De acordo com os dados do IBGE, o Brasil conta com mais de 10 milhões de empreendedoras, porém, elas ainda enfrentam dificuldades para obter financiamento para os seus empreendimentos
As últimas décadas foram marcadas por uma transformação do papel da
mulher na sociedade. Anteriormente, só tinha à função de cuidadora dos filhos e
afazeres domésticos, hoje as mulheres têm conquistado novas atribuições principalmente
na esfera profissional, construindo suas carreiras, conquistando cargos de
liderança e, até mesmo, optando pelo empreendedorismo.
Segundo um levantamento feito pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresa (Sebrae), embasado em dados do IBGE, o Brasil tinha 34% de
empreendedoras em 2022 — equivalente a mais de 10 milhões de mulheres
proprietárias de seus negócios.
Todavia, os desafios dessas empreendedoras são diários, pois muitas
vezes precisam enfrentar a discriminação de gênero em suas posições. O cenário
torna-se ainda mais desigual, uma vez que os empreendimentos liderados por
mulheres possuem uma menor disponibilidade de crédito em comparação aos
empreendimentos liderados por homens.
É o que demostram os dados de uma pesquisa do Boston Consulting Group,
que considerou 350 startups — 258 criadas por homens e 92 fundadas ou
co-fundadas por mulheres. Em um período de cinco anos, as startups criadas por
homens recebem mais que o dobro de aportes, mas a receita gerada foi cerca de
10% menor que a das mulheres.
“O ambiente empresarial apresenta desafios para ambos os gêneros, mas
para as mulheres, em particular, as barreiras tendem a ser mais
significativas”, explica Jennifer Chen, CEO da JC Capital e especialista em
captação de investimentos. “Elas frequentemente recebem questionamentos
relacionados à rotina familiar, filhos e à capacidade de conciliar efetivamente
a vida pessoal com a profissional”, explica.
Segundo a empresária, é preciso realizar um esforço conjunto para que essa
realidade mude. “Este tipo de comportamento está diretamente ligado a questões
culturais e sociais construídas”, afirma Jennifer. “Já temos dados que
demonstram os resultados positivos do empreendedorismo feminino na sociedade,
só nos faltam as oportunidades”.
Quando uma mulher cresce, toda a sociedade evolui
Além disso, empreendimentos liderados por mulheres são grandes
aceleradores de negócios locais, por criar oportunidades para a população e
encabeçar iniciativas para o desenvolvimento da comunidade. Dados do Sebrae
revelaram um crescimento de 30% em empreendimentos femininos que criam
empregos, de 2021 para 2022.
Conhecida por sua habilidade de conectar investidores e empresas, a
especialista afirma que uma das principais alternativas para contornar essa
situação é através da criação de oportunidades por e para mulheres. “Somente
através da união das mulheres, conseguiremos alcançar lugares que, atualmente,
são dominados pelos homens. Como costumo dizer: menos ego e mais parceria”.
A sociedade desempenha um papel crucial na promoção de programas que
facilitem o acesso ao crédito para as empresárias brasileiras, tanto através de
iniciativas privadas quanto do Governo Federal.
5 dicas para angariar aportes e combater a
discriminação de gênero
Para ajudar as empreendedoras a obterem investimentos para os seus
negócios, Jennifer Chen separou algumas dicas, confira:
1. Procure programas de
investimentos
Buscar investidores para uma empresa é uma etapa crucial no caminho para
o crescimento e a expansão dos negócios. Essa busca não se resume apenas a
encontrar fontes de financiamento, mas também a identificar parceiros
estratégicos que compartilhem da visão e dos objetivos da empresa. É
fundamental apresentar um plano de negócios sólido e atrativo, demonstrando o
potencial de crescimento e os diferenciais competitivos da empresa
2. Trabalhe a autoconfiança
Muitos investidores podem ter uma visão conservadora de que a qualquer
momento as mulheres abandonariam seus negócios para cuidar da casa e de sua
família. Portanto, para passar segurança durante uma proposta, é importante
demonstrar confiança em seu trabalho, suas capacidades e na sua experiência. “A
confiança é um aspecto fundamental para escalar o seu projeto ou a sua empresa.
Valorize o seu trabalho, tome decisões com assertividade e conquiste a
confiança de todos os presentes na sala”, afirma a especialista.
3. Apresente um plano de negócios
Neste caso, os números falam mais do que palavras. Se preocupe em
comprovar o potencial do seu negócio através de resultados transparentes e que
possam ser verificados. “Elaborar um bom plano estratégico e apresentar
relatórios consistentes tornará possível mostrar o panorama da empresa e das
perspectivas”, explica Jennifer.
4. Elabore um bom pitch
O pitch nada mais é do que uma apresentação para vender a ideia do seu
negócio para os investidores. Neste caso, é fundamental que a empresária tenha,
não só um conhecimento profundo sobre o seu negócio, mas a capacidade de
comunicar a ideia de maneira clara e confiante.
Segundo Jennifer, um dos primeiros passos é conhecer os interesses do
investidor. “Um bom pitch é essencial para conquistar o investidor”. Ela ainda
ressalta a importância de separar todos os dados que sejam relevantes para a
apresentação, traçando as principais problemáticas que podem ser questionadas.
“Tratando-se de um negócio liderado por uma mulher, é possível que os
investidores prestem mais atenção nos possíveis riscos do que no potencial da
proposta”, explica. “Portanto, demonstre segurança, confiança e conhecimento,
acima de tudo”, ressalta Jennifer.
No momento do pitch, valorize seus números, não tenha medo demonstrar
seu interesse no investimento e o impacto que o seu negócio pode proporcionar.
5. Crie táticas para possíveis discursos discriminatórios
Sabendo de todos os obstáculos que as mulheres precisam lidar no mercado
corporativo, é importante que elas tenham em mente as possíveis situações e
saibam como enfrentá-las da melhor maneira.
“Para que você não seja desencorajada pelo que irá ouvir, crie
estratégias para lidar com tais cenários — sempre mantendo o foco e analisando
as situações de maneira crítica”, explica a especialista. “Pode ser difícil não
deixar os sentimentos tomarem conta, mas é algo que precisa ser desenvolvido”,
afirma. “Em situações como essas, é importante ser mais razão e menos emoção.
Nós mulheres precisamos deixar a emoção de lado e adotar uma postura mais
racional para não nos deixar afetar por esses comentários”, conclui Jennifer.
Por fim, a empresária afirma que existe muita oportunidade para as
mulheres no mercado. “A cada dia, mulheres mais poderosas, inteligentes e
capazes estão ocupando espaços mais importantes, traçando um caminho muito mais
livre para as que vierem depois”, finaliza a CEO da JC Capital.
Jennifer Chen - CEO e fundadora da JC Capital, companhia que atua no
mercado nacional e internacional através da captação de recursos no exterior.
Considerada uma das maiores referências do mercado de conexões entre grandes
empresas e investidores. É uma das poucas mulheres atuantes no mercado de
intermediação de negócios.
Nenhum comentário:
Postar um comentário