Para cuidar da população idosa e de públicos como PCDs, conterrâneos se matriculam em cursos certificados pelo governo luso que dão direito a vistos de residência e permissão para trabalhar nas 27 nações da UE
Portugal é o país da
União Europeia (UE) com maior envelhecimento em 2023. Das 27 nações que compõem
o bloco econômico, Portugal lidera o ranking com a maior proporção de pessoas
com 65 anos de idade ou mais (24%), acima da média de 21,3% na UE. A idade
média da população da UE aumentou 2,3 anos desde 2013, quando era de 42,2 anos,
e Portugal ocupa o topo da tabela, com 4,4 anos em média de envelhecimento, em
apenas uma década. No total da população dos 0 aos 14 anos, Portugal tem as
percentagens mais baixas (12,9%), juntamente com Malta (12,7%) e Itália
(12,4%), segundo dados do Eurostat.
“O envelhecimento
demográfico é considerado um problema porque indica uma redução da população
economicamente ativa, que é o número de habitantes – geralmente entre 15 e 60
anos – aptos a trabalhar e, portanto, a sustentar a economia. Isso faz com que
haja uma demanda de profissionais para trabalhar nos mais diversos setores, mas
principalmente no de saúde, e para supri-la se recrutam estrangeiros. Uma das
nacionalidades mais valorizadas nas diversas áreas ligadas à saúde é a
brasileira. Além do profissionalismo com que brasileiros costumam atuar,
costumamos ser reconhecidos pelos portugueses pela nossa gentileza, simpatia e
carisma. E isso faz toda a diferença em profissionais que trabalham com a
população idosa”, afirma Renata Maida Freire, brasileira que reside em Lisboa e
é diretora da Academia eFuturo para o Brasil.
Para Renata, esta
oportunidade trazida pelo envelhecimento da população europeia é cada vez mais
aproveitada pelos brasileiros que já moram em Portugal ou os que pretendem se
mudar para o país irmão. “Para trabalhar legalmente em Portugal e ainda ter uma
certificação validada pelo governo lusitano e reconhecida em toda a UE, nossos
conterrâneos estão fazendo cursos profissionalizantes como os de Técnico
Auxiliar de Geriatria, Técnico de Apoio Domiciliário, Técnico Auxiliar de Saúde
e Auxiliar de Fisioterapia e Massagem. Pela lei portuguesa, todos os que se
matricularem em cursos certificados pela Direção-Geral do Emprego e das Relações
do Trabalho (DGERT), com duração de um ano ou mais, têm direito a vistos de
residência que permitem trabalhar em território luso e, por extensão, em outras
26 nações que integram a UE”, explica a diretora da escola que capacita
estrangeiros.
Um dos brasileiros
que trabalham em saúde em Portugal é o carioca João Sena. Fisioterapeuta, ele
se mudou para Portugal em agosto de 2018 e atualmente é diretor técnico na
APPDA (Associação Portuguesa para as Perturbações do Desenvolvimento e
Autismo), em Lisboa. "Os brasileiros são bem-vistos na área de cuidados de
pessoas idosas ou com maior necessidade de apoio, como pessoas com deficiência
(PCDs), pois nos consideram pessoas mais meigas, carinhosas e alegres na forma
de cuidar. Para cuidadores, em especial, há oportunidade de emprego em qualquer
período do ano", afirma. A entidade onde João trabalha nas mais diversas
áreas de apoio às famílias e pessoas com transtorno do espectro do autismo
(TEA). Nela, coordena 45 colaboradores que compõem uma equipe multidisciplinar,
entre portugueses, brasileiros e africanos que atuam como médicos, enfermeiros,
fisioterapeutas, psicomotricistas, educadores físicos, técnicos de educação
especial, animadores socioculturais, auxiliares de ação direta (cuidadores) e
auxiliares de serviços gerais.
Segundo Renata, a
faixa salarial varia de 820 euros, o valor do salário-mínimo português, para
quem está começando em sua carreira profissional na área de saúde, até 3.500
para cargos de gestão. Para quem já tem mais experiência, mas ainda é um
profissional júnior, pode atingir 1.000 euros. Profissionais mais sêniores e
com mais expertise têm um salário médio de 1.300 euros. Já um supervisor,
coordenador, gerente e diretor têm salário entre 1.500 a 3.500 euros mensais.
Cursos com alta empregabilidade
Todos os mais de 20 cursos disponibilizados atualmente pela eFuturo – incluindo os ligados à saúde – são os que efetivamente precisam de mão de obra no mercado de trabalho português. “No sistema de formação profissional de Portugal, quando não há mais demanda de vagas os cursos deixam de existir ou somente voltam a ser oferecidos quando houver nova necessidade de contratações. Por isso, como existem para atender demandas pontuais, os cursos profissionalizantes certificados pela DGERT têm, em média, 80% de empregabilidade, sendo uma boa estratégia de transição de carreira ou mesmo de reciclagem de conhecimentos para quem já atua nessas áreas”, enfatiza Renata.
