Em meio a todos os transtornos causados pela pandemia, inovar se tornou a palavra de ordem para empresas e até profissionais autônomos. No susto, do dia para a noite, rotinas foram totalmente alteradas e pessoas de todo o mundo se viram obrigadas a se reinventar para sobreviver. Por mais difícil que tenha sido nas primeiras semanas, hoje, já começam a surgir relatos que comprovam o quanto as coisas mudaram – e muitas para melhor!
Existe
um fenômeno na biologia que explica esse efeito, a hormese. Observado pelo
toxicologista alemão Hugo Paul Friedrich, em 1888, o fenômeno revelava que
pequenas doses de veneno estimulavam o crescimento do fermento. Por outro lado,
doses maiores causavam prejuízo. De lá para cá, muitas indústrias, como a de
pesticidas, fertilizantes e até medicamentos, se valeram dessa lógica. Não por
acaso, existe um senso comum de que o que diferencia o veneno do remédio é a
dose. Da mesma forma, podemos concluir que, aquilo que não mata, fortalece.
E
o que isso tem a ver com o momento atual? Tudo! Excluindo, obviamente, a
tragédia humanitária que a Covid-19 vem causando em todo o mundo, podemos
observar que muitas pessoas e empresas usaram o momento ruim para criar
oportunidades. Estão surgindo várias reportagens com histórias de brasileiros
que usaram o auxílio emergencial para abrir seus próprios negócios. Ou seja, a
água batendo no nariz fez muita gente se mexer!
Isso
me lembra o conto da vaca no penhasco. Reza a lenda que mestre e discípulo
caminhavam por uma área muito pobre, quando se depararam com uma humilde
casinha. Ali, tudo que a família tinha era uma magra vaca leiteira. Sem
hesitar, o mestre ordenou que o discípulo empurrasse a vaca no penhasco,
acabando com a única fonte de sustento da família. Relutando, o discípulo
acabou cumprindo a ordem de seu mestre. Algum tempo depois, o mesmo discípulo,
andando por aquela região avistou uma bela e confortável residência naquele
mesmo local.
Curioso
e se sentindo culpado pelo destino daqueles pobres coitados, o discípulo se
aproximou e perguntou ao novo morador sobre uma família muito simples que
morava ali. Para sua surpresa, o morador disse que eram eles mesmos, e que a
família estava estabelecida ali há muito tempo! Então, o homem lhe contou que,
em uma noite, um terrível acidente matou a única fonte de sustento da família,
a pobre vaca leiteira. Sem alternativas, eles tiveram que começar a buscar
trabalho. Descobriram suas próprias capacidades e as potencializaram,
transformando-as em fontes inesgotáveis de recursos.
Histórias
como essa não estão presentes apenas nos contos fictícios. Cada vez mais, temos
visto o quanto as crises são darwinistas, demonstrando que os que sobrevivem
não são os maiores ou melhores, mas sim os que melhor se adaptam. Mais que
isso, aqueles que são capazes de fazer o que a psicologia chama de sublimação,
que é transformar algo ruim em algo bom. No popular, costumo chamar isso de
transformar limões em caipirinhas.
No
livro “Antifrágil: coisas que se beneficiam com o caos”, o autor Nassim
Nicholas Taleb, descreve o conceito de antifragilidade. Segundo ele, embora o
termo resiliência sejam amplamente utilizado nos dias atuais, ele não é
suficiente. Taleb diz que o resiliente, resiste. O antifrágil supera e, como
diz o próprio título da obra, ele tem ainda a incrível capacidade de se
beneficiar com o caos.
O
antifrágil tem consciência de que existem fatores externos, inesperados e
incontroláveis. Ele não tenta mapear, prever, prevenir e mitigar falhas ou
crises. Ao contrário, ele encara as intempéries como algo natural e parte
integrante de qualquer processo. Portanto, quando elas acontecem, não são
motivo de pânico, estresse ou desespero. O antifrágil busca oportunidades em
meio às crises para continuar crescendo. E isso é senso de oportunidade, não de
oportunismo.
E
você, se rende aos problemas, é resiliente ou antifrágil? Desejo que a pandemia
esteja sendo uma boa alternativa para você aprender que o que não mata, pode sim
te fortalecer e fazer ainda mais forte. Aposte no seu potencial e arregace as
mangas!
Marília Cardoso - sócia-fundadora da PALAS, consultoria
pioneira na implementação da ISO 56.002, de gestão da inovação.
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