Dores de cabeça, febre alta e vômito estão entre os sintomas da meningite bacteriana Divulgação |
Pesquisa feita pelo Instituto Karolinska alerta como a meningite bacteriana pode afetar jovens. No Brasil, doença registrou mais de 80 mil casos entre 2007 e 2020
Abril é o mês designado para
conscientizar sobre a luta contra a meningite, uma doença que ganhou destaque
após a publicação de um estudo realizado pelo Instituto Karolinska, da Suécia,
e publicado na revista científica JAMA. O estudo revelou que um terço dos
jovens que contraem meningite bacteriana desenvolvem sequelas neurológicas.
No Brasil, o Ministério da Saúde
registrou mais de 80 mil casos da doença entre 2007 e 2020. Em 2023, foram
confirmadas mais de 800 mortes por meningite. A maior parte desses óbitos foi
causada pela meningite pneumocócica, totalizando 250 casos.
Os neurologistas do Grupo São Lucas,
Jorge Alberto Martins Pentiado Junior (CRM: 141933/RQE: 39979) e Dr. Thales
Pardini Fagundes (CRM: 220298/RQE: 124154), explicam que esse aumento pode ser
atribuído a diversos fatores, como a baixa taxa de vacinação, condições
sanitárias precárias (falta de saneamento básico), uso disseminado de
tratamentos que comprometem a imunidade, envelhecimento populacional e
aprimoramento do diagnóstico.
A meningite é uma inflamação das
meninges, que são as estruturas que envolvem o cérebro e a medula espinal. Pode
ser causada por doenças infecciosas, como vírus, bactérias, fungos ou
parasitas, ou por doenças não infecciosas, como câncer do sistema nervoso ou
doenças autoimunes, como o lúpus eritematoso sistêmico.
Entre as bactérias mais comuns que
causam meningite estão o Pneumococo (Streptococcus pneumoniae), o Meningococo
(Neisseria meningitidis) e o Haemophilus influenzae tipo B. Elas podem ser
transmitidas através das vias respiratórias, gotículas e secreções do nariz e
da garganta. Esses patógenos se alojam nessas regiões e, posteriormente,
invadem as meninges, resultando em uma infecção grave.
“A boa notícia é que existem vacinas
disponíveis contra essas três bactérias", explica o neurologista Jorge
Alberto. "No entanto, características específicas de algumas cepas dessas
bactérias, especialmente o Pneumococo, como maior virulência e resistência a
antibióticos, ainda são desafios a serem enfrentados. Por isso, o estímulo à
vacinação e a melhoria das condições sanitárias continuam sendo muito
importantes para reduzir cada vez mais a ocorrência de meningite no Brasil”,
completa.
Segundo ele, é importante estar atento
aos sintomas em bebês e crianças, tais como febre alta ou hipotermia
(diminuição da temperatura corporal), sonolência, dificuldade para movimentar o
pescoço, manchas vermelhas na pele, dor de cabeça, recusa alimentar, vômitos
súbitos e fontanela (moleira) elevada.
“A meningite é diagnosticada pela
história clínica, aliada ao exame físico, e confirmada através do exame do líquor,
o líquido da espinha. O tratamento específico depende do agente identificado,
utilizando-se antibióticos para as formas bacterianas e alguns vírus. Além
disso, recomenda-se o uso de dexametasona para diminuir a inflamação e prevenir
sequelas causadas por certas bactérias. Por fim, tratam-se os sintomas, como
analgésicos para dor de cabeça e antitérmicos para febre”, complementa.
Já as sequelas neurológicas ocorrem
devido à intensa reação inflamatória, que pode causar danos às células
cerebrais, especialmente se o tratamento com antibióticos e dexametasona não
for iniciado rapidamente. Entre as sequelas estão perda de audição, dificuldade
de aprendizagem e memória, atraso no desenvolvimento neuropsicomotor,
deficiências motoras, alterações visuais, hidrocefalia, crises convulsivas e
até mesmo acidente vascular cerebral (AVC).
Entre os motivos dessas bactérias
afetarem crianças e adolescentes estão a imunidade em desenvolvimento, o
frequente contato em ambientes coletivos, vacinação incompleta e comportamentos
sociais, como o compartilhamento de itens pessoais.
Dr. Thales compara a meningite
bacteriana aguda a um “incêndio no cérebro” causado por bactérias. Para
combatê-lo, os médicos usam uma combinação de "extintores de
incêndio". Os antibióticos tratam a infecção, enquanto a dexametasona, um
corticoide, ajuda a controlar a inflamação e a proteger o cérebro. O tratamento
deve ser iniciado imediatamente após a coleta de exames de sangue, não sendo
necessária a coleta do líquido da espinha para iniciar a terapia.
Ele ainda destaca que a Organização
Mundial da Saúde está empenhada em um plano ambicioso para erradicar as
epidemias de meningite bacteriana até 2030. Isso envolve a implementação de
estratégias como vacinação ampliada, melhor diagnóstico e tratamentos mais
eficazes.
“Na rede pública de saúde brasileira, estão disponíveis, gratuitamente, vacinas contra as formas mais graves de meningite, como Meningite tipo C (Meningococo tipo C), Meningite pneumocócica, Meningite por Haemophilus influenzae e Meningite tuberculosa. Por fim, o aumento da cobertura vacinal e a melhoria das condições sanitárias são cruciais para diminuir a incidência de meningite bacteriana aguda”, conclui Dr. Thales.
Grupo São Lucas de Ribeirão Preto (SP)
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