Pesquisa da
Fundação MT auxilia produtores a avaliar as possibilidades de utilizar a
reserva de nutrientes do solo e, dessa forma, economizar com a aplicação desses
insumos na safra 2021/2022
Um dos principais desafios do agricultor brasileiro
na safra 2021/22 foi o de adequar o orçamento diante dos expressivos reajustes
nos preços médios dos insumos. Os fertilizantes, especificamente, são os que
mais estão impactando economicamente esta safra, com formulações chegando a
100% de aumento. Infelizmente, as previsões indicam que a safra 2022/2023
continuará sendo afetada pela alta desses produtos.
Uma das alternativas possíveis para o agricultor
mitigar essa situação, pensando-se no equilíbrio financeiro sem prejuízos à
produtividade, diz respeito a redução da adubação. A área de solos, nutrição e
sistemas de produção da Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato
Grosso (Fundação MT), realiza há inúmeras safras pesquisas que demonstram que
esse ajuste nem sempre desfavorece o solo e os resultados da lavoura, mas para
isso há critérios a serem observados.
Felipe Bertol, mestre em Ciência do Solo e pesquisador
de Solos & Sistemas de Produção da instituição, diz que o ponto de partida
é ter uma assistência técnica de qualidade e basear todas as decisões no
histórico de produtividade das culturas envolvidas no sistema produtivo da
área, monitoramento dos teores dos nutrientes através de análise de solo de
qualidade, aspectos físicos do solo (textura, densidade, infiltração de água) e
boa distribuição de fertilizantes. “É preciso uma análise de solo e
caracterização ambiental muito boa e, a partir daí, temos um mundo a explorar”,
define.
Poupança de outras safras
Uma orientação genérica para a decisão de reduzir a
adubação, segundo o pesquisador, é a lógica da poupança. “Se na safra passada o
produtor fez o manejo da adubação com a perspectiva de produzir mais, mas em
razão das condições climáticas ele produziu menos, então nesta safra é possível
aproveitar o que não foi exportado ano passado. Mas tem que avaliar qual a
dinâmica do nutriente a ser poupado, o papel dele na planta e as
características do solo, e estando com sobras, a redução pode ser feita com
tranquilidade, como é o caso de nutrientes como fósforo e potássio em solos de
fertilidade construída”, explica Felipe.
Por outro lado, se o solo é frágil, com textura
mais arenosa, é necessário ser ainda mais criterioso com a redução, mesmo que
seja uma área com investimento na adubação em toda safra. “É possível reduzir
sim, sobretudo em sistemas produtivos com acidez do solo corrigida, ciclagem de
nutrientes através de plantas de cobertura na entressafra e boa cobertura
vegetal ao longo do ano. Ou seja, é necessário ter maior critério para a
redução da adubação, visto a fragilidade do sistema. Isto somente é possível
com manejo do sistema bem feito, histórico de cultivos e amostragem de solo de
qualidade”, destaca Bertol. Em todo o país, inclusive em Mato Grosso, a maioria
das regiões agrícolas apresentam solos mistos a arenosos, muito comum em
regiões de baixadas, próximos a rios e matas.
Gráfico de disponibilidade de nutriente no solo e a
estratégia de adubação a ser utilizada. C - adubação de construção, M -
adubação de manutenção e R - adubação de reposição. Logo quanto maior os teores
dos nutrientes no solo menor o rendimento relativo - ou probabilidade de
respostas.
Impactos na safra seguinte
Se a poupança da adubação existe no solo, feita em
safras anteriores quando os preços dos fertilizantes eram relativamente mais
baixos, o agricultor também pode optar por reduzir a zero a adubação nas
próximas safras, ou ainda fazer a manutenção apenas do que é exportado pela
cultura em cada ciclo. No entanto, o pesquisador orienta que o monitoramento
dos teores no solo e na planta é essencial, sendo essa uma opção e não uma
prática contínua.
Ele acrescenta que o impacto na produtividade pode
acontecer futuramente, caso o agricultor não invista no momento certo para
elevar os nutrientes novamente. “Num ano como esse, em solos argilosos de alto teto
produtivo, se o agricultor tem o histórico, se fez tudo certo, manteve os
nutrientes em níveis altos, então possivelmente ele pode trabalhar com redução
da adubação, sem impactar na produtividade, vai ter retorno econômico igual ao
que já teve, perante a resposta da redução, claro. Mas, deve-se monitorar , não
pode normalizar essa situação. E, futuramente, quando a situação econômica
estabilizar, deve-se voltar a reinvestir na “poupança”, esclarece.
Respostas do solo
Para o agricultor ter clareza se reduz ou tira a
adubação, a conta deve ser feita a partir dos níveis de fertilidade do solo,
pondera Bertol. “Os níveis baixos, médios, altos e muito altos no solo
determinam acurva de resposta e probabilidade de retorno. Um solo que apresenta
nível baixo de fertilidade indica que a disponibilidade de nutriente para a
planta é baixa, logo se ocorrer o aporte de nutriente via fertilização a
probabilidade de resposta produtiva é alta,”, explica.
Já em solos com média e alta fertilidade, a probabilidade de resposta é menor, sendo a probabilidade de resposta baixa ou quase nula, respectivamente. “Nesses solos podemos retirar a adubação com tranquilidade, pois já há uma segurança com a questão de reposição. Agora, em solos da classe média para baixo, pode haver problemas”, alerta.
Fundação MT: Criada em 1993, a instituição
tem um importante papel no desenvolvimento da agricultura, servindo de suporte
ao meio agrícola na missão de dar vida aos resultados através do
desenvolvimento de tecnologias aplicadas à agricultura. A sede está situada em
Rondonópolis-MT, contando com três laboratórios e casas de vegetação, um centro
de pesquisa local e outros seis Centros de Pesquisa Avançada (CAD) distribuídos
pelo Estado nos municípios de Sorriso, Nova Mutum, Itiquira, Primavera do Leste
e Serra da Petrovina. Saiba mais em www.fundacaomt.com.br.
Nenhum comentário:
Postar um comentário