A operação Fim da Linha do Ministério Público
de São Paulo, desencadeada em abril, com a prisão de integrantes do crime
organizado e focada no uso de empresas de ônibus urbanos para a lavagem de
dinheiro, enfatizou a gravidade dos problemas do Brasil referentes à segurança
pública. Enfrentamos uma “epidemia” que mata milhares de pessoas por ano, causa
imensos prejuízos materiais, afasta investimentos nacionais e estrangeiros,
prejudica o turismo e provoca imensos danos à economia e à imagem global de
nosso país.
Em agosto do ano passado, escrevemos artigo, publicado em vários
jornais, intitulado “O amargo preço da violência”, no qual alertávamos sobre a
premência de políticas de Estado mais amplas e eficazes de combate à
criminalidade, problema crônico e grave, que intimida e dissemina o terror em
nossa sociedade. Os números são de um cenário de guerra: em 2022, segundo dados
de 2023 do Monitor da Violência, o País teve 40,8 mil mortes causadas
por homicídios, latrocínios e lesões corporais. Além do flagelo irreparável das
vidas roubadas, o Brasil perdeu, em 2022, R$ 410 bilhões em decorrência do
mercado ilegal, segundo o Fórum Nacional Contra a Pirataria e a Ilegalidade
(FNCP).
Em consequência dessa grave situação, as empresas gastam R$ 171
bilhões anuais com sistemas e medidas de segurança privada. O valor representou
1,7% do PIB nacional em 2022, último ano com os dados totais disponíveis. A
informação consta de estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea),
inserido no seu Atlas da Violência. O problema é muito complexo e não
tem solução pronta, mas exige mobilização mais robusta e responsável do poder
público, incluindo a União, estados e municípios.
As causas são muitas, desde a exclusão socioeconômica, passando
pela precariedade do ensino gratuito, até as ações do crime organizado/tráfico
de drogas e armas, que atua cada vez mais como as máfias e se estruturam num
Estado paralelo, mantido pelo poder das armas e imposição do medo. Por isso, é
necessária ação articulada multidisciplinar, com olhar de curto, médio e de
longo prazo, incluindo imediata e mais eficiente estratégia de combate e
repressão.
A criminalidade e a violência também afetam de modo direto a
competitividade das empresas e o ambiente de negócios. Preocupamo-nos com isso
neste momento em que o parque fabril está mobilizado no sentido de promover o
fomento, modernização e ganhos de produtividade, consciente de que o setor,
como se observou em numerosos países, é fundamental para o crescimento
econômico sustentado e melhoria da renda e do bem-estar da população. Nesse
sentido, é grande a expectativa de que a Nova Indústria Brasil (NIB), política
pública em curso, consiga contemplar esses objetivos.
Porém, dois aspectos, já citados aqui, dificultam a conquista
dessas metas: o desestímulo aos investimentos e as altas despesas com
segurança. Há, ainda, a restrição do mercado, devido à concorrência ilegal com
produtos advindos de roubos, descaminho, contrabando e empresas que só existem
para lavar dinheiro. Outro efeito colateral gravíssimo da criminalidade é a
perda de talentos e recursos humanos, pois numerosos profissionais de distintas
áreas, pesquisadores e cientistas buscam emigrar para viver e trabalhar em paz.
Nosso país tem imensa possibilidade para crescer e alcançar
elevado patamar de desenvolvimento, considerando suas dimensões territoriais,
mercado potencial superior a 200 milhões de habitantes, recursos naturais,
reservas hídricas, indústria diversificada e competente, agronegócio avançado e
um moderno setor de serviços. Porém, o crime é um dos fatores que retardam
nosso progresso. Não podemos mais nos resignar à intervenção da violência em
nossa trajetória como povo e nação.
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