A palavra angústia se refere a uma passagem estreita, uma redução de espaço e tempo. No latim, angustus denota um estreitamento, um aperto. A angústia é um afunilamento de vida, uma sinalização que nos conclama a passar pelo caminho apontado. Angústias, medos, ansiedades, tristezas, desânimos agem como sinais, lembrando-nos de que as questões profundas sobre o significado da vida e a realização relacional não podem ser extintas.
Em vez de ser simplesmente ignorada ou excluída, a
angústia também pode tornar-se um recurso, um sinal oculto reconhecido quando
se abre a dimensão da interioridade mais profunda. É no recolhimento do
silêncio que se descobre, que se revela a angústia do coração. O coração humano
também depara com a experiência da ansiedade, uma sensação de medo ou perigo,
uma desagradável agitação ante uma situação difícil.
Enchemos a agenda e nos agitamos exteriormente com atividades, evitando que
medos e ansiedades se tornem conscientes. O ativismo é uma resposta inadequada
à agonia existencial que nos assola. Ainda que nossas ansiedades se manifestam
em meio às múltiplas narrativas oferecidas para aplacar os medos, percebemos
que os questionamentos essenciais do coração humano permanecem os mesmos
através das gerações.
Nossa trajetória é uma busca de retorno ao vínculo
e à conexão, à “mais funda comunhão”, ao caminho que auxilie nosso desamparado
coração ao reencontro com Deus e com o próximo. Somos seres feitos para
relações de pertencimento e confiança, mas em vez disso vivenciamos ruptura e
desvinculação.
Quando nos encontramos em meio à angústia, a busca
por uma vida mais equilibrada e em oração podem influenciar de maneira
relevante o cuidado com o coração. A reconciliação com o Criador e o
relacionamento diário com Ele nos acalentam o coração e nos permitem descansar
em fé e esperança, mesmo enquanto atravessamos vales de opressão, desesperança
e angústia.
Em meio às demandas, às múltiplas possibilidades
oferecidas ou à falta opressora de perspectivas, aos estímulos tecnológicos e
às solicitações constantes, somos relembrados que podemos nos desvencilhar das
tentações do controle, do poder, da solidão e da desintegração.
Desejamos caminhar na direção de uma vida de mais
integração de sentimentos e emoções, frutífera e alicerçada no cuidado do Pai,
que nos deu origem e nos promete companhia, destino e amparo.
Davi Chang Ribeiro Lin - psicólogo e doutor em teologia e pastor na Comunidade Evangélica do Castelo em Belo Horizonte.
Karen Bomilcar -
psicóloga especializada em clínica hospitalar, mestre em Teologia e Estudos
Interdisciplinares pelo Regent College, no Canadá.
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