Sonho tem
importância neurológica e psicanalítica para o cérebroFreepik
A expressão “sonhar acordado” pode parecer poética,
mas é algo que fazemos com frequência e sua função é importante para o cérebro
tanto neurologicamente, quanto psicanaliticamente. E hiperestimulação da vida
moderna, incluindo o uso das redes sociais, tem impactado negativamente este
hábito.
“A constante sobrecarga de estímulos e a
necessidade de estar sempre conectado e produtivo claramente estão mudando a
relação do indivíduo e seu cérebro. Com o avanço da tecnologia, especialmente
dos smartphones e redes sociais, as pessoas têm menos momentos de pausa e
introspecção, que são essenciais para permitir devaneios, como são os chamados
‘sonhos acordados’, e a fluidez do pensamento criativo é impactada fortemente”,
diz a psicóloga e psicanalista Ana Volpe, membro-filiada da Sociedade Brasileira
de Psicanálise de SP.
Segundo a profissional, o devaneio é visto como uma
forma de expressão do inconsciente. Ela aponta que Sigmund Freud e outros
psicanalistas consideram o devaneio uma maneira de realizar desejos reprimidos
ou inconscientes, de forma simbólica e menos direta do que nos sonhos
noturnos.
“Para Freud, os devaneios são uma espécie de
realização de desejos, nos quais a pessoa se permite fantasiar sobre situações
ou desejos que, na vida real, seriam difíceis de alcançar. Para Donald Winnicott,
o devaneio faz parte do espaço de transição entre a realidade externa e o mundo
interno do indivíduo, sendo essencial para o desenvolvimento da criatividade e
da capacidade de se relacionar com o mundo”, explica Ana Volpe.
O “sonhar acordado” representa uma pausa natural
que permite a capacidade de refletir sobre si mesmo e de visualizar cenários
futuros ou fantasiar de forma construtiva. Já os mais conhecidos “sonhos
noturnos”, que desempenham um papel fundamental na elaboração de conflitos
psíquicos, continuam tendo um papel de destaque em pesquisas pelo mundo
todo.
Pessoas que se lembram dos
sonhos tem melhor regulação emocional
Um estudo recente publicado na revista científica Scientific Reports por pesquisadores do
Laboratório de Sono e Cognição da Universidade da Califórnia, em Irvine, nos
Estados Unidos, revelou que pessoas que se lembram de seus sonhos tem uma
melhor regulação emocional e consolidação de memória. Com isso, passam a reagir
melhor a experiências negativas do dia anterior do que aquelas que não
sonharam.
“A importância de sonhar na psicanálise vai além da
interpretação literal do conteúdo do sonho. Os significados subjacentes e
simbólicos que revelam a dinâmica inconsciente do paciente é que são mais
relevantes. É por isso que o processo de análise de sonhos pode fornecer
insights valiosos no tratamento, permitindo ao paciente uma melhor compreensão
de seus desejos, medos e conflitos internos”, diz a psicanalista.
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