Em países desenvolvidos, como a Alemanha, fitoterápicos compõem 50% do consumo de medicamentos
O COVID trouxe novas reflexões sobre a saúde: a
imunidade entrou na pauta e obrigou as pessoas a mudarem seus hábitos
alimentares e físicos. Uma possibilidade que ressurge é a prevenção de doenças
por meio da medicina tradicional utilizando medicamentos fitoterápicos.
No Brasil, apesar da existência da cultura indígena e da maior biodiversidade
do mundo, apenas 1,5% desse tipo de medicamento é consumido enquanto países
como a Alemanha consomem 50%. Geralmente esse tipo de substância age na
prevenção e complementa a ação de outros medicamentos sintéticos.
Atualmente, o Brasil importa
os princípios ativos desses fitoterápicos, o que os torna caros e pouco
acessíveis à maior parte da população. Dos 1.700 fitoterápicos vendidos em
território nacional, apenas 300 são brasileiros registrados na ANVISA, os
outros 1.400 são importados.
Norberto Prestes,
Presidente Executivo da ABIQUIFI (Associação Brasileira das
Indústrias de Insumos Farmacêuticos), explica sobre a importância da fabricação
de insumos farmacêuticos e como isso pode ajudar no mercado nacional de
fitoterápicos:“Diante desse cenário, se faz necessária a retomada da fabricação de
insumos farmacêuticos no Brasil e, inicialmente, focar nas cadeias completas
aqui existentes. As que mais se destacam atualmente são: os insumos de origem
animal e vegetal. É a partir dessa oportunidade que destacamos o potencial dos
insumos vegetais como uma opção viável para o desenvolvimento de cadeias
produtivas no Brasil com impactos econômicos e sociais.”
O interesse por plantas medicinais vem crescendo a
cada ano no mundo todo, sendo o valor potencial das plantas medicinais
reconhecido pela Organização Mundial de Saúde - OMS. O
Brasil, possuidor de uma das mais ricas floras do mundo, seja em número de
espécies ou em quantidade de indivíduos, associada à uma rica diversidade
étnica e cultural, possui uma grande vantagem e oportunidade de desenvolvimento
desta frente com a população. No entanto, mais do que qualquer outro país, o
Brasil vem sentindo a necessidade de buscar soluções próprias para o
desenvolvimento de tecnologia farmacêutica nacional a partir das plantas
medicinais.
Por conta da demanda para medicamentos à base de
plantas medicinais nos serviços públicos de saúde, há alguns anos diversos
municípios buscaram implementar seu uso no sistema de saúde em 2006, quando
criaram a Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos, que
constitui parte essencial das políticas públicas de saúde, meio ambiente,
desenvolvimento econômico e social como um dos elementos fundamentais de
transversalidade na implementação de ações capazes de promover melhorias na
qualidade de vida da população brasileira.
Esta política tem como objetivo estabelecer as
diretrizes para a atuação do governo na área de plantas medicinais e
medicamentos fitoterápicos como forma de aproveitar este recurso terapêutico a
ser regularmente utilizado no Sistema Único de Saúde, além de ser
uma maneira de garantir à população brasileira o acesso seguro e o uso racional
de plantas medicinais e fitoterápicos, promovendo o uso sustentável da
biodiversidade, o desenvolvimento da cadeia produtiva e da indústria nacional,
ampliando as opções terapêuticas aos usuários, com garantia de acesso,
segurança, eficácia e qualidade.
Neste sentido, compreende-se que o Brasil, com seu
amplo patrimônio genético e sua diversidade cultural, tem em mãos a
oportunidade para estabelecer um modelo de desenvolvimento próprio e soberano
na área de saúde e uso de plantas medicinais e medicamentos fitoterápicos.
Desenvolvimento que prima pelo uso sustentável dos componentes da biodiversidade
e respeita os princípios éticos e compromissos internacionais assumidos, e
assim, promover a geração de riquezas com inclusão social.
Outro fator de grande relevância para o
desenvolvimento do setor é o fato de o Brasil possuir 4,8 milhões de
estabelecimentos agropecuários e, desse total, mais de 4,1 milhões (85,1%) são
de agricultores familiares, que respondem pela maior parte dos empregos no meio
rural e por grande parte dos alimentos produzidos diariamente. A agricultura
familiar representa mais de dois terços dos postos de trabalho no campo. De um total
de 17,3 milhões de trabalhadores ocupados na agricultura, mais de 13 milhões
trabalham em regime familiar.
“Há diversas cadeias,
principalmente as de abastecimento de plantas medicinais, que podem ser
trabalhadas utilizando-se a força e o potencial da agricultura familiar. São
parcerias específicas, com base em contratos de longo prazo, transparentes,
éticos e de comércio justo, que possibilitam o desenvolvimento mútuo do
produtor rural e da indústria farmacêutica” – explica Norberto.
Os impactos positivos de uma parceria para
agricultura familiar são muitos e incluem a produção de um fitoterápico de
qualidade desde o campo, com rastreabilidade e preceitos de manejo orgânico,
com garantia de abastecimento para a indústria. “As diretrizes das parcerias,
além dos acordos comerciais, levam em conta critérios de conservação,
desenvolvimento local e econômico, gerando impactos positivos na valorização de
produtos manejados preferencialmente de forma orgânica e remuneração compatível
com a qualidade das plantas como matérias-primas” – complementa.
“O manejo orgânico, além de mitigar o risco de
exposição à substâncias perigosas da família que atua no cultivo, propicia a
produção de um ingrediente fitoterápico livre de agrotóxicos e em conformidade
com as instruções normativas de qualidade de insumos farmacêuticos
regulamentadas no Brasil pela Anvisa” –
finaliza.
A ampliação das opções terapêuticas ofertadas aos
usuários do Sistema Único de Saúde, com garantia de acesso a plantas
medicinais, fitoterápicos e serviços relacionados à fitoterapia, com segurança,
eficácia e qualidade, na perspectiva da integralidade da atenção à saúde, é uma
importante estratégia com vistas à melhoria da atenção à saúde da população e à
inclusão social.
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