Médicos orientam atenção especial
no jeito de vestir, na escolha pela mesma turma ou não na sala de aula e em
outros aspectos sociaisFreepik
O
índice de nascimentos de gêmeos no Brasil tem aumentado, sendo que em 2005
nasceram 46.303 bebês provenientes de partos duplos, representando 1,61% do
total de nascidos vivos, e em 2015 foram 58.837 (1,99%) (Sistema IBGE de
Recuperação Automática, 2016), fato que tem contribuído para incrementar as
pesquisas sobre as peculiaridades do desenvolvimento emocional dos gêmeos no
país.
O
cuidado indicado pela Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul é que nesse
tipo de gestação, os pais procurem estar preparados desde o início considerando
aspectos não só clínicos, mas comportamentais. Para o médico pediatra e
psiquiatra infantil e psicanalista, Victor Mardini, o cuidado mais relevante é
lembrar que independente de gêmeos univitelinos (monozigóticos - durante a
gestação compartilham 100% da carga genética) ou bivitelinos (dizigóticos –
compartilham parte da carga genética, como se fossem dois irmãos comuns) cada
um vai ter seus aspectos diferenciados de personalidade.
“A
formação da personalidade (identidade e a singularidade) de um indivíduo é um
processo complexo influenciado por características biológicas, ambientais e
vivências pessoais. Os gêmeos passam por dificuldades semelhantes aos demais
indivíduos em relação ao desenvolvimento dos aspectos da sua personalidade. Desde
bebês, ao trocar fraldas, dar de mamar, brincar, passear, ajudar no banho,
colocar para dormir e mesmo nos primeiros anos de vida como auxiliar nas
rotinas das fases iniciais da escola maternal exige bastante do casal. E, no
caso de gêmeos, conciliar as tarefas dos dois filhos é ainda mais puxado”,
afirma.
Mesmo
com esta sobrecarga, salienta-se a importância dos pais identificarem as
diferenças e singularidades de cada gêmeo, respeitando suas características
pessoais. Mesmo antes de nascerem eles podem expressar características
diferentes sendo um mais agitado que o outro por exemplo.
“É
importante que os pais através de um cuidado que estimule as características
individuais de cada um facilitem seu desenvolvimento emocional e o
relacionamento com as demais pessoas ao longo de suas vidas. Os pais devem
ajudar a identificar e nomear emoções, contribuindo igualmente para a formação
de suas identidades e na diferenciação de um em relação ao outro, aprimorando
seus relacionamentos. Mas tudo isso não implica que os pais não devam estimular
a proximidade e a interação entre os gêmeos, estimulando o vínculo entre eles e
auxiliando na diferenciação e ensinando-os sobre convívio social desde cedo”,
completa o médico.
Vestir com roupas iguais
Uma
prática comum é pais vestirem exatamente iguais ou então com modelos de roupas
iguais, porém com cores distintas. Para o médico pediatra e psiquiatra infantil
e psicanalista, Victor Mardini, pais e familiares devem evitar comparações
entre eles e prestar atenção nessas diferenças, respeitando-as e
estimulando-as.
“Os
pais de gêmeos podem se sentir desafiados criando duas crianças que demandam
atenção em dobro, entretanto alguns cuidados simples, como utilizar roupas
diferentes nos filhos, nomes com sonoridades distintas (não chamá-los de
“gêmeos”), oferecer brinquedos diferentes, não amamentar gêmeos ao mesmo tempo,
são medidas que auxiliam os bebês a começarem a se identificar como dois e não
tratar as duas crianças como se fossem uma só. Embora eles sejam pequenos e
estejam aprendendo sobre o mundo fora da barriga da mãe, serão sempre
diferentes um do outro. Um pode ser mais chorão, outro mais calmo, um mais
extrovertido, outro mais fechado, e assim por diante”, acrescenta.
Em
estudo realizado recentemente nos pais, verificou-se que os próprios gêmeos
solicitaram mais cuidados quanto ao processo de individualização ao sugerir que
os cuidadores deveriam "tratar os gêmeos como pessoas diferentes e
procurar perceber as características individuais de cada gêmeo", denotando
assim a necessidade de cada gêmeo separar-se emocionalmente do outro e também
de ser reconhecido de forma individualizada pelos seus cuidadores desde o
início da vida. O estudo também evidencia que, mesmo passando pelas mesmas
situações, vivenciando juntos determinadas circunstâncias, os irmãos gêmeos têm
entendimentos diferentes do ocorrido, demonstrando que cada um tem sua própria
percepção.
Em
relação à questão escolar ainda existem controvérsias e mais estudos necessitam
responder a necessidade ou não da separação dos gêmeos em turmas diferentes.
Pesquisas evidenciaram que, segundo a percepção materna, gêmeos que estudavam
separados desenvolviam melhor sua individualidade que os demais, uma vez que o
ambiente distinto proporciona amigos e experiências diferentes. Entretanto, os
relatos das mães mostraram que o bem-estar, a satisfação dos gêmeos, a
satisfação materna e a qualidade do relacionamento foram maiores naqueles que
estudavam juntos, demonstrando que o co-gêmeo pode ser um fator protetivo de
saúde mental e que a rotina da mãe pode ser facilitada quando os filhos estudam
juntos.
Marcelo Matusiak
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