OPINIÃO
Especialista em capacitação e
desenvolvimento de liderança e CEO da F.Lead, consultoria de desenvolvimento
profissional de RH
Depois da pandemia, o mundo todo entrou em uma nova era
de trabalho: uma em que as regras foram quebradas e o trabalho híbrido foi
saudado como um arranjo perfeito que impulsionou o equilíbrio entre vida
pessoal e profissional. Entretanto, o novo formato de trabalho resolve apenas
uma parte das queixas mais comuns no mercado corporativo.
Se analisarmos de forma mais profunda, é possível identificarmos
um paradoxo preocupante: mesmo com maior flexibilidade de horários e dias de
trabalho, os casos de saúde mental estão aumentando. Sim, no novo mundo do
trabalho, grande parte dos profissionais segue sofrendo de exaustão, depressão
e outras comorbidades. Segundo a
International Stress Management Association (ISMA),
cerca de 30% dos trabalhadores brasileiros possuem sintomas de exaustão
extrema, esgotamento e stress ligados ao ambiente profissional. O Brasil está
em 2.º lugar no ranking mundial, atrás apenas do Japão.
Será então que os novos formatos de trabalho com mais
flexibilidade não deveriam aumentar o bem-estar e a saúde dos profissionais?
Em parte, sim, mas não é somente isso. Em casos relacionados ao
burnout, por exemplo, as organizações precisam ir além das soluções superficiais
e implementar mudanças estruturais significativas, e para isso é necessário um
diagnóstico.
Para se ter uma ideia, um relatório recente da Gallup, empresa de análise de dados e consultoria, aponta que os
níveis de estresse entre os funcionários têm aumentado, principalmente entre os
trabalhadores remotos e híbridos que, segundo o estudo, têm mais probabilidade
de experimentar altos níveis de estresse do que os trabalhadores totalmente
presenciais (43% e 45%, respectivamente, em comparação com 38%).
A verdade é que quer estejam trabalhando no sofá, em uma cafeteria
ou no escritório, se o colaborador estiver se sentindo esgotado e desconectado
do significado e do propósito do seu trabalho, e ele não estará motivado e
continuará se sentindo esgotado.
É preciso ressaltar que, embora o trabalho híbrido e a
flexibilidade sejam sim soluções para melhorar o equilíbrio entre vida profissional
e pessoal, de acordo com um relatório da Deloitte essas abordagens, por si só, não são suficientes para
resolver o problema. O estudo aponta que cerca de 40% dos empregados
identificam o burnout como resultado direto da falta de apoio gerencial.
Portanto, questões de saúde mental são um fenômeno complexo que vai além das
questões estruturais do trabalho. Está também profundamente enraizado na
qualidade do suporte oferecido pelos líderes e nas condições do ambiente de
trabalho. A falta de reconhecimento, de apoio emocional e a sobrecarga são
fatores críticos, independentemente do modelo de trabalho adotado.
De fato, o problema com o trabalho não é onde ele está acontecendo
e é exatamente por isso que é crucial aprofundar a discussão e entender que a
raiz do problema - muitas vezes - reside na falta de uma gestão eficiente e
humanizada de pessoas.
Obviamente, flexibilizar o trabalho pode ser um fator positivo na saúde mental dos funcionários. Mas é a mudança na abordagem gerencial e na cultura organizacional que determinará a eficácia real na redução de casos de saúde mental e na construção de um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável.
Isso implica alinhar os objetivos estratégicos da área, deixar
claro quais os resultados tangíveis, realizar alinhamentos recorrentes, manter
canais de comunicação abertos, em que os colaboradores se sintam à vontade para
expressar seus pontos de vistas, preocupações e necessidades, bem como fornecer
clareza de expectativas, quais são os resultados esperados e dar aos
colaboradores autonomia sobre suas tarefas e horários, demonstrando confiança
em suas capacidades, diminuindo as situações de stress e desconfortos.
Além disso, promover uma cultura organizacional que valorize o bem-estar e o desenvolvimento pessoal e profissional dos funcionários, conectando suas capacidades com o trabalho a ser realizado é também fundamental para se fomentar um ambiente inclusivo onde todos se sintam parte da equipe, independentemente de estarem trabalhando remotamente ou no escritório.
Investir em capacitação e em práticas que promovam, de fato, a
saúde mental não é apenas uma questão de responsabilidade social, mas também um
fator estratégico para os novos líderes, que buscam melhores resultados.
Afinal, uma força de trabalho saudável e motivada é essencial para impulsionar
a inovação, a adaptabilidade e manter uma vantagem competitiva no mercado.
Roberta Rosenburg - possui mais de 25 anos de experiência no treinamento e desenvolvimento de pessoas. Tendo como foco a capacitação de lideranças, em sua trajetória profissional Roberta já desenvolveu e entregou projetos para mais de 100 empresas, tais como GSK, ExxonMobil, Unilever, Mercado Livre, Ball Corporation, Salesforce, Danone, Schlumberger, entre outras. Além disso, a CEO e co-fundadora da F.Lead já impactou mais de 5 mil profissionais e já foi eleita uma das três melhores facilitadoras globais, entre mais de 350 profissionais da América Latina por uma consultoria sueca.
F.Lead
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