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sábado, 19 de outubro de 2024

Exposição das crianças em redes sociais esconde perigos

As ‘inofensivas’ fotos com uniforme e localização expõem as crianças 

a riscos impensados, como a manipulação e o mau uso das imagens, abrindo margem para assédios, abusos e sequestros. Especialista do INCC dá dicas aos pais para evitar riscos e garantir a segurança dos menores


As redes sociais trouxeram formas inéditas de interação entre as pessoas e, com elas, surgiu um desejo de compartilhar cada vez mais detalhes da vida privada. É uma forma de preservar laços entre parentes e amigos distantes e, em alguns casos, buscar validação por meio de likes. Nesse contexto, tornou-se natural que os pais publiquem fotos dos filhos e permitam que as próprias crianças se expressem livremente pela internet. Mas essas atitudes, ainda que bem-intencionadas, trazem riscos muitas vezes impensados para as próprias crianças e suas famílias, como alerta o INCC – Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime. 

“Crianças não têm o discernimento necessário para se esquivar de interações com adultos mal-intencionados, que podem ganhar sua confiança e envolvê-las em situações de assédio. Além disso, a publicação de fotos em redes sociais – por elas mesmas ou pelos seus pais – acarreta uma exposição com consequências que podem escalar rapidamente. Afinal, uma vez que as fotos estão online, é impossível garantir o controle de cópias, downloads e compartilhamentos”, destaca Fábio Diniz, presidente do INCC. 

“As fotos podem ser utilizadas por terceiros com intenções maliciosas, como a criação de perfis falsos ou a inclusão dessas imagens em sites de conteúdo inadequado. Esse é um risco a que qualquer pessoa que publica fotos está se expondo. Com o advento das deepfakes, bastam algumas fotos da criança para que seja possível montar um vídeo falso, por exemplo. Os danos podem ser sérios e profundos, como a criação de conteúdo de cunho erótico”, completa o especialista. 

Quando as fotos revelam o ambiente em que a criança está inserida, essas informações facilitam o rastreamento de sua localização, aumentando o risco de sequestro ou assédio. Se ela estiver vestindo o uniforme da escola ou do clube, esse detalhe também é indicativo de hábitos e locais que frequenta, o que pode ser usado de forma perniciosa. E configurar o perfil da criança como privado não elimina completamente os riscos.  

“Na internet, nada é totalmente privado. Uma vez que os conteúdos estão na internet, eles podem ser acessados e compartilhados. A conta pode ser hackeada ou invadida e, nesse momento, o que seria privado passa para o controle do invasor”, afirma Diniz. “Além disso, amigos ou familiares que têm acesso às fotos podem compartilhá-las, conscientemente ou não, com pessoas fora do seu círculo de confiança – e isso é muito mais comum do que pensamos”.

 

Cuidados a se tomar 

Para o presidente do INCC, deve-se considerar 4 principais pontos para garantir a segurança digital (e, em alguns casos, presencial): 

1. Não poste: Sabemos que é difícil, ou, talvez, quase impossível, mas se quer realmente se precaver, não poste, simples assim. Se não conseguir seguir esta recomendação, siga os passos de 2 a 4. 

2. Não marcar localização em fotos: como é difícil deixar completamente de lado essas práticas, que são ritos de socialização, uma forma de mitigar os perigos é deixar de marcar a localização nas fotos e cuidar para que elas não contenham detalhes que a denunciem, como uniforme de escola, nome da academia que a criança frequenta ou endereços. “Isso reduz o risco de alguém usar esses dados para localizar ou identificar a criança ou até mesmo os adultos, pois, identificando onde estão os adultos, muito provavelmente as crianças também estarão naqueles mesmos locais”, explica o especialista. 

3. Configurar as opções de privacidade da rede social: isso vai garantir que apenas pessoas próximas possam visualizar as fotos, inclusive bloqueando o acesso a terceiros, sem controle de compartilhamento. O ideal é partir sempre do acesso mínimo, com o máximo possível de restrições. E depois, se for o caso, liberar acessos mais amplos, gradativamente e de forma pontual. 

4. Avaliar o conteúdo das fotos: roupas, poses e situações que, à primeira vista, parecem engraçadas e inofensivas podem causar constrangimento no futuro. Por isso, fotos de crianças nuas ou mesmo com roupas íntimas são totalmente desaconselhadas, já que no futuro podem ser usadas fora de contexto e de forma comprometedora por criminosos. 

Esses cuidados podem parecer exagerados, mas, para um indivíduo mal-intencionado e com certa habilidade digital, uma única foto já é suficiente para promover uma devassa na vida de outra pessoa. Em poucos minutos, é possível descobrir informações privativas e sensíveis sobre seus filhos, pais, familiares e amigos, endereços da residência e da casa de veraneio, locais que essa pessoa frequenta, veículos, documentos de identificação pessoal, telefones, e-mails, dados bancários e de cartão de crédito, senhas de acesso vazadas (e que geralmente são reutilizadas), entre outras. 

Por isso, é importante que os pais mantenham a proximidade e o diálogo com os filhos, ajudando-os a descobrir e navegar com segurança no mundo cibernético, que contém riscos difíceis de identificar. Aplicativos de controle parental podem ajudar a monitorar o que as crianças acessam. Mudanças de humor, irritabilidade ou isolamento podem ser sinais indicativos de que há algo errado. 

“No atual cenário de pouca privacidade e aumento de crimes cibernéticos, todo cuidado é pouco. Nossa responsabilidade como pais e mães é muito grande, já que as crianças não têm maturidade para lidar com os riscos e perigos do mundo de hoje, assim como muitos adultos”, finaliza Diniz.

 

Sobre o Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime – INCC

O Instituto Nacional de Combate ao Cibercrime (INCC) foi fundado em 2023 com o propósito de colaborar para a promoção de um ambiente digital mais seguro para todos. Com atuação apartidária e independente na construção de projetos, pesquisas, parcerias e ações de advocacy, tem o compromisso de promover conscientização, prevenção e respostas eficazes a ameaças digitais, capazes de garantir o efetivo enfrentamento dos problemas relacionados à cibersegurança e aos cibercrimes no Brasil. O instituto tem firmadas alianças estratégicas e cooperações técnicas com entidades nacionais e internacionais que atuam na temática da segurança cibernética, no combate a crimes digitais e às organizações criminosas. Entre elas estão: Gabinete de Segurança Nacional da Presidência da República (GSI), Polícia Federal, Polícia Militar do Estado de São Paulo, Polícia Civil da Cidade de São Paulo, Universidade de São Paulo, FIESP, FecomercioSP, Febraban, CNI, Abrasca, (International Chamber of Commerce (ICC), entre outras. Mais informações no site https://incc.org.br/


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