No cenário contemporâneo pós-pandemia, o tempo dedicado a dispositivos eletrônicos por crianças registrou alta significativa. Pesquisas nacionais e internacionais já relacionam esse comportamento a distúrbios do sono, problemas visuais, alterações no desenvolvimento neurológico e mudanças de comportamento. No Hospital Mater Dei Santa Genoveva, em Uberlândia (MG), o pediatra Dr. Gilson Fayad alia dados científicos e recomendações de entidades oficiais para orientar pais, educadores e profissionais de saúde.
Crescimento do uso de telas e reconhecimento do
problema
Segundo a Academia Americana de Pediatria, o uso excessivo
de telas por crianças de até 10 anos configura um problema de saúde pública
emergente. Comparando durante e após os períodos de isolamento social, o tempo
médio diário de exposição passou de menos de uma hora para quase três horas em
muitos lares brasileiros, impulsionado pelo ensino remoto e pela oferta contínua
de conteúdos digitais.
Principais consequências clínicas
Visão e conforto ocular
Especialistas apontam o aumento de casos de miopia digital —
com elevação estimada em 30% na última década — e da Síndrome Visual do
Computador, caracterizada por fadiga ocular, olho seco, visão borrada e
cefaleia. “Crianças mantêm o olhar fixo a menos de 30 centímetros das telas por
períodos prolongados, o que intensifica a exposição à luz azul e favorece o
desconforto visual”, explica Dr. Fayad.
Sono e ritmos biológicos
Estudos indicam que a luz azul emitida pelos dispositivos
inibe a produção de melatonina, hormônio essencial para a regulação do sono.
Consequentemente, há recorde de queixas de despertares noturnos e queda na
qualidade do descanso entre os pequenos.
Postura e sedentarismo
O chamado “pescoço de texto” — postura inclinada com a
cabeça projetada para frente — já provoca dores cervicais em faixas etárias
cada vez mais baixas. Paralelamente, o tempo sentado diante de telas substitui
atividades físicas, elevando os riscos de sobrepeso e de complicações
cardiovasculares futuras.
Impactos no desenvolvimento cognitivo e emocional
Pesquisas de neuroimagem revelam alterações na substância
branca e na conectividade neural em crianças que excedem sete horas diárias de
tela, com impacto direto na atenção, na linguagem e na interação social. Dados
da JAMA Pediatrics mostram que cada minuto adicional de exposição reduz em média
6,6 palavras proferidas por pais e 4,9 vocalizações de crianças entre 1 e 3
anos, afetando a emergência da comunicação oral.
Além disso, há evidências de que o uso precoce e intenso de
telas duplica a probabilidade de sintomas de ansiedade e depressão em crianças,
estabelecendo uma relação bidirecional com o transtorno de déficit de atenção.
Diretrizes de organismos internacionais
OMS e sociedades de pediatria recomendam evitar exposição antes dos 2 anos; limitar a até 1 h/dia
para 2–5 anos; 2 h/dia para 5–10 anos; e, no máximo, 3 h/dia em adolescentes.
Sociedade Brasileira de Pediatria reforça a importância de manter dispositivos fora do quarto para
preservar a higiene do sono.
O psicólogo social Jonathan Haidt sugere restrição total de redes
sociais (Instagram, TikTok) até os 16 anos, devido aos riscos à saúde mental em
fases iniciais.
Recomendações do pediatra
No Hospital Mater Dei Santa Genoveva, o Dr. Gilson Fayad estruturou
orientações baseadas em evidências e adaptadas à realidade das famílias:
Ambientes livres de telas
Definir espaços sem dispositivos (refeições, áreas de estudo, 1–2 h
antes de dormir).
Conteúdos e supervisão
Priorizar programas educativos e interativos, com acompanhamento
parental ativo.
Atividade física diária
Estimular brincadeiras ao ar livre e esportes, para reduzir o tempo
sedentário.
Ferramentas de controle
Adotar aplicativos de gerenciamento de uso e proibir aparelhos no quarto
infantil.
“Na prática clínica, observamos que essas medidas, quando aplicadas de forma consistente, resultam em melhora nos sintomas de insônia e queixas visuais”, afirma Dr. Fayad.
Para o médico, o balanço entre tecnologia e vida
presencial emerge como fator determinante para o desenvolvimento saudável de
crianças. “A combinação de limites claros, supervisão familiar e adesão às
recomendações de entidades internacionais fundamenta as recomendações da
pediatria do Hospital Mater Dei Santa Genoveva, que buscam minimizar riscos e
promover hábitos equilibrados desde a primeira infância”, finaliza o pediatra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário