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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Arboviroses e viroses em alta: o desafio invisível que lota hospitais no Brasil

Infectologista explica aumento dos casos e importância do diagnóstico correto 

 

Casos de arboviroses e viroses no Brasil aumentam a cada ano e representam um desafio crescente nos atendimentos hospitalares. De acordo com o Ministério da Saúde, só em 2025, mais de 1 milhão de casos prováveis de dengue, a arbovirose mais comum no país, foram notificados, e mais de 680 mortes pela doença já foram confirmadas. 

No campo das viroses respiratórias, doenças como COVID-19 e Influenza A continuam com forte presença. Segundo o boletim  Infogripe mais recente da Fiocruz, nas últimas quatro semanas epidemiológicas, 30,1% dos casos positivos foram de Influenza A. A doença, inclusive, superou a COVID como a principal causa de morte por síndrome respiratória aguda grave entre os idosos.

 Apesar da incidência em larga escala, arboviroses e viroses se espalham de formas distintas, o que reforça a importância da atenção aos detalhes durante as rotinas no dia a dia. “As arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos por vetores, principalmente mosquitos, como o Aedes aegypti. Já as viroses respiratórias são transmitidas diretamente entre pessoas ou por contato com superfícies contaminadas”, explica a infectologista Dra. Jéssica Ramos, que integra o Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês. 

A semelhança dos sintomas é um dos principais obstáculos para o diagnóstico correto. Por isso, alguns dos desafios do sistema de saúde pública no Brasil tem sido investir em pesquisas para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos, além de ampliar os insumos disponíveis para testes e análises laboratoriais.

 “O maior dilema das arboviroses e viroses é o diagnóstico clínico. Ambas podem se manifestar com febre, dor no corpo, mal-estar, náuseas e cefaleia. Por isso, é essencial que a avaliação médica considere o histórico epidemiológico e, sempre que possível, utilize testes laboratoriais para confirmação”, destaca a Dra.Jéssica.  

A especialista reforça que a circulação simultânea de vírus distintos, como dengue, zika e chikungunya, ou Influenza e COVID-19, agrava o cenário. “Quando o paciente apresenta sintomas genéricos, a presença simultânea de mais de um vírus circulando na comunidade dificulta o diagnóstico e pode atrasar o início do tratamento adequado. Isso tem impacto direto na recuperação do paciente e no controle da transmissão”, afirma. 

Outro ponto de atenção é a automedicação.“Antitérmicos e anti-inflamatórios são muito utilizados sem prescrição médica, o que pode mascarar sintomas importantes ou agravar quadros como o da dengue hemorrágica, por exemplo”, alerta a infectologista. 

Ao menor sinal de febre alta, dor muscular intensa, ou dificuldade respiratória, a recomendação é procurar atendimento médico, especialmente em grupos de risco como crianças, idosos e gestantes. 

Segundo a infectologista, o diagnóstico é feito com base em dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. “Testes sorológicos e de biologia molecular, são recursos importantes para a identificação do agente viral. No caso da dengue, por exemplo, o teste NS1 deve ser solicitado entre o 3o e o 5o dia. Já para Influenza ou COVID-19, exames de antígeno ou RT-PCR são indicados, deve ser feito a partir da manifestação dos primeiros sinais de infecção respiratória até o 8º dia de sintomas”, detalha. 

A médica também destaca que, quanto mais precoce for a investigação diagnóstica, maior a chance de evitar complicações e reduzir a transmissão comunitária. ““Além disso, o diagnóstico correto permite o tratamento especifico no caso da Influenza e da Covid, a condução de medidas de suporte adequadas, evita uso desnecessário de antibióticos e contribui com os sistemas de vigilância epidemiológica”, conclui. 

 

Dra. Jessica Fernandes Ramos - graduada em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com residência médica em Infectologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e doutorado em Ciências pela USP. Atualmente, a Dra. Jessica integra o Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês e é membro de importantes comitês de doenças infecciosas, como os da Sociedade Brasileira de Transplante de Medula Óssea (SBTMO), Associação Brasileira de Hematologia e Hemoterapia (ABHH) e da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Além disso, possui especializações em docência no ensino superior para Ciências da Saúde e diversos cursos de extensão, incluindo formações pela Harvard Medical School.

 

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