Confira, abaixo, cada um dos
cursos ligados à saúde, um segmento extremamente aquecido no mercado de
trabalho, repleto de oportunidades e possibilidades de crescimento profissional
em Portugal e outros países da UE:
· Técnico Auxiliar de
Geriatria – Pela
natureza do seu trabalho, é um profissional que deve ter conhecimentos técnicos,
intervir sobre os problemas associados ao envelhecimento e possuir competências
de comunicação, empatia e relacionamento interpessoal. O curso é composto de
dez módulos, incluindo nutrição e hidratação, cuidados de higiene e conforto,
posicionamentos e transferências, higienização de espaços e equipamentos,
primeiros socorros, medicação, processo de envelhecimento, cuidados específicos
em geriatria e acompanhamento no final da vida. O profissional pode trabalhar
em lares de terceira idade, hospitais, clínicas, centros de acolhimento ou
comunitários, residências ou em serviços de apoio domiciliário.
· Técnico de Apoio
Domiciliário – Em
seus nove módulos, o curso capacita os formandos para a prestação de cuidados
específicos de saúde, relacionados entre outros com cuidados de higiene e
conforto, posicionamento, mobilidade e transporte, noções básicas de primeiros
socorros, higienização de espaços e equipamentos, baby-sitting e acompanhamento
no final da vida. O técnico de apoio domiciliário pode exercer funções em
hospitais, lares, clínicas, centros de apoio domiciliário, creches e casas
particulares.
· Técnico Auxiliar de
Saúde – O
profissional formado pode trabalhar em hospitais públicos e privados,
consultórios médicos, clínicas e outros estabelecimentos de saúde, centros de
acolhimento, domicílio e, também, institutos de estética. Em seus dez módulos,
o curso inclui nutrição e hidratação, cuidados de higiene e conforto,
mobilidade, posicionamentos e transferências, higienização de espaços e
equipamentos, primeiros socorros, medicação, cuidados específicos de saúde,
efeitos psicossociais decorrentes da hospitalização e acompanhamento no final
da vida.
· Auxiliar de
Fisioterapia e Massagem – Os nove módulos do curso incluem: enquadramento da
profissão, anatomofisiologia, fisiopatologia, prevenção e controle de
infecções, cuidados importantes no quotidiano, medicina física de reabilitação,
indicações e contraindicações, técnicas de massagem e primeiros socorros. Por
ser um mercado profissional ainda com déficit de mão de obra em Portugal, este
tipo de técnico é muito demandado e pode exercer as suas funções em áreas de
reabilitação, como a traumática, manutenção e cuidados de saúde, medicina
esportiva, lazer e turismo, medicina do trabalho e assistência e recuperação de
idosos. O técnico auxiliar de fisioterapia atua em conjunto com o
fisioterapeuta. Neste sentido, os formados podem trabalhar em lares da terceira
idade, residências geriátricas, academias, centros de estética, hospitais,
clínicas, centros de terapia, residências e serviços de apoio domiciliário.
Renata ressalta que após o término da parte teórica dos cursos – que pode ser feita do Brasil enquanto a documentação para a mudança para Portugal é organizada –, a eFuturo apoia o processo de enquadramento profissional, garantindo o estágio, por meio de sua rede de parceiros, formada por mais de 500 empresas em Portugal. O estágio presencial em terras lusas não é obrigatório, mas além de um futuro contrato de trabalho, ele incentiva o networking, abrindo chances para outras oportunidades.
“Em Portugal, porém, o estágio não costuma ser remunerado. Por isso, recomendo que o estudante conte com uma poupança para se garantir até a formatura ou mesmo até que se encontre emprego”, pontua a diretora. Ela ressalta que as escolas profissionalizantes portuguesas certificadas pela DGERT não se responsabilizam por vistos, fornecendo apenas a prova de matrícula dos alunos que querem estudar em Portugal.
Ao pedir o visto de
estudo, é preciso que o requerente esteja atento à duração do curso escolhido,
pois não deve ser inferior a 12 meses, o prazo mínimo para se ter o visto de
estudante que permite residência e trabalho. “Brasileiros que concluíram cursos
profissionais certificados também podem requerer um visto de acompanhamento
familiar, agregando seus filhos e cônPAUTA: País com maior envelhecimento da
UE, Portugal atrai profissionais de saúde brasileirosjuge desde que cumpram com
os pré-requisitos da Portaria 1563/2007 para comprovação de meios de
subsistência, o que atualmente um visto de procura de trabalho não permite. E
se o interessado tiver dupla cidadania, brasileira e de algum país da UE, nem é
necessário pedido de visto para morar em Portugal”, observa Thiago Soares,
advogado brasileiro com registro na Ordem dos Advogados Portugueses (OAP).
Os imigrantes são
essenciais para a economia portuguesa: eles contribuíram em 2022 com cerca de
1,87 bilhões de euros para a Segurança Social, ao passo que se beneficiaram de
cerca de 257 milhões de euros em benefícios sociais. O valor das contribuições
é, portanto, sete vezes superior ao das prestações que receberam do Estado.
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