Você sabia que as mulheres representam apenas 20% do total de profissionais na área de TI no Brasil? Apesar disso, dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), apontam um crescimento de 60% na representatividade feminina no setor nos últimos cinco anos - passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil.
Pensando nesse cenário, cheguei à
conclusão de que estamos imersos em um emaranhado histórico de conquista de
espaço e, ao mesmo tempo, enfrentando ainda inúmeros desafios, os quais citarei
os principais abaixo:
Diversidade - Boa parte dos avanços que temos acompanhado no mercado deve-se ao
holofote que o tema tem ganhado. Felizmente, a diversidade tem sido uma pauta
recorrente nas empresas, inclusive com a criação de vagas afirmativas, que
estabelecem a preferência por pessoas negras, mulheres, PCD (pessoas com
deficiência), pessoas LGBTQI+, entre outros. Essa é uma importante forma de
minimizar e combater o preconceito estrutural dos processos de recrutamento e
seleção.
Cabe salientar ainda que o RH – tanto interno quanto o realizado por consultorias – tem trazido
aspectos bastante relevantes para a ampliação do quadro feminino na área. Em
muitos processos seletivos, os avanços vão na direção de empresas atentas aos
diálogos gerados pelos prejuízos dos 'vieses inconscientes', ou seja, muitos
candidatos já não aceitam mais perguntas ligadas à estado civil, se a mulher
tem filhos ou se pretende engravidar. Inclusive, tem sido cada vez mais comum
os casos de mulheres que são contratadas ou mesmo promovidas durante uma
gestação. Isso elimina importantes entraves que prejudicavam a presença e o
crescimento delas nas empresas.
Flexibilidade e inclusão - Além disso, o trabalho remoto estabelecido massivamente por muitas
empresas durante a pandemia, permitiu que mais mulheres, especialmente as que
são donas de casa e/ ou mães e/ou estudam, tivessem horários mais flexíveis,
permitindo o cumprimento de suas múltiplas jornadas.
Soma-se a isso o fato que muitas
estão se sentindo mais à vontade para compartilhar suas conquistas e desafios
por meio de comunidades dedicadas exclusivamente ao tema. Nesse contexto, temos
visto um crescimento das mentorias ou programas de capacitação profissional de
mulheres com mais experiência no ramo ajudando e inspirando outras que queiram
iniciar em carreiras de tecnologia e, juntas, elas vão conquistando e
consolidando o seu espaço no mercado.
Também vejo surgir muitos projetos,
da própria iniciativa privada, para proporcionar cursos gratuitos que
contribuam para a inclusão feminina no mercado de trabalho de tecnologia, seja
para iniciantes no mercado, seja para mulheres que queiram mudar de carreira,
de diversas idades e perfis.
Esse sentimento de pertencimento e
sororidade – termo que ficou conhecido no mercado como sendo a união de
mulheres que compartilham das mesmas dores e propósitos - tem surtido efeito no
empoderamento delas.
Há também outro ponto importante a
destacar aqui, que é o papel das empresas em incentivar a iniciação do gênero
já nas vagas de base. É fundamental a abertura de oportunidades juniores ou em
nível ainda mais inicial para que elas possam conquistar seu espaço dentro das
cadeiras de TI, de forma gradual e contínua.
Formação - Contudo, o maior desafio enfrentado está no processo de formação.
Ainda na educação infantil, as meninas raramente são incentivadas nas matérias
de exatas, como matemática e física, por exemplo, que são disciplinas
fundamentais para quem trabalha com TI. É preciso deixar no passado a ideia de
que essas atividades são masculinas e estimulá-las desde muito cedo a
experimentá-las com menos resistência e objeção.
Quando conseguem vencer essa barreira
e se capacitar tecnicamente para a área, as mulheres podem até dispor de certa
vantagem competitiva frente aos homens. Elas costumam ser bastante detalhistas,
conseguindo enxergar o todo – sem perder a visão das partes. Há estudos que
mostram que o olhar feminino é 360º, sendo capaz de ser multitarefa, mas
sensível e técnico/estratégico ao mesmo tempo. Isso faz com que, por mais que
encontrem barreiras iniciais, uma vez que entram nessa carreira, elas tendem a
deslanchar.
Preconceito - Apesar dos avanços, mais de 80% das mulheres que trabalham com
tecnologia afirmam já terem vivenciado preconceito de gênero, segundo uma
pesquisa realizada pela Yoctoo em 2021. De acordo com 63% das entrevistadas, é
nas empresas onde o preconceito mais acontece. Para elas, o maior desafio é ter
que provar sua própria competência técnica o tempo todo (82%). Na sequência,
aparece a dificuldade em serem respeitadas por pares, superiores e subordinados
do gênero masculino (51%).
Boa parte desse preconceito é
percebido pela falta de equidade salarial. Homens ainda ganham mais que as
mulheres, mesmo quando exercem a mesma função. Em consequência de toda essa
jornada desafiadora e cheia de entraves, elas também costumam ocupar menos
cargos na liderança.
Por fim, embora a área de tecnologia
reserve muitos desafios às mulheres, é inegável que aquelas que conseguem
superá-los não se arrependem de suas batalhas. Elas são apaixonadas pela
profissão! É preciso deixar o medo de lado e 'arregaçar as mangas'. Não se pode
permitir o abuso ou desvalorização da mulher em nenhum ambiente e/ou profissão.
Se a sua empresa não a valoriza,
denuncie e procure meios de estar em um ambiente propício para seu
desenvolvimento profissional. Se necessário, mude de empresa. Vá em busca de
seus sonhos e não permita que ninguém determine o que você deve ou não fazer ou
se tem ou não aptidão para determinada área. Afinal, respondendo a minha
própria pergunta inicial: lugar de mulher é onde ela quiser!
Thássia Gonçalves - headhunter na Yoctoo, consultoria boutique de recrutamento e seleção especializada em TI e digital.
Yoctoo
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