Sem precedentes na literatura
científica mundial, as mortes por febre Oropouche apresentam sintomas
semelhantes aos da dengue grave e preocupam autoridades de saúde devido à sua
rápida expansão territorialCrédito: witsawat sananrum
A febre Oropouche, transmitida por mosquitos, está se espalhando
rapidamente pelo Brasil, causando preocupação entre especialistas em saúde. O
Ministério da Saúde (MS) confirmou duas mortes pela doença, além de já ter
registrado, este ano, 7.236 casos em 20 estados brasileiros. Até o momento, não
havia relatos na literatura científica mundial sobre óbitos causados pela
doença. Em comparação com o ano passado, houve um aumento de cerca de 690% no
número de casos. A descentralização dos testes de PCR para laboratórios
estaduais têm contribuído para a maior detecção de casos. Embora endêmica na
Amazônia desde os anos 1960, a transmissão local do vírus Oropouche agora
também foi confirmada em estados como Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, Rio
de Janeiro, Santa Catarina e Piauí.
Carolina Lázari, infectologista e patologista clínica membro da
Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML), explica
que os sintomas da febre oropouche são muito semelhantes aos da dengue, com
febre, dores no corpo, dores musculares e articulares, dor de cabeça, náuseas
e, ocasionalmente, vômitos. "No entanto, manchas na pele, comuns na
dengue, são raras na febre Oropouche. As complicações neurológicas, como
meningite e encefalite, embora raras, podem ocorrer", ressaltou.
De acordo com a especialista, a diferenciação entre a oropouche e
outras arboviroses, doenças transmitidas por mosquitos, é um desafio. "Os
sintomas são compartilhados por várias arboviroses. A oropouche e a dengue têm
dores articulares difusas, sem sinais inflamatórios marcantes, ao contrário da
chikungunya e do vírus Mayaro, que costumam causar dores articulares intensas
com inchaço e vermelhidão", explicou Lázari acrescentando que a
confirmação do diagnóstico só é possível por meio de exames laboratoriais.
A patologista clínica da SBPC/ML enfatiza que o diagnóstico da
doença é feito inicialmente por PCR, detectando o RNA do vírus até o quinto dia
após o início dos sintomas. "Após o sétimo dia, a sorologia com pesquisa
de anticorpos IgM e IgG torna-se a técnica recomendada. A sorologia para febre
Oropouche é bastante específica, sem reatividade cruzada com outros
arbovírus", explicou Lázari.
No Brasil, o vírus oropouche circula tanto em ciclos silvestres
quanto urbanos. No ciclo silvestre, mosquitos arborícolas infectam humanos
acidentalmente ao picá-los em áreas de mata, mas primatas não humanos e
bichos-preguiça são os reservatórios naturais que sustentam a circulação do
vírus. No ciclo urbano, os mosquitos adaptados ao ambiente urbano transmitem o
vírus de humano para humano, sem necessidade de reservatórios animais. O
principal vetor é o mosquito Culicoides paraensis, conhecido popularmente como
maruim ou mosquito pólvora.
A disseminação do vírus está ligada a fatores como desmatamento, atividades de garimpo, avanço agrícola, construção de infraestruturas e crescimento urbano desordenado, que aproximam humanos de mosquitos silvestres e reservatórios naturais. Além disso, o aquecimento global e mudanças climáticas têm criado condições favoráveis para a reprodução dos mosquitos em novas áreas. Em 2023, foram registrados 835 casos da doença no Brasil. Em 2024, de acordo com o Ministério da Saúde, esse número já passa de 6,6 mil. Segundo ainda o Ministério, quatro mortes no Brasil estão sendo investigadas na Bahia, no Maranhão e em Santa Catarina.
Sobre a prevenção, a especialista da SBPC/ML reforça que as
medidas são semelhantes às da dengue, como controle ambiental para evitar
criadouros de mosquitos e uso de repelentes e roupas protetoras em áreas de
mata. "Não há vacina disponível para a febre oropouche, e o tratamento é
focado no alívio dos sintomas, com hidratação e medicação para dor e
náuseas", ressaltou Lázari.
Apesar da maioria dos casos terem evolução favorável,
a doença pode apresentar recaídas após uma melhora inicial, e as complicações
neurológicas, embora raras, podem ser graves, necessitando de cuidados
intensivos. Carolina Lázari alerta para a importância de monitoramento da
doença e controle de sua disseminação, especialmente em áreas urbanas, para
evitar epidemias de larga escala.
SBPC/ML - Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial
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