Conhecida como Terapia EMDR, a nova abordagem psicoterapêutica desbloqueia memórias dolorosas por meio da estimulação bilateral do cérebro, ajudando no tratamento de traumas psicológicos e depressão; especialista esclarece principais dúvidas sobre o assunto
Com a chegada da pandemia, ocorreu um aumento de diagnósticos de depressão no Brasil. A prova disso é um levantamento realizado pela Universidade de São Paulo (USP) em onze países em que revela o Brasil como líder nos casos de depressão e ansiedade durante a pandemia. Mesmo antes da Covid-19, já era possível notar um aumento nos casos, segundo uma pesquisa Nacional de Saúde (PNS) 2019, do IBGE, 16,3 milhões de pessoas com mais de 18 anos sofrem da doença, um aumento de 34,2%, de 2013 para 2019.
De acordo com Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, a depressão não tem uma causa definida. Fatores genéticos têm grande influência para uma pessoa desenvolver essa disfunção, mas eles não são decisivos para desencadeá-la. “Pessoas com predisposição podem nunca desenvolver a doença, enquanto outras podem sofrer com ela, ainda que não tenham histórico na família”, comenta.
Ela ainda explica que durante a vida as pessoas também podem sofrer traumas que afetam o comportamento - seja um acidente, doença, perda de uma pessoa próxima, entre outros problemas. “Nesses casos, assim como a depressão, a terapia é super bem-vinda”, completa Vanessa.
Abaixo, ela esclarece as principais dúvidas sobre o
assunto e explica mais sobre a abordagem EMDR:
Como funciona a Terapia EMDR?
Atualmente, estudos científicos e a experiência clínica apontam resultados positivos para outros transtornos como depressão, ansiedade, dor crônica, luto, dependência química, transtorno bipolar e doenças psicossomáticas, dentre outros. “O EMDR busca identificar o trauma e entender como ele está afetando a vida do indivíduo e isso ocorre porque estimula o cérebro a processar as memórias perturbadoras, trazendo as imagens, emoções, sensações corporais e crenças negativas associadas, ou seja, é uma terapia de reprocessamento. O passado fica no passado e a lembrança passa a não mais desencadear o mal-estar que despertava antes. Assim, o paciente consegue a força e o positivismo necessários para seguir em frente”, salienta a psicóloga.
“Gosto também de técnicas de controle do estresse, como respiração e relaxamento, que também são importantes. Os exercícios que reduzem e controlam a ansiedade (por exemplo a meditação) podem aliviar os sintomas, além de contribuir para a autorregulação do paciente”, complementa.
A depressão pode ser desenvolvida em qualquer época da vida? E os traumas psicológicos?
“A depressão pode se desenvolver desde muito cedo, ainda na infância. Ela também pode ser desencadeada pelos chamados gatilhos - fatores específicos, como um trauma, pelo abuso de drogas ou alguma situação que ofereça um grande incômodo para a pessoa. Alguns sintomas estão presentes no quadro de depressão: tristeza recorrente, falta de interesse ou prazer diminuído em atividades de rotina, problemas com o sono ou a alimentação, ganho ou perda de peso não intencional, agitação ou apatia, fadiga ou falta de energia,dificuldade de concentração; e/ou impulsos suicidas ou de automutilação”, conta.
A especialista explica que, já no caso dos traumas
psicológicos, eles se formam quando a pessoa passa por uma experiência
negativa, cujas lembranças se transformam em angústia e dor. “Mesmo com o
passar do tempo, as sensações experimentadas ficam retidas na mente e, diante
de qualquer sinal que se relacione com esse fato traumático, a pessoa revive a
angústia e o sofrimento, como se aquilo estivesse acontecendo novamente. Se
isso não for tratado, acaba bloqueando a vida da pessoa em várias esferas da
sua vida”, complementa.
A pandemia pode agravar o aparecimento de depressão?
“Com certeza, pode sim. Estamos vivendo experiências
traumáticas todos os dias durante a pandemia. Essa mudança drástica e repentina
de nossas vidas provoca muitas emoções e sentimentos negativos nas pessoas. O
isolamento, a perda de emprego, o adoecimento, a morte das pessoas, acabam
gerando muitas feridas emocionais nos indivíduos, cultivando sentimentos de
tristeza, medo, angústia e impotência”, conta.
Muitas pessoas são afetadas de maneira duradoura quando
algo terrível acontece. Em algumas, os efeitos são tão persistentes e graves
que são debilitantes e representam um transtorno. Via de regra, os eventos mais
propensos a causar TEPT são aqueles que invocam sentimentos de medo, desamparo
ou horror. Se esses eventos de alguma forma não forem elaborados, podem ficar
bloqueados no cérebro, desencadeando o trauma.
Como prosseguir em casos de depressão?
“A melhor medida a ser tomada é buscar uma ajuda
psicológica para entender o que está ocorrendo e tratar da forma mais adequada.
Muitas vezes, a pessoa não tem idéia do que ela tem, se está diante de um
trauma ou se está passando por um quadro de depressão. Por isso a importância
de ser feita uma boa avaliação e um tratamento especializado para cada
situação”, enfatiza.
A psicoterapia é um bom método para superar um trauma?
“A psicoterapia é uma ótima ferramenta para superar o
trauma e também tratar algumas doenças como a depressão e outros transtornos. O
psicólogo possui ferramentas que irão auxiliar no processo de cura, por meio de
uma série de sessões particulares, onde ele usará técnicas e abordagens
efetivas no tratamento. Esse profissional é habilitado e tem instrumentos que
são muito valiosos para enfrentar as situações de crise”, conta.
Existem atitudes que ajudam no tratamento junto à psicoterapia ?
“Algumas atitudes que ajudam muito no tratamento, que
aliadas à psicoterapia, são bastante efetivas, tais como: dar risada, cercar-se
de amigos, praticar meditação, comer alimentos saudáveis, fazer atividade
física, dormir bem, reconhecer suas conquistas, entre outros. E, por fim, falar
do problema também é uma estratégia que permite uma recuperação, ou seja, falar
dos sentimentos que ele provoca, de causas e consequências. Tudo isso para
poder virar página e avançar”, finaliza.
Vanessa Gebrim - especialista e pós-graduada pela PUC-SP
com mais de 20 anos de experiência clínica. Tem certificação internacional pelo
EMDR Institute. É terapeuta certificada em Brainspotting pelo Institute of New
York. É ainda especialista em Técnicas que otimizam o tratamento como Play of
Life, Barras de Access, orientadora vocacional e consteladora familiar.
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