Estudo internacional com 105 patologistas mostra que ferramenta de IA pode reduzir erros de classificação e ampliar acesso a terapias-alvo para pacientes brasileiras
Um estudo internacional que será apresentado no
Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) 2025 revelou
que o uso de inteligência artificial pode melhorar significativamente a
precisão dos patologistas no diagnóstico de tumores de mama HER2-baixo e
HER2-ultrabaixo. A pesquisa, que envolveu 105 especialistas de 10 países da
Ásia e América do Sul, incluindo o Brasil, demonstrou que a assistência de IA
aumentou a precisão diagnóstica em quase 22%.
A
pesquisa focou em um grupo de pacientes que representa a maioria dos casos de
câncer de mama: cerca de 65% dos tumores anteriormente classificados como
HER2-negativos na verdade apresentam algum nível de expressão da proteína HER2
e pertencem aos subgrupos HER2-baixo ou HER2-ultrabaixo.
“Nosso
estudo fornece a primeira evidência multinacional de que a inteligência
artificial pode ajudar a fechar uma lacuna diagnóstica crítica e abrir portas
para novas terapias como conjugados anticorpo-droga para a maioria dos
pacientes que, até recentemente, não tinham tais alternativas", disse a
autora principal, Marina De Brot, médica patologista do A.C. Camargo Cancer
Center.
A
análise, que terá seus resultados detalhados apresentados em formato pôster
durante o Congresso Anual da ASCO 2025, entre 30 de maio e 3 de junho, em
Chicago (Eua), foi financiada pela farmacêutica AstraZeneca. Este é o
primeiro conjunto de evidências multinacionais de que a inteligência artificial
pode ajudar a fechar lacunas diagnósticas críticas e abrir portas para novas
terapias.
O
desafio da detecção microscópica
A
identificação precisa dos níveis baixos de HER2 representa um desafio técnico
significativo para os patologistas. Mesmo entre especialistas experientes, há
discordância em aproximadamente um terço dos casos. Essa dificuldade resulta em
muitos tumores HER2-baixo e HER2-ultrabaixo sendo erroneamente rotulados como
HER2-nulos, o que nega às pacientes o acesso a terapias que poderiam prolongar
sua sobrevida.
Na
visão de Daniel Gimenes, oncologista da Oncoclínicas, esse é um avanço relevante
para a medicina e pode trazer boas perspectivas para pacientes brasileiras.
“Estamos falando de pelo menos 55% dos casos de câncer de mama que são
HER2-baixo e outros 10% que são HER2-ultrabaixo. Muitas dessas mulheres vinham
sendo privadas de tratamentos direcionados porque seus tumores eram
incorretamente classificados como HER2-nulos”, explica o médico, que não
participou diretamente da pesquisa, mas acompanhou os resultados.
O
médico ressalta que a análise visual tradicional, baseada no olho humano, tem
suas limitações quando se trata de detectar níveis sutis de expressão do HER2.
"A introdução de conjugados anticorpo-droga (ADCs) nos últimos anos tornou
essa detecção ainda mais relevante, pois agora temos tratamentos eficazes para
esses casos anteriormente considerados inelegíveis para terapia-alvo”, comenta
o Dr. Gimenes.
Resultados
impressionantes com suporte de IA
No
estudo, os patologistas utilizaram uma plataforma digital de treinamento
assistida por IA chamada ComPath Academy para avaliar 20 casos digitais de
câncer de mama. Os resultados foram comparados com scores de referência
estabelecidos por um centro especializado.
Os
números revelaram melhorias substanciais:
- A sensibilidade do diagnóstico aumentou de aproximadamente
76% para 90%
- A concordância dos patologistas com os scores de referência
melhorou cerca de 13%, saltando de 76,3% para 89,6%
- A precisão geral na categorização dos casos aumentou de 66,7%
para 88,5%
- Mais impressionante ainda: a IA reduziu em mais de 25% os
casos de HER2-ultrabaixo incorretamente classificados como HER2-nulos
"Esses
resultados são extraordinários", avalia o Dr. Gimenes. "Reduzir de
29,5% para apenas 4% os casos mal classificados significa que muito mais
pacientes poderão ter acesso aos tratamentos adequados. No contexto brasileiro,
onde buscamos constantemente melhorar o acesso e a qualidade do diagnóstico
oncológico, essa tecnologia representa uma oportunidade importante".
Impacto
na prática clínica brasileira
O
oncologista da Oncoclínicas destaca que a implementação dessa tecnologia no
Brasil poderia ter impacto significativo no tratamento do câncer de mama.
"Estamos entrando na era da medicina de precisão, onde cada detalhe
molecular do tumor importa para a escolha terapêutica. Essa ferramenta de IA
não substitui o patologista, mas potencializa sua capacidade diagnóstica."
A
relevância é ainda maior considerando que o câncer de mama é o tipo de câncer
que mais acomete mulheres no Brasil, com estimativa de mais de 73 mil novos
casos anuais, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA).
Próximos
passos e perspectivas
Os
pesquisadores já planejam estudos de implementação multicêntrica para
incorporar a ferramenta de IA na rotina diagnóstica e medir os efeitos clínicos
downstream, incluindo mudanças nas opções de tratamento e tempo até o início da
terapia para pacientes com câncer de mama HER2-baixo e HER2-ultrabaixo.
"Esse
é apenas o começo. A IA em oncologia não veio para substituir médicos, mas para
nos tornar mais precisos e eficientes. Para nossas pacientes brasileiras, isso
significa diagnósticos mais acurados e acesso a tratamentos mais
personalizados", finaliza Daniel Gimenes.
www.oncoclinicas.com
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