Números oficiais
analisados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) mostram que a
situação afetou sobretudo a população que tem mais de 60 anos. O total de internações
em decorrência da doença também caiu 31%, segundo informações do Sistema Único
de Saúde (SUS).
Dados apurados pela Sociedade
Brasileira de Dermatologia (SBD) apontam uma realidade preocupante para os
esforços de prevenção e combate ao câncer de pele no País. Em São Paulo,
durante o ano de 2020, momento mais crítico da pandemia de covid-19, foram
realizados 4.115 diagnósticos a menos dessa doença do que em 2019. Isso
significa que o número absoluto de casos foi 23% menor do que no período
anterior ao avanço do coronavírus.
Análise nacional indica que, de forma
geral, os serviços de combate e prevenção ao câncer de pele foram
comprometidos. Ao longo de 2020, estima-se que 17.227 diagnósticos deixaram de
ser realizados em todo o país, o que significa uma queda de 24,7% em comparação
a 2019.
Em linhas gerais, isso significa que
milhares de casos de câncer de pele potencialmente devem iniciar seus
tratamentos com atraso ou ainda nem foram descobertos pelos médicos, o que tem
impacto direto nas chances de recuperação e cura dos pacientes. Em 2021, nos
seis primeiros meses do ano (de janeiro a junho), percebe-se um movimento de
retomada gradual do volume de atendimentos, contudo os números ainda são
inferiores aos registrados na etapa pré-pandemia.
A divulgação desses números coincide
com o início da campanha do Dezembro Laranja, organizada pelo SBD, que tem como
objetivo conscientizar a população sobre os riscos do câncer de pele. Além de
estimular a incorporação dos hábitos de fotoproteção ao cotidiano das pessoas,
a iniciativa também orienta a busca de orientação dos médicos dermatologistas
em caso do surgimento de sinais e sintomas que merecem ser investigados.
Contaminação - Na avaliação dos especialistas da SBD,
a retração do número de diagnósticos em 2020 tem relação com a covid-19. Por
conta do receio de contaminação pelo coronavírus, suspeitando que ele estaria
mais presente nos ambientes ambulatoriais ou hospitalares, milhares de pessoas
postergaram seus exames e consultas. Além disso, inúmeros serviços de saúde
reorientaram suas agendas, restringindo o acesso de pacientes ou mesmo
limitando seus atendimentos aos casos de covid-19.
De acordo com os números analisados
pela SBD, com a consultoria da 360° CI, em 2020 foram realizados 52.527
diagnósticos para melanoma maligno da pele e outras neoplasias malignas da pele
em todo o país. Este número é 24,7% menor do que os 69.754 notificados em 2019.
Os piores índices foram observados em abril e maio do ano passado (meses
imediatamente após a decretação de calamidade pública no País) com uma queda de
-51,7% e -57%, respectivamente, em termos de detecção.
Contudo, deve-se ressaltar que do ponto
de vista proporcional a maioria dos seguimentos apresentou comportamento semelhante,
com destaques para os grupos de 0 a 19 anos (-30%); 30 a 34 anos (-28,8%); e 75
a 79 anos (-27,6%). Separados por sexo, o número de diagnósticos sofreu queda
de 26% entre as mulheres e de 23% entre os homens.
No entanto, a SBD ressalta que os
números podem não expressar a realidade epidemiológica no País, especialmente
nas regiões Norte e Nordeste. Isso ocorre devido aos problemas de atualização
das bases de dados existentes, o que sugere um quadro de subnotificação.
Em 2021, os números (dados/índices)
ainda não superaram os anteriores à pandemia, levando-se em conta sobretudo os
registros dos meses de abril, maio e julho. No confronto com o que foi
realizado em 2019, os números ainda estão 24% menores em termos globais.
Consequências - Para ampliar a identificação das
consequências deixadas pela pandemia no atendimento hospitalar aos pacientes
com câncer de pele, o trabalho desenvolvido pela SBD coletou ainda números de
internações relacionadas a esse tipo de neoplasia no SUS. Também foram
verificados os números de óbitos. Os dados analisados foram extraídos do Painel
Oncologia Brasil, do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) e do Sistema
de Informações Hospitalares (SIH/SUS) - todos do Ministério da Saúde.
Em relação às internações hospitalares
para tratamento do câncer de pele (melanoma) e outras neoplasias malignas,
observou-se uma queda de 26% na comparação entre 2020 e 2019. As 57.247
internações registradas em 2019, caíram para 42,3 mil no ano passado. Em 2021,
os índices ainda não superaram o resultado anterior à pandemia. No confronto
com o ano passado, os números estão próximos, porém ainda ficam 27% menores do
que os de antes da chegada da covid-19 ao Brasil.
Nesse cenário, os piores desempenhos
proporcionais foram observados no Piauí (-70,8%), Paraíba (-47,6%) e Pernambuco
(-37,3%). Em termos absolutos, as maiores quedas aconteceram em São Paulo
(-4.532), Paraná (-1.668), Rio Grande do Sul (-1.373) e Minas Gerais (-1.073).
Na contramão, Sergipe e Tocantins são os únicos estados que elevaram os números
de internações no período analisado, com um aumento de 61,3% e 21%,
respectivamente.
Com respeito aos indicadores de mortalidade, percebe-se que não houve alteração significativa nos períodos avaliados. Apesar das quedas significativas nos totais de diagnósticos de novos casos de câncer de pele e mesmo de internações para seu tratamento, o número de mortes atribuído a essa doença apresentou apenas uma oscilação de 2% para menos, na comparação de 2020 (4.481 registros) e 2019 (4.594). Ao longo de 12 anos (desde 2008), calcula-se que 46.534 faleceram por conta desse problema de saúde.
Fonte: Ministério da Saúde, Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM). Elaboração: SBD/360°CIDezembro Laranja - A revelação feita pela SBD vem
embalada pela campanha nacional de prevenção ao câncer de pele, organizada
desde 2015 pela entidade. Em 2021, com o slogan "Adicione mais fator de
proteção ao seu verão", os dermatologistas chamam a atenção dos
brasileiros sobre a necessidade de conjugar a prevenção à covid-19 com os
cuidados na prevenção, diagnostico e tratamento precoces deste tipo de neoplasia.
"É preciso fazer tudo para deixar
o coronavírus bem longe, mas não devemos esquecer que além dele é preciso
cuidar de outros aspectos de nossa saúde, como a prevenção ao câncer de pele.
Por isso, todos devem incorporar em sua rotina as medidas de fotoproteção e
estarem atentos à retomada de consultas, exames e cirurgias nas redes pública e
privada. Claro, que sempre observando as orientações das autoridades
sanitárias", concluiu o presidente da Sociedade Brasileira de
Dermatologia, Mauro Enokihara.
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