Especialista alerta para os riscos de infecções em procedimentos estéticos e os cuidados necessários para evitar complicações
Com
a proximidade do Carnaval, a busca por procedimentos estéticos dispara,
impulsionada pelo desejo de estar com o “corpo perfeito” para a folia.
A
procura por procedimentos como lipoaspiração, implante de silicone e
harmonização facial atinge seu pico no início do ano, acompanhada de um aumento
expressivo nas intervenções não cirúrgicas, como aplicação de toxina
botulínica, preenchimentos faciais, bioestimuladores de colágeno e depilação a
laser. Clínicas e consultórios registram recordes de atendimento, muitas vezes
operando no limite da capacidade para atender à demanda sazonal.
Diante
desse cenário, especialistas alertam para os riscos associados à pressa e à
falta de critérios na escolha de profissionais e clínicas. A Sociedade
Brasileira de Dermatologia reforça que “a realização de procedimentos estéticos
exige conhecimento técnico e o cumprimento rigoroso de normas sanitária s para
evitar complicações como infecções, reações adversas e sequelas
irreversíveis”.
Para
a Dra. Jéssica Ramos,
infectologista e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP),
a preocupação é pertinente. "Até mesmo procedimentos considerados simples
podem levar a sérios problemas de saúde se não forem realizados por
profissionais qualificados ou se não seguirem rigorosamente as normas de
higiene necessárias" , explica a especialista.
Infecções
As
Infecções Relacionadas à Assistência em Saúde (IRAS) são infecções adquiridas
durante a prestação de cuidados de saúde, podendo ocorrer em qualquer ambiente
onde procedimentos médicos ou estéticos sejam realizados. No caso de
procedimentos estéticos, o risco de IRAS aumenta em tratamentos invasivos,
quando a barreira protetora da pele é rompida, facilitando a entrada de
microrganismos.
A
falta de higiene, a esterilização inadequada dos equipamentos, o uso de
produtos contaminados e erros técnicos podem contribuir para o surgimento
dessas infecções, que podem variar de leves a graves, exigindo cuidados médicos
imediatos.
Entre
as bactérias mais comuns associadas às infecções em procedimentos estéticos,
destacam-se:
Staphylococcus aureus (incluindo MRSA): Essa
bactéria está frequentemente associada a infecções de pele, feridas cirúrgicas,
e pode causar abscessos e infecções graves, como septicemia.
Pseudomonas aeruginosa: frequentemente
encontrada em ambientes de saúde, esta bactéria pode levar a infecções em
feridas, especialmente em procedimentos cirúrgicos e tratamentos invasivos.
Mycobacterium: conhecidas
por causar infecções de pele após procedimentos como lipoaspiração e
preenchimentos faciais, essas bactérias podem ser difíceis de tratar e requerem
terapia antibiótica prolongada.
Escherichia coli (E. coli): embora
normalmente presente no intestino humano, quando introduzida acidentalmente em
feridas, pode causar infecções graves.
Cuidados importantes
Para a Dra. Jessica, a principal forma de evitar a infecção começa na escolha do profissional e do local em que será realizado o procedimento. “Procedimentos estéticos devem ser feitos apenas por médicos, que são profissionais habilitados para administrar as eventuais complicações. Por isso, antes de contratar este tipo de serviço, é importante verificar se o profissional é médico, qual a sua especialização, se o local tem licenciamento e até buscar referências, optando por alguém que tenha boa reputação e bom histórico", explica a infectologista.
Além
da escolha, a Dra. Jessica enfatiza a importância do cuidado pré e pós-operatório,
incluindo a limpeza adequada do local em que será feito o procedimento
(idealmente em centros cirúrgicos hospitalares) e o monitoramento de sinais de
infecção. “A conscientização sobre os riscos é essencial, especialmente com o
aumento de intervenções estéticas, que, embora seguras quando realizadas
corretamente, podem apresentar riscos quando os protocolos de saúde não são
seguidos rigorosamente”, finaliza a especialista.
Dra. Jessica Ramos - graduada em Medicina pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com residência médica em Infectologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e doutorado em Ciências também pela USP. A especialista integra o Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês e é membro de importantes comitês de doenças infecciosas, entre eles da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).
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