Levantamento feito pelo Sebrae mostra que o perfil
do MEI registrado nos programas assistenciais do governo é predominantemente
feminino e não branco
O
empreendedorismo tem sido, ao lado dos programas de assistência social e
redistribuição de renda, um importante instrumento para retirar as famílias
brasileiras da situação de vulnerabilidade econômica e levá-las a uma vida mais
digna. Um estudo realizado pelo Sebrae em parceria com o Ministério do
Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS) revelou
que aproximadamente 30% de todos os microempreendedores individuais (MEI) do
país estão no CadÚnico – sistema que reúne os dados dos beneficiários dos
programas do governo, como o Bolsa Família. O levantamento também revelou que –
não por acaso – o perfil que predomina entre esse público é o de pessoas não
brancas (63%) e do sexo feminino (55%), que representam a parcela mais
vulnerável da população brasileira.
Para
o presidente do Sebrae, Décio Lima, o estudo serviu para confirmar a percepção
de que o MEI, além de ser o principal caminho para o ingresso na atividade
empreendedora, é o caminho que boa parte dos brasileiros tem usado para
enfrentar os desafios financeiros e a escassez de oportunidades. “O cruzamento
dos dados do CadÚnico com o registro de microempreendedores individuais nos
permite pensar em um conjunto de ações para apoiar essas pessoas que buscam o empreendedorismo
movidas pela necessidade de geração de renda. Queremos capacitar esses
microempreendedores individuais para que eles tenham condições de crescer,
contribuindo com a geração de novos empregos e a redução da pobreza no país”,
comenta.
O estudo “Empreendedorismo nas Famílias de Baixa Renda” identificou que do
universo de 4,6 milhões de MEI que estão no CadÚnico, cerca de 52% (2,43
milhões) se formalizaram depois de se inscreverem nos programas de inclusão do
governo. Dentro desse público, 55% (2,5 milhões) são mulheres contra 45% (2
milhões) de homens. Esse percentual é o oposto do encontrado entre os MEI que
não estão no CadÚnico, que somam cerca de 11 milhões de empreendedores. Nesse
grupo, quase 58% (6,3 milhões) são homens e 42% (4,6 milhões) são mulheres.
Ocupação
De acordo com o levantamento, quase metade dos MEI que estão no CadÚnico (49%)
está concentrada em 10 atividades registradas na Classificação Nacional de
Atividades Econômicas (CNAE), em especial nos setores de Serviços (5 atividades),
seguido por Comércio (3 atividades) e Construção Civil (2 atividades). O
destaque especial é a ocupação de “Cabeleireiros e outras atividades de
tratamento de beleza”, que reúne aproximadamente 11% dos microempreendedores
individuais inscritos no CadÚnico; e “Serviços domésticos”, com 3,18%, ”que são
atividades em geral vistas como um meio de mulheres pobres tentarem escapar da
pobreza ou, pelo menos, terem algum rendimento”, adiciona o presidente nacional
do Sebrae.
Essa grande concentração de MEI também se intensifica nas atividades de “Serviços
especializados para construção não especificados anteriormente”, “Obras de
acabamento” e “Manutenção e reparação de veículos automotores”, grupos em que o
público é predominantemente masculino.
MEI não é excluído do Programa Bolsa Família
O Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) é o
principal instrumento de identificação e caracterização da situação
socioeconômica das famílias de baixa renda. É a inscrição no Cadastro Único que
permite às famílias o acesso aos Programas Sociais do Governo Federal como o
Bolsa Família, à Tarifa Social de Energia Elétrica, ao Benefício de Prestação
Continuada (BPC), entre outros.
Podem
se inscrever as famílias que possuem renda mensal por pessoa de até meio
salário-mínimo ou que tenham renda acima desse patamar, mas que estejam
vinculadas ou pleiteando algum programa ou benefício que utilize o Cadastro
Único em suas concessões.
Uma
das principais dúvidas de quem é microempreendedor individual é se quem é MEI
tem direito ao acesso ou à manutenção dos benefícios vinculados aos programas
sociais do governo, em especial o Bolsa Família. E a resposta é: sim!
O
MEI, assim como qualquer outra pessoa que trabalha com atividades remuneradas e
carteira assinada, pode ser beneficiado com recursos do Bolsa Família, pois as
condições necessárias são estar inscrito no CadÚnico e possuir renda familiar
por pessoa de até R$ 218 (duzentos e dezoito reais).
A
elevação da renda familiar, seja por meio do empreendedorismo seja por meio de
relação de trabalho com carteira assinada, não é condicionante imediata para
perda do Bolsa Família. Se o beneficiário do bolsa família passa a desempenhar
uma atividade que elevará o rendimento mensal de cada pessoa da família, aí sim
haverá uma regra de transição, obviamente considerando novos limites de renda.
Números da Pesquisa
• Do universo de aproximadamente 15,6 milhões de MEI, cerca de 4,6 milhões estão inscritos no CadÚnico, representando 30%.
• Para os MEI no CadÚnico, as mulheres representam 54,6% do total. Já os não brancos são maioria (63,1% contra 36,8% de brancos).
• Quase metade dos MEI no CadÚnico (42,5%) não possui rendimentos no trabalho. Além disso, apenas uma pequena parcela (16%) recebe acima de um salário-mínimo (R$1.320, valores de 2023).
• Os MEI no CadÚnico estão mais dispersos entre as regiões do país,
principalmente nas regiões Sudeste (48,7%) e Nordeste (23,8%).
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