
Crédito: Juan Pablo Serrano
Nova lei garante apoio psicológico
e registro com nome escolhido pelos pais. Psicóloga perinatal explica como
enfrentar esse tipo de perda e por que o acolhimento é essencial
A dor
de perder um bebê durante a gestação, no parto ou nos primeiros dias de vida
passa a ser reconhecida em lei. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
sancionou a Política Nacional de Humanização do Luto Materno e Parental, que
garante apoio psicológico pelo SUS, exames para apurar causas da morte e
acolhimento estruturado nas maternidades. A legislação também permite o
registro oficial do bebê natimorto com o nome escolhido pelos pais.
Casos
recentes, como o da apresentadora Tati Machado e da atriz Micheli Machado,
deram visibilidade ao tema. Para a psicóloga perinatal Rafaela Schiavo,
fundadora do Instituto MaterOnline, a sanção da nova lei é um avanço necessário
para combater o silêncio, o julgamento e a solidão vivida por muitas famílias.
A
especialista responde às dúvidas mais comuns sobre como lidar com o luto
gestacional e neonatal, o que dizer (ou não dizer) a quem enfrenta esse tipo de
perda, e como a escuta pode ajudar.
1) O
que é o luto perinatal?
O luto
perinatal ocorre quando há a perda de um bebê durante a gestação ou logo após o
nascimento. Ele não se restringe à ausência física, mas inclui também perdas
simbólicas, como o luto pelo sexo desejado do bebê, pela impossibilidade de ter
o parto planejado ou por dificuldades na amamentação. Todas essas experiências
envolvem a interrupção de expectativas e precisam ser acolhidas.
2)
Como cada pessoa vive o luto perinatal e quando buscar ajuda profissional?
O luto
perinatal é uma experiência única e profundamente pessoal. Para algumas
pessoas, o processo pode durar semanas, para outras, meses ou até mais tempo.
Não há um prazo certo ou errado para lidar com essa perda, já que cada um tem
seu próprio ritmo para processar a dor e as mudanças que ela traz. O mais
importante é observar como o luto afeta o cotidiano. Se a tristeza começar a
interferir na realização de atividades diárias, houver isolamento prolongado ou
pensamentos de desesperança, pode ser o momento de buscar apoio especializado.
Psicólogos e outros profissionais de saúde mental estão preparados para
oferecer acolhimento e suporte durante esse processo.
3)
Como lidar com a perda de um bebê?
Lidar
com a perda envolve validar os próprios sentimentos e dar espaço para que
emoções, como tristeza ou culpa, sejam vividas sem repressão. Guardar
lembranças do bebê, como roupas ou fotos, pode ajudar a transformar a dor em
algo significativo. Apoio psicológico e a participação em grupos de apoio
também são fundamentais para auxiliar no processo de superação.
4)
Quais práticas ajudam a criar uma despedida significativa?
Hospitais
humanizados permitem que os pais vejam e segurem o bebê, caso desejem, e
oferecem a opção de guardar recordações, como fotos, a marca do pezinho ou um
pedacinho de cabelo. Essas ações ajudam a dar sentido à despedida. Em países
como a Inglaterra, berços refrigerados são usados para que os pais possam
passar mais tempo com o bebê antes do sepultamento.
5)
Como os hospitais podem acolher melhor famílias enlutadas?
Separar
mães que enfrentaram perdas de alas onde estão bebês recém-nascidos é uma
medida fundamental para reduzir o sofrimento. Além disso, o acolhimento humanizado,
com profissionais capacitados e tempo adequado para a despedida, pode aliviar a
dor das famílias.
6) O
pai também sente o luto?
Sim, e
ele precisa ser incluído no processo. Muitas vezes, o pai é pressionado a ser
"forte" para apoiar a parceira, mas ele também vivencia a perda e
necessita de espaço para expressar sua dor. O apoio mútuo no casal é essencial
para fortalecer a relação e facilitar a superação.
7)
Existem outros tipos de luto no período perinatal?
Sim.
Além da perda física, o luto pode surgir em situações como receber um diagnóstico
inesperado, descobrir que o sexo do bebê não era o desejado ou não conseguir
amamentar. Essas perdas simbólicas também geram sofrimento e merecem
acolhimento.
8)
Por que evitar frases que minimizem a dor da perda?
Frases
como “foi melhor assim” ou “Deus quis dessa forma” podem parecer inofensivas,
mas invalidam os sentimentos de quem está enfrentando a perda. É importante
oferecer escuta atenta, sem julgamentos, e respeitar o momento de luto.
9) Por
que é importante falar sobre luto perinatal?
Casos
como o de Tati Machado e Micheli Machado mostram como o luto perinatal é mais
comum do que se imagina. Discutir o tema ajuda a romper tabus, validar o
sofrimento das famílias e incentivar práticas de acolhimento mais empáticas e
humanizadas.
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