Hoje começa a Semana Mundial do Aleitamento Materno, data que foi criada pela Organização Mundial da Saúde e pala Unicef para traçar objetivos para reduzir a mortalidade infantil devido à falta de amamentação. Embora seja amplamente divulgada a importância da amamentação, muitas mulheres acabam não amamentando devido a uma serie de situações que, sim, podem ser contornadas e resolvidas.
A seguir, a consultora materna Bia Rangel dá algumas dicas sobre como se preparar para esse momento.
Com a chegada do bebê, o corpo da mãe tem uma queda enorme de alguns hormônios e recebe uma inundação de outros. Isso acontece porque, a partir do nascimento do filho, o corpo dela não precisa mais gerar um bebê, mas, sim, cuidar e alimentá-lo. E por mais fisiológico que a amamentação seja, é um processo novo tanto para a mãe quanto para o bebê. Ou seja, aquele bebezinho precisa aprender a mamar e mãe a amamentar;
Nos primeiros dias, a mãe produzirá o colostro, o "primeiro leite", conhecido como a primeira vacina do bebê devido ao seu grande poder imunológica. A quantidade produzida pelo corpo é pouca, mas é de acordo com a necessidade do bebê, que no primeiro dia possui um estômago que cabe apenas até 7 ml. Nesse primeiro momento, mãe e bebê precisam fazer o encaixe, como uma chave e fechadura, para se encontrarem e se conhecerem;
Entre o 4° a 7° dias, o colostro dará lugar ao leite propriamente dito, e então a mãe passará pela apojadura, o que chamamos de "descida do leite". Novamente uma adequação. E o bebê precisará aprender a realizar uma sucção nutritiva para drenar esse leite que vem em abundância e muitas vezes causa desconfortos a mãe, fazendo a mama ficar endurecida e, consequentemente, dificultar ainda mais o processo. Mas esse momento é crucial e o ajuste da amamentação é necessário para que tudo se desencadeie bem a longo prazo;
Dizer que toda mulher irá sempre produzir a quantidade de leite que o seu bebê precisa é errado, pois de fato existem problemas fisiológicos que podem causar baixa produção de leite mesmo que a mãe faça tudo corretamente, como hipoplasia mamária, cirurgias na mama, questões hormonais e até genéticas. Porém, estima-se que somente entre 10 a 15% das mulheres irão apresentar alguns desses problemas – enquanto a quantidade de mulheres que acreditam que não produzem leite suficiente chega a 90%. Para essas mães, falta o apoio e a informação correta. Na maioria dos casos, a baixa produção de leite acontece devido a amamentação ineficiente. O corpo da mulher é sábio, uma fábrica em que todos os "funcionários" precisam trabalhar corretamente para que a produção fique "em dia". O bebê precisar realizar mamadas eficientes para que o corpo entenda que o leite está saindo, que tem "demanda" para a produção e por isso precisa produzir mais. Quanto mais o bebê mama, mais o corpo irá produzir. E quanto menos o bebê mama, menos o corpo irá produzir. Então, nada de deixar as mamas cheias achando que está com "mais leite". Mama cheia informa ao cérebro que precisa diminuir a produção, pois entende que não há demanda para a sua produção;
Já para aumentar a produção de uma mãe precisamos ajustar as mamadas para que o bebê realize a sucção nutritiva, diminuir os intervalos entre mamadas, oferecer as duas mamas em todas as mamadas e algumas vezes realizar outro tipo de estímulo que pode ser ordenha manual ou com auxílio de uma bomba elétrica - neste último caso, sugiro o acompanhamento de um profissional, pois não aconselho o uso nos primeiros dias de vida do bebê;
É importante que a mãe se alimente bem, beba bastante água, descanse e receba apoio para conseguir realizar a amamentação. Um dos maiores problemas são os palpites que fazem a mãe desacreditar e desistir do processo quando, na verdade, com a ajuda correta, ela poderia conseguir melhorar a sua produção. Caso a mulher suspeite que está com uma produção baixa, o ideal é procurar um auxílio profissional, como um banco de leite ou consultoras que amamentação que irão analisar cada caso;
A alta produção de leite geralmente é confundida com a apojadura, que é quando ocorre a descida do leite. Neste momento, o corpo tende a produzir muito leite, pois ainda não sabe qual será a demanda do bebê. A livre demanda é sempre indicada, mas nos primeiros dias de vida do bebê ele pode apresentar uma sonolência e para ajustarmos essa demanda o bebê precisa realizar mamadas efetivas em curtos intervalos de tempo. Então, nada de deixar ele "dormir demais";
