desempenha um papel significativo no desenvolvimento linguístico, pois
ativa diversas áreas do cérebro relacionadas à memória, ao processamento
auditivo e às respostas emocionais, aspectos fundamentais durante a
aprendizagem de um segundo idioma.
Com
o uso de canções, especialmente os estudantes mais jovens, conseguem criar uma
ponte entre os idiomas. Essa prática facilita a alternância de código (code-switching)
e o translanguaging, ou seja, o uso combinado de diferentes línguas para
se comunicar e aprender, promovendo conexões significativas.
A
natureza melódica e rítmica das músicas também favorece a internalização de
estruturas linguísticas sem a necessidade de instrução gramatical explícita.
Além disso, a música contribui para o desenvolvimento da pronúncia, da
entonação e da compreensão auditiva dos estudantes.
A música como complemento da CLIL
Dado
que a CLIL é uma abordagem pedagógica que visa estimular o desenvolvimento
simultâneo do conhecimento de conteúdos curriculares e de habilidades linguísticas, a música se encaixa naturalmente nesse modelo ao
oferecer conteúdos autênticos, ricos em insumos linguísticos e culturalmente
contextualizados.
Durante
uma prática pedagógica sobre ciências ambientais, por exemplo, professores
podem incorporar canções sobre a natureza ou mudanças climáticas, oferecendo
aos estudantes não apenas conteúdo acadêmico, mas também vocabulário relevante.
Dessa forma, a música apoia os quatro Cs da CLIL: Conteúdo, Comunicação,
Cognição e Cultura.
Desafios pedagógicos
Embora
a música traga inúmeros benefícios nessa jornada, seu uso eficaz na educação
bilíngue exige um planejamento eficiente. Os professores devem considerar os
níveis de proficiência dos alunos, a sensibilidade cultural e a adequação do
conteúdo das canções aos objetivos curriculares.
Para
tanto, a contextualização das músicas é fundamental para assegurar que o input
linguístico, ou seja, toda a exposição que uma pessoa tem à linguagem, tenha
significado e esteja conectado ao aprendizado acadêmico. Em complemento, os
materiais de apoio, como fichas de atividades e recursos visuais, podem
aprimorar a compreensão e os resultados do aprendizado, bem como o suporte das famílias,
por meio do incentivo do uso da língua estrangeira dentro de casa.
Em suma, a música se destaca como uma ferramenta dinâmica e flexível na educação bilíngue. Integrada a outras abordagens pedagógicas, ela pode potencializar a aquisição de línguas e apoiar a aprendizagem de conteúdos acadêmicos, tornando-se um recurso valioso à medida que o bilinguismo ganha cada vez mais espaço no cenário educacional global.
Janaína Alves - Coordenadora Pedagógica bilíngue da unidade de Botucatu da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta educacional sociointeracionista e alinhada às principais tendências do mercado de educação.

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