Entre junho e agosto de 2024, o país
registrou o período mais quente desde 1970, em estados como Amazonas e Pará,
que viveram 70 dias de temperaturas críticas. Belém, futura sede da COP30,
enfrentou 91 dias sob condições alarmantes.
Uma em cada quatro pessoas no mundo enfrentou
temperaturas elevadas impulsionadas pelas mudanças climáticas todos os dias em
junho, julho e agosto, devido à queima de combustíveis fósseis, como petróleo,
gás e carvão, e atividades humanas, aponta novo relatório divulgado pela
Climate Central, "People
Exposed to Climate Change: June-August 2024".
Nesse período, em todo o mundo, 2 bilhões de pessoas foram expostas a mais de
30 dias de temperaturas prejudiciais à saúde, fortemente influenciadas pelas
mudanças climáticas, só no Brasil, foram 16 milhões de pessoas afetadas.
72
países vivenciaram seu verão mais quente desde pelo menos 1970, significativamente
impulsionado pelas mudanças climáticas. 180 cidades no Hemisfério Norte
experimentaram pelo menos uma onda de calor extremo de cinco dias ou mais de
junho a agosto. Essas ondas de calor são, em média, 21 vezes mais prováveis
hoje por causa da poluição por carbono, causada principalmente pela queima de
carvão, petróleo e gás.
"As altas temperaturas que foram claramente
influenciadas pelas mudanças climáticas colocaram em risco a saúde de bilhões
de pessoas em todo o mundo durante os últimos três meses", disse Andrew
Pershing, vice-presidente de ciência da Climate Central. "Nenhuma região,
país ou cidade está a salvo das ameaças mortais representadas pela queima de
combustíveis fósseis."
Brasil: recordes de temperaturas e impactos na saúde
No
geral, o Brasil viveu um período de junho a agosto mais quente do que a média,
significativamente impulsionado pelas mudanças climáticas. Em todo o país, mais
de 16 milhões de pessoas foram expostas a pelo menos 60 dias com temperaturas
excepcionalmente influenciadas pelas mudanças climáticas.
Para as pessoas nos estados do Amazonas, Espírito
Santo e Pará, este foi o período de junho, julho e agosto mais quente desde
1970, quando os registros de satélite confiáveis começaram. Esses estados
experimentaram pelo menos 70 dias com temperaturas que se tornaram pelo menos
cinco vezes mais prováveis devido às mudanças climáticas durante esses três
meses.
Cidades com o número médio de dias per capita com CSI 3 ou superior, significando que as mudanças climáticas tornaram a temperatura nesses dias pelo menos três vezes mais provável. Análise baseada em dados ECMWF ERA5, de junho a agosto de 2024. |
O brasileiro médio enfrentou 30 dias com temperaturas
que se tornaram pelo menos três vezes mais prováveis devido às mudanças
climáticas. Manaus (AM), Macapá (AP) e São Luís (MA) foram algumas das cidades
mais significativamente impactadas por temperaturas influenciadas pelas
mudanças climáticas.
Belém – cidade anfitriã da Conferência das Partes (COP30) no próximo ano – registrou 91 dias em 92 com temperaturas excepcionalmente influenciadas pelas mudanças climáticas (CSI 5).
A
intensidade do calor compromete a capacidade do corpo de regular sua
temperatura, aumentando o risco de mal-estar, exaustão, insolação e
hipertermia. Globalmente, diversas cidades também enfrentaram pelo menos 70
dias de calor extremo, com a mesma gravidade observada em Belém, Macapá e São
Luís.
As
florestas do Brasil também queimaram a um ritmo alarmante, com as mudanças
climáticas tornando o incêndio florestal no Pantanal mais intenso, de acordo
com um
estudo de atribuição da World Weather Attribution.
Um estudo anterior, também divulgado pelo Climate Central ("Extreme
Heat and Fires Linked to Climate Change in Brazil"), mostrou que temperaturas extremas e a alta concentração
de micropartículas PM2.5, resultantes dos incêndios, estão gerando risco à
saúde pública brasileira.
Em 20 de agosto, a concentração dessas partículas
nocivas atingiu níveis 11 vezes superiores às recomendações da Organização
Mundial da Saúde, afetando a qualidade do ar e contribuindo para um aumento
significativo de casos de asma, pneumonia e sinusite.
Principais descobertas do novo estudo
Usando o Índice de Mudança
Climática da Climate Central, esta nova análise
quantifica o impacto das mudanças climáticas nas temperaturas e estima o número
de pessoas afetadas por essas condições extremas. Ele fornece dados detalhados
sobre a exposição ao calor em níveis global, regional e local, e em cerca de
1.200 cidades.
Para estimar os riscos do calor para a saúde humana,
os pesquisadores analisaram os dias em que as temperaturas eram
significativamente mais quentes do que o registro histórico - os dias de
"calor arriscado". As temperaturas nesses dias são mais quentes do
que 90% das temperaturas observadas em uma área local durante o período de
1991-2020 - isso representa um limiar mínimo de mortalidade no qual os riscos à
saúde relacionados ao calor aumentam estatisticamente.
- Mais de 2 bilhões de pessoas (25% da população global)
experimentaram 30 ou mais dias de calor arriscado que foram tornados pelo
menos três vezes mais prováveis pelas mudanças climáticas.
- Mais de 4 bilhões de pessoas enfrentaram temperaturas
incomuns tornadas pelo menos três vezes mais prováveis pelas mudanças
climáticas em 13 de agosto, o pico do calor global.
- Durante esta temporada recorde, quando 72 países quebraram
seu recorde de calor para o período de junho a agosto, poucas áreas
urbanas escaparam dos impactos da poluição por carbono, causada
principalmente pela queima de combustíveis fósseis.
- A pessoa média experimentou 17 dias extras de "calor arriscado" em todo o mundo por causa das mudanças climáticas, representando um risco potencial para a saúde global.
Sobre
o CSI
O CSI
quantifica a influência das mudanças climáticas nas temperaturas diárias.
Níveis positivos de CSI de 1 a 5 indicam temperaturas que são cada vez mais
prováveis no clima atual. Um nível de CSI de 2 (3, etc.) significa que a
temperatura é pelo menos duas vezes (três vezes, etc.) mais provável no clima
atual do que em um mundo sem mudanças climáticas causadas pelo ser humano.
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