É importante oferecer as duas mamas em todas as mamadas. Quando o bebê não quiser mais mamar, se a mama ainda estiver cheia, a mãe deve realizar a ordenha manual para retirar somente o excesso de leite para o alívio do desconforto. A mulher nunca deve ficar retirando leite até esvaziar a mama. Realizando esse processo, o corpo tende a ajustar a produção de acordo com a demanda do bebê em alguns dias;
A doação de leite é muito importante, pois salva vidas de outros bebês. Caso a mãe tenha esse desejo, ela pode realizar a ordenha da mama ao final de algumas mamadas a fim de estocar este leite para doação;
Na pega correta, o bebê abocanha boa parte da aréola. Então, o mais importante é estar com a aréola maleável para que o bebê possa abocanhá-la. O bico invertido pode aumentar um pouco a dificuldade de realizar a pega e gerar um pouco mais de sensibilidade nos primeiros dias, mas na maioria dos casos, realizando o ajuste correto, não interfere no processo de amamentação. Por isso, caso a mulher encontre dificuldades devido ao bico invertido, ela deve buscar uma ajuda profissional, pois um pequeno ajuste pode fazer diferença no sucesso da amamentação;
É preciso desmitificar que a amamentação é um momento de plenitude e felicidade, pois não é. É muito difícil, principalmente no início. Até que todos os ajustes sejam feitos, é uma luta diária, uma superação de limites a cada mamada. Neste primeiro momento, muitas mães podem desistir devido as dificuldades e, nestes casos, ter o apoio e um auxílio profissional fará toda a diferença. Ao longo dos meses a amamentação tende a se ajustar, mas ainda assim, exige muito da mãe. Ela não tem que ser dolorosa fisicamente, muitas mães não suportam amamentar por que estão sentindo dores. E se isso estiver acontecendo, algum ajuste deverá ser feito;
A exaustão da vida materna pode desencadear uma mãe que não gosta de amamentar por que ela acredita que tudo que está sentindo seja por causa da amamentação. Neste caso, ter uma rede de apoio fará toda a diferença, como alguém que possa fica com o bebê por um tempo para a mãe descansar ou até mesmo dar uma volta, alguém que possa atender ao bebê quando ele chorar por outro motivo que não seja fome etc. E quando essa mãe estiver mais descansada, a amamentação se tornará mais leve - e talvez ela perceba que a amamentação não é ruim, mas, sim, a sobrecarga materna;
Um ambiente ideal para uma amamentação no primeiro mês é um local em que a mãe se sinta confortável, pois ela passará muito tempo lá. Deve ser calmo e passar tranquilidade para a mãe conseguir realizar o posicionamento correto, com a coluna apoiada e os pés no chão, se possível utilizar uma almofada de amamentação, e o principal: sem muita gente para ficar interferindo no processo. Nos primeiros momentos, mãe e bebê estão se conhecendo e essa conexão entre os dois é essencial. Com o passar do tempo, a mãe vai começar a sair, ter outras tarefas e aí não existe mais ambiente adequado, o bebê terá que ser alimentado quando sentir fome e não importa onde a mãe esteja, ela vai ter que parar para amamentar. Alguns locais oferecem um espaço para lactação que pode ser usado caso a mãe prefira para ficar mais confortável. Mas mesmo depois do bebê maior, sempre que a mãe estiver em casa, deve dar preferência a ir para o cantinho da amamentação, pois será um local que remeterá a esse momento dos dois e onde a mãe poderá ficar mais atenta aos ajustes corretos da amamentação;
Outra dica fundamental é que a mãe se prepare. Busque informações na gestação com cursos, profissionais qualificados, livros etc. Tudo que passe informações de qualidade referentes a realidade do mundo materno e principalmente amamentação seja fundamental. Ter uma organização na casa, deixar a dispensa abastecida, saber quem irá providenciar a alimentação, quem vai cuidar da casa, quem vai dar suporte com o bebê. E se não tiver esse apoio, procure deixar tudo organizado, comidas congeladas em potinhos individuais, atribua as tarefas ao marido para quando ele estiver em casa. Tenha sua rede de profissionais para quando necessário. Se organize antes do bebê chegar. Não espere ele chegar para perceber que tudo se tornou um caos. Tenha em mente que a amamentação é difícil, não escute opiniões alheias, procure sempre informações de profissionais qualificados e saiba o que você pode fazer caso surjam intercorrências no processo. E, principalmente, o que você não deve fazer.
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