Tratamento inovador é alternativa terapêutica para doença rara e que pode levar à morte
Foi publicada hoje
no Diário Oficial da União a aprovação pela Agência Nacional de Vigilância
Sanitária (Anvisa) do registro da primeira terapia gênica no Brasil e na
América Latina para o tratamento de pacientes com até dois anos de idade com
atrofia muscular espinhal (AME), doença rara causada pela mutação do gene SMN1.
Sem o funcionamento correto desse gene, crianças com AME perdem neurônios
motores responsáveis pelas funções musculares[1].
Este é um tratamento
desenvolvido para agir na causa-raiz genética da AME, fornecendo uma cópia
funcional do gene SMN1 com uma única infusão intravenosa, modificando a
história natural da doença. "A AME é uma doença grave, que traz muitos
desafios aos bebês. Se não tratados, a forma mais grave pode tornar os
pacientes incapazes de realizar movimentos como levantar a cabeça, sentar ou
rolar e pode, inclusive, levar ao óbito precoce", explica a Dra. Vanessa
Van der Linden, médica neuropediatra do RARUS - Centro de Referência em Doenças
Raras de Pernambuco.
A AME é uma doença
neuromuscular genética rara, causada por um defeito no gene SMN1. Sem um gene
SMN1 funcional, bebês com a doença perdem os neurônios motores e,
consequentemente, as funções musculares, como respirar, engolir, falar e
andar[2]. Se não for tratada, os músculos tornam-se progressivamente mais fracos[2,3]
e, na forma mais grave da doença, pode acabar levando a problemas respiratórios
graves ou morte até os dois anos de idade em mais de 90% dos casos[4]. A AME é
a principal causa genética de mortalidade infantil[5].
É importante ressaltar
que a degeneração e a perda de neurônios motores geralmente começam logo após o
nascimento e progridem rápido, com até 95% de perda até os 6 meses de idade[6].
Por isso, é fundamental o diagnóstico precoce da doença para que o tratamento
seja o mais eficiente possível. "Com a AME, o diagnóstico precoce é
essencial para o tratamento ágil e, assim, evitar a progressão da doença",
afirma a Dra. Vanessa. "É preciso continuar também trabalhando para que a
AME entre no Teste do Pezinho, para que seja diagnosticada antes mesmo dos
primeiros indícios clínicos e para que o tratamento seja realizado com a menor
perda possível de neurônios motores, possibilitando mais qualidade de vida à
criança na sequência de sua vida", complementa.
"O registro na
Anvisa é fundamental para os pacientes. É o primeiro passo para a entrada da
terapia gênica no país e traz muita esperança para as famílias. Quem tem AME,
tem pressa. Por isso precisamos conquistar os próximos passos com velocidade,
ou seja, a incorporação e disponibilização do tratamento pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). Precisamos garantir o acesso às crianças com AME, junto com outras
políticas públicas capazes de garantir qualidade de vida para os pacientes. É
nisso que acreditamos e é para isso que trabalhamos todos os dias",
enfatiza Diovana Loriato, diretora do Instituto Nacional da Atrofia Muscular
Espinhal (Iname).
Sobre a terapia gênica
Terapia gênica é uma
modalidade inovadora[7], que poderá apoiar, principalmente, pacientes de
doenças genéticas raras[8]. Essa técnica age fornecendo o gene saudável no
paciente, visando à correção da mutação causadora de doença presentes no DNA do
paciente, com a introdução do material genético em tecidos e em células com
fins terapêuticos. Ela pode atuar simplesmente na adição de genes ativos
(porções do DNA responsáveis pela síntese de proteínas para o bom funcionamento
do organismo), ou na modificação ou supressão de genes defeituosos no código
genético, visando à produção de proteínas funcionais[7,8]. Para que a técnica
seja possível, são utilizados vetores virais recombinantes (tornando o vírus
completamente inofensivo e sem potencial patogênico) que permitem o transporte
do gene terapêutico saudável para o interior das células e dos tecidos
alvo[7-10].
"A terapia gênica
representa uma nova era na medicina. Talvez a melhor oportunidade que a ciência
pode oferecer para as doenças raras, fundamentada em mais de quatro décadas de
pesquisas científicas, durante as quais o processo foi desenvolvido, testado e
aperfeiçoado por especialistas", afirma o médico geneticista Roberto
Giugliani, Professor Titular do Departamento de Genética da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e Membro Titular da Academia Brasileira de
Ciências e da Sociedade Brasileira de Genética Médica.
"Traçando um paralelo
com grandes marcos da inventividade humana, podemos dizer que, com a terapia
gênica, está se iniciando um novo capítulo na história da medicina. Hoje, de
fato, o Brasil entra no século das terapias avançadas, inaugurando uma nova
fronteira da medicina, da biologia e da genética", complementa.
Referências:
1. Site Novartis
global, seção press releases. Disponível em: http:// www.novartis.com/news/media-releases/avexis-receives-fda-approval-zolgensma-first-and-only-gene-therapy-pediatric-patients-spinal-
-muscular-atrophy-sma.Acesso em out 2019.
2. Anderton RS and
Mastaglia FL. Expert Rev Neurother. 2015;15(8):895-908.
3. National
Organization for Rare Disorders (NORD). Spinal Muscular Atrophy. http://rarediseases.org/rarediseases/spinal-muscular-atrophy/.
Accessed October 9, 2018.
4. Finkel RS, et al.
Neurology. 2014;83(9):810-7.
5. Farrar MA, et al.
Ann Neurol. 2017;81(3):355-368.
6. Anderton RS and
Mastaglia FL. Advances and challenges in developing a therapy for spinal
muscular atrophy. Expert Rev Neurother. 2015;15(8):895-908.
7. High KA, et al. N
Engl J Med. 2019 Aug 1;381(5):455-464.
8. Goswami R, et al.
Front Oncol. 2019; 9: 297.
9. Hudry E, et al.
Neuron. 2019 Mar 6;101(5):839-862
10.
Naso MF, et al. BioDrugs. 2017; 31(4): 317-334.
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