Para especialistas, termo “flurona” é inadequado e a presença dos dois vírus não está ligada a sintomas mais graves
O cenário da pandemia nos últimos dias mudou rapidamente com o
surgimento da variante ômicron e com os surtos de influenza fora de época em alguns
estados brasileiros. Ainda há muitas dúvidas e confusões em relação ao que
esperar dessas duas doenças, mas os médicos infectologistas do Hospital
Brasília e do Exame Imagem e Laboratório tiram as principais dúvidas abaixo.
Segundo eles, o termo “flurona” usado para definir a detecção dos dois vírus em
um paciente é incorreto e não deve ser usado. Além disso, as medidas de
proteção que já conhecemos devem ser reforçadas.
“O cenário atual da pandemia, com a variante ômicron se tornando
predominante e com número recorde de infectados em alguns países, alerta para a
necessidade de manter as medidas sanitárias que conhecemos bem: o uso de
máscaras, higienização das mãos, evitar aglomerações e ambientes fechados”,
conta o infectologista do Hospital Brasília/Dasa André Bon. “As mesmas medidas
são importantes para conter a influenza, já que estamos vendo surtos fora de
época em estados como Rio de Janeiro e São Paulo, e aumento de casos no
Distrito Federal”, continua.
Gripe x Covid
Tanto a covid-19 quanto a influenza possuem sintomas muito parecidos,
como febre, coriza, dor de cabeça e dor no corpo. Dessa forma, não é possível
diferenciar as duas apenas pelo quadro do paciente, e é necessário realizar
exames para confirmar o diagnóstico. Os grupos de risco também são muito
semelhantes, com uma exceção: crianças abaixo de 5 anos não costumam apresentar
casos graves da covid, mas possuem grande risco com a gripe.
“A variante ômicron, apesar de mais infecciosa, tem demonstrado muitos
casos leves graças principalmente à vacinação em larga escala. Isso dificulta
ainda mais a diferenciação entre as duas doenças, mas existem exames para
isso”, diz o infectologista do Exame Imagem e Laboratório/Dasa José David
Urbaez. “Identificar qual vírus está afetando o paciente é muito importante
porque o tratamento para os dois é diferente. Medicamentos para reduzir
sintomas como a febre e a dor são indicados para ambas as doenças, mas para a
influenza existem medicações específicas, indicadas para o grupo de risco, e
que reduzem bastante as chances de casos graves. Na covid, as medicações
indicadas para casos graves, como corticoides, são usadas apenas após a
internação”, continua.
Quando ir ao hospital?
Uma grande dúvida das pessoas que apresentam sintomas respiratórios é se
devem ou não buscar atendimento hospitalar, principalmente pela alta procura
das emergências nas últimas semanas. Segundo os especialistas, pessoas do grupo
de risco para as duas doenças devem buscar atendimento o quanto antes para
iniciar o tratamento e diminuir as chances de complicação. São elas: idosos,
gestantes, pessoas com comorbidades e crianças no caso da gripe. Para os demais
casos, o ideal é monitorar a situação em casa, buscando o atendimento online se
possível, e fazer o tratamento sintomático com antitérmico e com acompanhamento
da oximetria – que pode alertar sobre o agravamento do comprometimento
pulmonar. A recomendação para pacientes de menor risco é que só busquem as
unidades caso tenham febre por mais de 4 ou 5 dias e em caso de piora
respiratória, dos parâmetros de oximetria e do estado geral.
Coinfecção de influenza e covid
Outra preocupação atual é a detecção em alguns pacientes de ambos os
vírus ao mesmo tempo, o que vem sendo chamado popularmente de flurona. “Esse
termo é muito ruim e não deve ser utilizado, porque dá a entender que é uma
nova doença”, conta David Urbaez. “Não é o caso, é apenas uma coinfecção por
dois vírus respiratórios, o que não é tão raro. Vemos isso com muita frequência
entre vírus. Além disso, o que temos até agora é que essa infecção mista
mostrada nos exames não significa uma doença mais grave, ou seja, não sabemos
se ambos os vírus estão causando doenças ou se somente um infecta o paciente
enquanto o outro está apenas presente. Isso vai ser cada vez mais comum na
medida em que há a circulação tanto da influenza quanto do Sars-Cov-2”,
finaliza.
Para os especialistas Dasa, vale sempre lembrar os aprendizados dos
últimos quase dois anos de pandemia: o uso de máscara (de boa qualidade,
preferencialmente a cirúrgica e em espaços fechados a PFF2/N95), a lavagem de
mãos e evitar neste momento as festas e grandes eventos continuam sendo as
formas mais eficientes de prevenir doenças.
Dasa
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