Mayo Clinic |
A insuficiência cardíaca durante a gravidez é uma
condição perigosa e muitas vezes pouco detectada porque os sintomas comuns –
falta de ar, fadiga extrema e dificuldade em respirar enquanto se está deitada
– são facilmente confundidos com os desconfortos típicos da gravidez. Uma
pesquisa de última hora apresentada no Congresso da
Sociedade Europeia de Cardiologia sobre um estudo
da Mayo Clinic mostrou que um estetoscópio digital habilitado
para inteligência artificial (IA) ajudou os médicos a identificar o dobro de
casos de insuficiência cardíaca em comparação ao grupo de controle que recebeu
cuidados obstétricos e triagens habituais. Todos os resultados do estudo estão publicados na Nature Medicine.
O estudo foi realizado na Nigéria, onde mais mulheres sofrem de insuficiência
cardíaca relacionada à gravidez do que em qualquer lugar do mundo. Os
resultados também indicam que a triagem, incluindo o estetoscópio digital
habilitado para IA, apresenta uma probabilidade 12 vezes maior do que a triagem
tradicional de identificar fraqueza na bomba cardíaca quando avaliada em um
limite de fração de ejeção inferior a 45%, que é o ponto
de corte de um tipo específico de insuficiência cardíaca denominado cardiomiopatia periparto.
"Reconhecer esse tipo de insuficiência cardíaca precocemente é importante
para a saúde e o bem-estar da mãe", explica a Dra. Demilade Adedinsewo, cardiologista da
Mayo Clinic e pesquisadora principal do estudo. "Os sintomas da
cardiomiopatia periparto podem piorar progressivamente à medida que a gravidez
avança, ou mais comumente após o parto, e podem colocar em risco a vida da mãe
se seu coração ficar muito fraco. Os medicamentos podem ajudar quando a condição
é identificada, mas os casos graves podem exigir cuidados intensivos, uma bomba
cardíaca mecânica ou, ocasionalmente, um transplante de coração, se os sintomas
não forem controlados com tratamento médico".
O ensaio clínico randomizado, controlado e aberto incluiu quase 1.200
participantes que foram identificados com condições cardíacas através de
cuidados obstétricos típicos ou de soluções aprimoradas com IA. Pesquisadores
da Mayo Clinic desenvolveram anteriormente um algoritmo de eletrocardiograma
(ECG) de 12 derivações para identificar uma bomba cardíaca fraca, clinicamente
conhecida como fração de ejeção reduzida. Uma versão deste algoritmo foi
reforçada pela Eko Health para o seu estetoscópio digital point-of-care,
aprovado pela Food and Drug Administration (FDA, sigla em inglês) dos EUA, para
detectar insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida.
Pesquisadores descobriram que os médicos que realizaram a triagem baseada em IA
com o estetoscópio digital e o ECG de 12 derivações detectaram a função
cardíaca fraca com alta precisão. Dentro da coorte do estudo, o estetoscópio
digital ajudou a identificar o dobro de casos de baixa fração de ejeção abaixo
dos 50% e os médicos que o utilizavam tinham 12 vezes mais probabilidade de
identificar uma fração de ejeção abaixo dos 45% em comparação aos tratamentos
habituais.
As ferramentas apoiadas por IA foram avaliadas em três níveis diferentes de
fração de ejeção utilizados no diagnóstico clínico. Menos de 45% é o ponto de
corte para o diagnóstico de cardiomiopatia periparto. Menos de 40% indica
insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida e apresenta fortes
evidências a favor de medicamentos específicos para reduzir os sintomas e o
risco de morte. Uma fração de ejeção inferior a 35% indica uma função da bomba
cardíaca gravemente reduzida, o que requer um acompanhamento mais intenso
constantemente, incluindo tratamentos avançados para a insuficiência cardíaca e
um desfibrilador implantável se a função da bomba não se recuperar. Pacientes
do grupo de intervenção realizaram um ecocardiograma na entrada do estudo para confirmar as previsões
da IA.
"Este estudo fornece evidências de que podemos detectar melhor a
cardiomiopatia periparto entre as mulheres na Nigéria. No entanto, há mais
perguntas a serem respondidas", diz a Dra. Adedinsewo. "Nossos
próximos passos seriam avaliar a usabilidade e a adoção dessa ferramenta pelos
profissionais de saúde nigerianos (incluindo médicos e enfermeiros) e, mais
importante, seu impacto no atendimento ao paciente. A cardiomiopatia periparto
afeta aproximadamente 1 a cada 2.000 mulheres nos EUA e até 1 a cada 700
mulheres afro-americanas. Avaliar essa ferramenta de IA nos EUA permitirá
testar ainda mais suas capacidades em populações e ambientes de saúde
variados.
O financiamento para este ensaio clínico inclui os Centros De Saúde Digital,
Pesquisa de Saúde e Engajamento Comunitário da Mayo Clinic, o Construindo
Carreiras Interdisciplinares de Pesquisa em Saúde da Mulher (BIRCWH, sigla em inglês) da Mayo Clinic, programa
financiado pelos Institutos Nacionais de saúde (NIH, sigla em inglês) e pelo
Centro de Ciências Clínicas e Translacionais da Mayo Clinic (CCATS, sigla em inglês) financiado pelo NIH.
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